Os dias passam e a saúde da avó de Marina apresenta uma recuperação surpreendente. Com a melhora da idosa, José e Daniela decidem voltar para casa, deixando Marina como responsável pelos cuidados da avó. Marina propôs ficar não apenas pelo carinho e apreço que sentia pela idosa, mas também com outro motivo em mente: Victor.
Ela sabia que, se retornasse à cidade onde vivia, o risco de alguém que não deveria vê-los juntos aumentaria progressivamente. Todos os finais de semana, Victor viaja até onde Marina está, dedicando cada momento à companhia dela. Seus encontros são intensos e envolvidos de paixão, com os dois aproveitando o tempo como se o mundo ao redor não existisse. Entre conversas ao pé da cama, jantares simples, mas cheios de significado, e tardes ensolaradas ao lado da avó de Marina, eles encontram um ritmo só deles. É uma rotina que traz um equilíbrio improvável às vidas tão diferentes que levam fora daquele espaço seguro.
Com o tempo, Xavier também retorna para casa após semanas fora, trazendo consigo uma feição cansada e o discurso de quem trabalhou intensamente durante a conferência, mas apesar disso, Joana não o deixa descansar nem por um minuto. Ansiosa, ela aproveita a primeira oportunidade para compartilhar as novidades sobre o filho mais novo.
— Uma namorada? — questiona Xavier, deitado na cama ao lado da esposa, erguendo as sobrancelhas com surpresa.
— Sim! — confirma, animada. — Ele disse ser uma moça decente e está pensando em levar o relacionamento a sério.
Xavier se ajeita no travesseiro, interessado.
— E qual o nome dela? — pergunta, curioso.
— Você sabe como o Victor é. Ele não dá muitos detalhes das coisas. Apenas disse que, se quisermos conhecê-la, é só organizar um jantar aqui em casa — explica.
Refletindo por um momento, Xavier sorri.
— Que bom que ele decidiu seguir em frente.
Joana concorda, mas sua animação logo é substituída por um ar de desdém.
— Sim, você nem sabe o quanto estou feliz com isso. Achei que ele ficaria com aquela vagabunda na cabeça para sempre. — Sua expressão se contorce em uma careta de nojo. — Não imagina o peso que estou tirando da minha mente agora.
Xavier assente, mas mantém o silêncio, com medo de que a esposa comece um assunto desagradável.
— Agora que você chegou, já posso marcar o jantar. O que acha?
O esposo assente, já se levantando da cama.
— Claro, marque logo isso. Estou curioso para conhecer essa mulher de quem ele fala. — Sua voz tem um toque de interesse genuíno.
— Aonde vai? — pergunta Joana, intrigada.
— Vou comer algo — responde ele, já caminhando em direção à porta.
— Diz o que você quer, peço que os empregados tragam para você.
Ele balança a cabeça enquanto ajeita o roupão.
— Não precisa, quero esticar as pernas um pouco.
Descendo até a cozinha, Xavier caminha pelo corredor silencioso da casa. Ao virar um corredor, acaba esbarrando com Victor, que acabava de chegar.
— Boa noite, filho — saúda-o, com um sorriso que tenta parecer acolhedor. Victor, por outro lado, mantém o rosto sério.
— Já chegou? — pergunta, quase surpreso. — Achei que ficaria fora por mais tempo.
Despreocupado, Xavier dá de ombros.
— A conferência já acabou — revela.
Cruzando os braços, Victor assume uma postura defensiva.
— Então, parece que não preciso mais ficar nesta casa fazendo companhia para a minha mãe.
Franzindo o cenho, o semblante de Xavier fica sério.
Mas recebe como resposta uma risada curta e seca do filho.
— O que queria que eu fizesse? — dispara com ironia. — Ficar parado, preso no passado, remoendo cada golpe que levei?
— Não estou dizendo isso. Só acho que não deveria colocar toda a sua raiva em mim. Aquela mulher… ela também te machucou.
Dando um passo à frente, Victor encara o pai com frieza.
— Não se preocupe. O meu desprezo por ela é mais do que suficiente — diz ele. — Mas, ao contrário de você, ela não era alguém que eu deveria admirar. Não era alguém que deveria ser meu exemplo. Por isso, o que sinto por você é muito pior.
Xavier fica em silêncio, claramente abalado pelas palavras do filho. Ele tenta responder, mas Victor já vira as costas novamente, encerrando a conversa com um ar definitivo.
— Boa noite — diz Victor, sem olhar para trás, enquanto caminha em direção ao quarto, deixando Xavier sozinho, consumido por um misto de culpa e impotência.
Enquanto vê o filho ir de volta para o quarto, Xavier é consumido por pensamentos pesados. A culpa o corrói ao notar os olhos do filho, cheios de decepção e desprezo. Ele sente um nó no estômago, sabendo que a relação com ele está irremediavelmente abalada. Aquele olhar parece uma sentença: jamais obteria novamente sua afeição.
Suspirando profundamente, tenta afastar o desconforto. Mas a realidade é incompreensível. Ele reconhece que perdeu algo valioso, mas, em vez de enfrentar as consequências com dignidade, decide traçar um caminho de sobrevivência.
“Se não posso recuperar meu filho mais novo, ao menos não vou perder Rodrigo e Joana”, pensa, olhando para um ponto fixo distante. Sua esposa, afinal, era a peça central de sua vida. Sem ela, não seria mais o homem respeitado que aparentava ser; seria apenas um homem comum, sem dinheiro, sem reputação e sem o poder que tanto prezava.
Ao voltar ao quarto, Xavier se senta na beira da cama, esfregando as mãos no rosto. Ele decide ali, no silêncio da noite: manter sua vida dupla, mas com mais discrição. Não permitiria que deslizes como os que aconteceram continuassem ameaçando o pouco que ainda tinha. Se precisava fingir arrependimento para manter Joana ao seu lado e preservar a harmonia, assim o faria.
“É o preço que preciso pagar”, pensa, resignado.
Assim, se aproxima da esposa que parece estar dormindo, beija o seu pescoço e sussurra em seu ouvido:
— Estava com saudades de você, querida, venha aqui, pois preciso matar todo o desejo reprimido que guardei.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...