No canto do quarto, em silêncio, Andressa observa Xavier enquanto ele ajusta a gravata diante do espelho, terminando de se arrumar para a conferência. Aquela saída era mais do que apenas uma obrigação profissional; era um esforço calculado para provar à sua família que ele estava completamente dedicado ao trabalho. Xavier percebe o silêncio dela. Terminando de vestir o blazer, ele se aproxima com um olhar mais suave, como se tentasse apaziguar o estresse evidente no ar.
— Não fique assim — diz, com a voz calma, mas distante. — Você sabe que sempre serei realista com você.
Ele se inclina para deixar um beijo breve em sua testa, num gesto que deveria ser reconfortante, mas que só reforça o abismo entre eles. Sem obter nenhuma resposta de Andressa, ele continua.
— À noite, iremos jantar em um dos meus restaurantes preferidos — acrescenta, de forma casual. — Aproveite o dia para ir ao salão e se preparar.
Com isso, ele pega sua pasta e sai do quarto sem olhar para trás, deixando-a sozinha com um sentimento vazio, como alguém que não tinha nenhum valor real em sua vida.
Andressa fica parada ali por alguns segundos, até seu amante desaparecer na porta. Sem perceber, uma lágrima solitária escorre por seu rosto.
— Posso ser muito mais do que uma amante… — sussurra, fixando seus olhos no espelho à sua frente.
Determinada, ela procura por seu celular, guardado na gaveta da mesa de cabeceira. Com as mãos trêmulas, desbloqueia a tela e procura pelo contato de Leonel. Seus dedos hesitam por um segundo antes de apertar o botão de chamada.
— Andressa? — atende Leonel, com surpresa na voz.
— Está muito ocupado agora? — pergunta ela, com voz tremendo, quase imperceptível.
— Não, não estou — responde ele, num tom preocupado. — Aconteceu alguma coisa?
— Eu não estou muito bem — admite. — Será que podemos nos encontrar agora?
— Claro, vou até o seu hotel agora mesmo — oferece prontamente.
— Não! — ela interrompe de imediato. — Não pode vir até aqui. Me passe o seu endereço. Vou até você.
Leonel hesita por um momento, mas concorda.
— Tudo bem, estou te enviando a localização agora mesmo.
O som da notificação chega ao telefone dela e Andressa não perde tempo. Troca de roupa, escolhendo algo provocante que acentue suas curvas, como se o visual pudesse mascarar sua vulnerabilidade. Logo, ela pega um táxi e informa ao motorista o endereço enviado por Leonel.
O trajeto até o bairro é longo, quase cinquenta minutos, mas Andressa não se importa. Xavier só retornaria à noite, o que lhe garantia tempo suficiente para processar suas emoções e aproveitar o momento com Leonel. Ela observa a cidade passar pela janela, perdida em pensamentos, tentando decidir o que exatamente espera daquele encontro.
Quando chega ao prédio onde Leonel mora, ela retoca o batom antes de tocar a campainha. Em poucos segundos, a porta se abre, revelando um homem sorridente.
— Você veio mesmo — diz ele, com o rosto iluminado ao vê-la diante de sua porta.
Sem dizer uma palavra, Andressa avança e o abraça com força, deixando que as lágrimas, antes contidas, finalmente escorram livremente. Leonel fica surpreso, mas logo envolve os braços ao redor dela, acariciando suas costas com suavidade.
Leonel engole seco, claramente impactado pela confissão inesperada. Ele hesita por um momento, como se não soubesse como responder, mas o peso das palavras é inegável.
A lembrança daquela noite volta à mente de ambos, nítida como se tivesse acontecido no dia anterior. Na noite em que se encontraram casualmente no restaurante, Leonel, como um verdadeiro cavalheiro, se ofereceu para deixá-la no hotel. No entanto, quando chegaram à entrada, Andressa sentiu uma onda de impulsividade tomar conta dela. O pensamento de se despedir tão cedo era insuportável.
— Não quer subir? Só para continuar a conversa — sugeriu, tentando soar casual, embora seu coração estivesse disparado.
Ele aceitou o convite e, uma vez no quarto, sentiram uma energia no ambiente, meio incomum. Sem muitas palavras, os dois se aproximaram e o que começou como uma troca de olhares se transformou em um beijo apaixonado. Naquela noite, Andressa se entregou a Leonel. Seus sentimentos, antes escondidos sob a superfície, a revisitaram com força total. Cada momento parecia reacender algo que ela havia enterrado no passado, mas, ao mesmo tempo, trouxe consigo um peso esmagador: a culpa.
Ela não conseguia ignorar que, talvez, se tivesse esperado um pouco mais, as coisas poderiam ter sido diferentes. O gosto de seus lábios e o calor de seus braços a faziam querer mais, mas também a lembravam do que havia perdido — e do que ainda estava presa.
Agora, ali, diante dele, Andressa sente os mesmos sentimentos retornarem com intensidade.
— Bastou uma noite — continua ela, sentindo a voz embargar. — Uma noite para tudo o que eu achava que estava adormecido despertar novamente… com mais força do que jamais imaginei.
Sentindo a sinceridade nas palavras dela, Leonel se aproxima mais um pouco.
— Se tem certeza mesmo do que diz, isso não será um problema, porque eu nunca deixei de te amar — revela, selando seus lábios nos dela.
O beijo é intenso, cheio de paixão e sinceridade, mas, mesmo assim, Andressa não consegue se livrar do peso da culpa que a acompanha. Enquanto os lábios de Leonel encontram os seus, a dúvida a corrói por dentro: O que ele diria se soubesse a verdade sobre a turbulência que domina sua vida atual?
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...