Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira) romance Capítulo 158

Em Nova York, Xavier sai do banho com uma toalha amarrada na cintura, enquanto Andressa organiza as roupas que ele deve usar. O quarto de hotel é luxuoso, com uma decoração moderna e minimalista, mas o ambiente parece carregado pelo nervosismo evidente entre os dois.

— Não acredito que terei que comparecer naquela conferência — diz Xavier, num tom cansado, passando a mão pelos cabelos ainda úmidos.

— Lembre-se de que é para manter as aparências — responde Andressa, num tom compreensivo, mas firme, enquanto escolhe uma gravata para combinar com o terno.

— Sim, eu sei, mas não aguento mais essas coisas — comenta ele, sentando-se na beirada da cama, com os ombros curvados em um gesto de exaustão.

Observando o estresse estampado no rosto do amante, Andressa decide se aproximar. Ela se senta em seu colo com naturalidade, envolvendo o pescoço dele com os braços. Seus olhos encontram os dele e, por alguns segundos, há um silêncio antes que ela fale.

— Se não aguenta mais, por que não acaba com tudo isso? — sugere, num tom leve, tentando convencê-lo com paciência. — Viveríamos tão bem, quem sabe até aqui em Nova York. Poderíamos começar uma nova vida, só nós dois.

Xavier ergue uma sobrancelha, lançando um olhar de desdém.

— Sabe quanto custa a vida em Nova York? — questiona, num tom de sarcasmo.

Não se abalando com a fala, ela sorri, confiante, e desliza os dedos pelo ombro dele.

— Não sei, mas sei que você poderia nos bancar para o resto da vida — provoca, inclinando-se para beijar o pescoço dele. Quando seus lábios estão prestes a tocá-lo, Xavier a empurra com firmeza, mas sem agressividade, fazendo-a desequilibrar e cair no chão.

— Xavier! — Andressa protesta, numa indignação clara em sua expressão enquanto se levanta, alisando o vestido com um gesto irritado.

No entanto, Xavier não dá importância à reação dela. Ele se levanta impaciente, caminhando até a janela do quarto. Com as mãos cruzadas atrás das costas, observa a cidade vibrante à sua frente, a luz do sol reflete em seus olhos com um brilho inquieto.

Enquanto encara a paisagem, seus pensamentos vagam para o passado. Desde muito jovem, ele viveu cercado de luxo e privilégios, experimentando tudo o que o dinheiro podia proporcionar. Mas, aos dezessete anos, sua vida deu uma guinada inesperada. Ele ainda se lembra vividamente do dia em que seu pai revelou, com um sussurro cheio de vergonha, que a família estava à beira da falência.

Aquela notícia o atingiu como um golpe, deixando-o desnorteado. Nos dias que se seguiram, a casa dos Ferraz foi tomada por um clima de desespero. O medo de que os rumores sobre a ruína financeira da família se espalhassem pela alta sociedade era sufocante. Mas o patriarca dos Ferraz, determinado a salvar o nome da família, viu em Joana Alencar uma oportunidade. Sabendo do afeto que Joana nutria por Xavier, ele planejou unir ambos em casamento antes que a família dela descobrisse a verdadeira situação.

Tudo parecia seguir conforme o planejado, até que, um mês antes do casamento, os pais de Joana descobriram a falência dos Ferraz. Indignados, decidiram cancelar o matrimônio. Mas Joana, loucamente apaixonada por Xavier, implorou aos pais que reconsiderassem. Sua devoção era tão intensa que ela estava disposta a tudo para ficar ao lado dele.

Sendo filha única e acostumada a conseguir o que queria, Joana usou sua influência emocional para convencer os pais. Relutantes, eles cederam, mas não sem condições. Propuseram resgatar financeiramente os Ferraz, salvando sua reputação e evitando um escândalo. Em troca, a maioria das ações e empresas ficaria no nome de Joana, garantindo a segurança financeira dela e da família Alencar.

Os Ferraz, sem alternativas, aceitaram. Com o apoio financeiro dos Alencar, reestruturaram seus negócios e evitaram a ruína. Xavier e Joana se casaram em uma cerimônia luxuosa, consolidando a aliança entre as famílias. Ao longo dos anos, o casal expandiu seu patrimônio e garantiu um lugar entre os mais influentes da alta sociedade.

— Cale a boca! — ordena, agora num tom mais alto e afiado. — Você não sabe o que está dizendo! Não ouse falar do meu casamento como se entendesse!

Andressa dá um passo para trás, surpresa pela explosão de fúria, mas não recua completamente. Ela não sabia — não podia saber — o verdadeiro motivo que mantinha Xavier preso àquele casamento. Para ela, ele era o “todo-poderoso”, dono de tudo, alguém que nunca precisaria se submeter a ninguém.

Querendo encerrar o assunto de uma vez por todas, ele se aproxima mais e a encara com um olhar sombrio.

— Já te disse antes, Andressa, mas repetirei: mesmo que eu me separe da minha esposa, jamais te levarei a sério. — Sua voz é cortante e cruel. — Você não pertence ao meu mundo. Nunca pertenceu. E eu jamais te apresentaria como minha esposa.

Andressa o encara, com os olhos arregalados, incapaz de dar alguma resposta para aquilo que acaba de ouvir. Enquanto isso, Xavier dá um passo ainda mais próximo, como se quisesse garantir que cada palavra fosse gravada em sua mente.

— Se coloque no seu lugar — continua, num tom mais baixo. — Você deveria estar agradecida por ser a amante de um homem como eu, alguém que te tirou da vida medíocre de onde você veio. Aceite isso. É o máximo que terá.

As palavras dele a cortam como uma lâmina afiada, atingindo sua dignidade com uma força imensa. Ela tenta manter a compostura, mas sente um nó na garganta e as lágrimas ameaçam cair. Por outro lado, Xavier não demonstra arrependimento, apenas uma frieza que reflete o abismo entre os dois.

Em silêncio, ela desvia o olhar, mordendo o lábio com força na tentativa de conter a dor que pulsa em seu peito. Aquele instante é um lembrete cruel e inescapável do lugar insignificante que ocupa na vida dele — e do qual, talvez, jamais sairá, a menos que tome uma atitude decisiva e rápida.

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