O caminho de volta da mansão Montenegro foi um borrão. As ruas de Nova Esperança passavam pela janela do carro de Clara, mas ela não via nada. A permissão de Dona Helena era uma chave fria e pesada em seu bolso. A chave para sua liberdade.
Ela estacionou na garagem subterrânea do "Condomínio Vista Paraíso", o nome agora soando como uma piada cruel. O paraíso estava perdido há muito tempo.
Quando as portas do elevador se abriram no térreo, ela os viu novamente.
Arthur estava parado perto da entrada, a luz do fim de tarde realçando sua silhueta imponente. Ao seu lado, Isabela segurava a mão de Enzo. Malas estavam no chão ao lado deles.
O coração de Clara, que ela pensava já estar em pedaços, encontrou uma nova maneira de se partir.
—Arthur? O que significa isso?
Sua voz saiu mais fraca do que ela pretendia.
Ele nem sequer a olhou. Seus olhos estavam fixos em algum ponto por cima do ombro dela.
—Isabela e Enzo vão morar aqui por um tempo. O apartamento do andar de cima estava vago.
Isabela deu um passo à frente, um sorriso doce e venenoso nos lábios.
—Nós seremos vizinhas! Não é maravilhoso?
Ela olhou para Clara, depois para Arthur, e então soltou a pergunta, a voz carregada de uma falsa inocência.
—Desculpe, eu não sei como devo me referir a você. A Sra. Montenegro? Ou a imprensa está certa e Arthur não tem esposa?
O ar ficou rarefeito. Cada palavra era um alfinete, cutucando a ferida aberta de Clara.
Clara ignorou Isabela. Seus olhos se fixaram no rosto de mármore de seu marido, buscando qualquer traço de lealdade, de decência. Não encontrou nada. Apenas um frio glacial.
Foi nesse frio que sua decisão se solidificou, transformando-se de desespero em aço.
Ela deu um pequeno sorriso, vazio de qualquer emoção.
—Pode me chamar de Dra. Mendes. O Arthur não tem esposa.
—É o meu prédio. E eu devo a ela. Não seja mesquinha, Clara.
"Mesquinha". A palavra a atingiu. Depois de seis anos de humilhação silenciosa, ela era a mesquinha.
—Eu quero o divórcio, Arthur.
Ela falou com uma clareza que o surpreendeu.
Ele riu, um som seco e sem humor.
—Não seja ridícula.
Em resposta, Clara ergueu a mão esquerda. Lentamente, ela girou a aliança de casamento em seu dedo. O metal, que um dia pareceu uma promessa, agora era apenas um anel de ferro.
O anel deslizou por sua pele, frio e estranho.
Ela o colocou sobre a mesa de centro de mármore.

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