Já é madrugada quando Victor estaciona o carro em frente ao Cemitério Jardim da Eternidade, um lugar reservado exclusivamente para sepulturas de pessoas da alta sociedade. A entrada imponente, com portões de ferro ornamentados e uma fachada de mármore iluminada por luzes discretas, exala um ar de exclusividade e sobriedade.
Victor desliga o motor e, com um gesto firme, indica para Marina que desça do carro. Ela hesita por um instante, mas obedece, saindo para o ar frio da madrugada.
— Vamos — diz ele, sem muita cerimônia, caminhando na direção do portão principal.
Marina o segue, envolvendo os braços ao redor do corpo em busca de algum conforto contra a brisa gélida que atravessa o local. O caminho que percorrem, pavimentado com pedras antigas e contornado por ciprestes altos, é pouco iluminado, criando sombras inquietantes que parecem se mover com o vento.
Marina sente um arrepio percorrer sua espinha, uma sensação incômoda que a faz olhar ao redor, quase esperando ver algo que não deveria estar ali.
— Não gosto de cemitérios… — murmura baixinho, mais para si mesma do que para Victor.
Ele, porém, escuta e lança um olhar breve para ela.
— Ninguém gosta, loirinha. Ainda mais a essa hora — responde, com seu tom direto, mas não desprovido de compreensão.
Cada passo que dão parece ecoar no silêncio do local, intensificando a atmosfera sombria. Marina respira fundo, tentando se acalmar, mas o cenário é tudo menos reconfortante. Estar em um cemitério em plena madrugada definitivamente não fazia parte de seus planos para aquela noite.
Seu pai sempre lhe dizia ser dos vivos, e não dos mortos, que ela devia ter medo. No entanto, naquele momento e naquela situação, ela não podia deixar de questionar se José, com toda a sua convicção habitual, manteria essa mesma certeza caso estivesse enfrentando o que ela estava vivendo agora.
Enquanto caminham, o ar parece mais pesado e ela não consegue evitar o pensamento de que há algo profundamente desconfortável naquele lugar. Apesar disso, segue ao lado de Victor, determinada a apoiá-lo, mesmo que seu coração bata acelerado a cada passo que dão em direção ao que os espera.
Após alguns minutos caminhando pelo cemitério silencioso, Victor e Marina avistam três silhuetas destacando-se contra a fraca iluminação: Rodrigo, Joana e Valentina. O cenário é, sem dúvida, tenso, mas algo inusitado chama a atenção de Marina. Ao ver Joana, com seu vestido elegante e brilhoso, agachada no meio do cemitério, ela não consegue evitar que sua mente a associe a uma cena de filme, como a de uma noiva cadáver.
Uma breve risada ameaça escapar de seus lábios, o tipo de reação nervosa que surge em momentos inapropriados. Mas Marina reprime o impulso imediatamente, como se sua vida dependesse disso. Apertando os lábios com força para manter a seriedade, continua com a expressão séria.
Conforme se aproximam, o som de choros e lamentos quebra o silêncio mórbido ao redor. Joana está prostrada sob a lápide do pai, seu rosto está escondido entre as mãos enquanto as lágrimas escorrem sem controle. Suas palavras, ainda que fragmentadas, são cheias de dor e mágoa, ecoando entre os túmulos.
— Por quê, pai? Por que eu não te ouvi? — lamenta Joana, com a voz entrecortada.
Embora Victor muitas vezes demonstrasse dureza e insensibilidade, desafiando abertamente a mãe ou contrariando suas opiniões, havia um amor genuíno que ele sentia por Joana, algo que nem sempre sabia como expressar. Porém, naquele momento, ao vê-la tão fragilizada e desamparada, ele sentia o peso do arrependimento por ter sido tão direto em suas ações.
Ele percebe que, em sua pressa para expor as verdades e resolver as questões familiares, negligenciou o impacto emocional que tudo isso teria sobre a mãe. Ela, que sempre foi uma figura forte e imponente, agora parecia quebrada, sufocada pelas revelações e pela dor. Essa visão o desarma de forma que nenhuma discussão ou confronto havia conseguido antes.
“Eu deveria ter pensado mais nela… deveria ter previsto isso”, reflete, enquanto observa a mãe, ajoelhada diante da lápide, tentando encontrar consolo em meio ao caos que sua vida se tornara.
Mesmo sem dizer nada, sente a necessidade de estar ali para a mãe, de encontrar uma forma de mostrar que, apesar de sua postura fria e calculista, ele a amava profundamente e não suportava vê-la naquele estado.
Lentamente, ele se aproxima da mãe, com passos silenciosos. Quando chega perto o suficiente, ele toca de leve o ombro dela, um gesto pequeno, mas numa tentativa de conforto.
Joana, até então absorta em sua dor, ergue o olhar e percebe o filho mais novo ao seu lado. Seus olhos, ainda vermelhos e lacrimejados, encontram os de Victor, e por um momento, um brilho de alívio passa por seu rosto. No entanto, quando sua atenção se volta para Marina, que está logo atrás dele, algo muda. O semblante de Joana endurece, e seus olhos, antes apenas tristes, agora refletem uma mistura de indignação e desprezo.
— O que essa insignificante está fazendo aqui? — ela dispara, cuspindo as palavras com um tom mais gélido que aquela madrugada.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira)
Muito chateada comprei as moedas , desconta mas não desbloqueia os capítulos, alguém sabe me dizer se o site é sério?...