Um chefe irritante e irresistível (Celia Oliveira) romance Capítulo 227

Deitado em sua cama, Victor fixa os olhos no teto, mas sua mente está longe dali, presa ao que leu no quarto de Marina. O plano de defesa que ela estava traçando era brilhante, cada ponto meticulosamente estruturado, algo que ele não esperava de alguém com nenhuma experiência no tribunal. Ela havia encontrado brechas que podiam muito bem virar o jogo e fazer com que a sentença pendesse para o lado dela.

Mas, se isso acontecesse, ele perderia o caso. Seria o primeiro de sua carreira impecável, e o peso disso seria esmagador. Victor sabia como o mundo da advocacia era cruel; bastava um deslize para que os sussurros e críticas começassem. E perder para Marina, uma advogada iniciante, seria o suficiente para transformar sua reputação em motivo de questionamento.

O conflito em sua mente era implacável. Por um lado, admirava o talento de Marina e sentia orgulho dela, mas, por outro, seu ego profissional e a responsabilidade para com seu cliente o atormentavam. Era mais do que uma questão de vitória ou derrota; era um embate entre seus sentimentos por Marina e a necessidade de proteger sua imagem e sua carreira.

— Como diabos vou equilibrar isso? — murmura, sentindo o peso da guerra moral que se iniciava em sua cabeça. Sabia que, no tribunal, precisaria dar o seu melhor, mas se perguntava se estava realmente preparado para enfrentar as consequências, não apenas profissionais, mas também pessoais, que essa batalha poderia trazer.

O segundo dia de julgamento começa, e Marina se levanta para apresentar sua defesa com uma postura confiante. Cada palavra que ela expõe é clara e incisiva, demonstrando o domínio que tinha sobre o caso. Victor, sentado ao lado de Otávio Mendes, observa em silêncio. Tudo o que ela apresenta já está gravado em sua mente — ele sabia exatamente onde Marina queria chegar.

Quando chega sua vez, ele se levanta com a habitual segurança que o caracteriza, mas, ao sentir o peso do olhar de Marina sobre ele, algo dentro de si hesita. Ela o observa com olhos firmes, sem desviar, como se estivesse desafiando não apenas sua habilidade como advogado, mas também sua moralidade.

Enquanto fala, a culpa começa a tomar conta. Ele lembra do momento na noite anterior, quando leu os papéis dela sem consentimento. Embora não tivesse usado diretamente as informações, o fato de tê-las lido o fazia sentir que estava jogando sujo. Não era apenas uma questão de estratégia, mas de ética — algo que sempre prezou em sua carreira.

Victor pausa por um breve instante, o suficiente para perceber o conflito em seu peito. “Se eu vencer esse caso dessa forma, estarei traindo mais do que a confiança dela… estarei traindo a mim mesmo,” pensa, sentindo o peso de suas próprias ações.

Ele retoma a fala, mas agora com uma firmeza diferente, mais contida. Por fora, mantinha a compostura que sempre o caracterizou no tribunal, mas, por dentro, a guerra moral entre seu dever profissional e sua relação com Marina continuava a corroer sua confiança. Ele sabia que aquele julgamento era muito mais do que uma disputa jurídica; era um teste de quem ele realmente era — como advogado e como homem. Por isso, decide firmemente não usar nada do que descobriu ao ler os papéis de Marina sem consentimento. Para ele, vencer dessa forma não apenas mancharia sua integridade profissional, mas também corroeria a base de confiança que havia construído com ela. “Se vou ganhar, que seja por mérito, não por traição,” pensa, ajustando a postura.

O julgamento entra em sua etapa final, e as conclusões das partes são apresentadas. Marina é a primeira a falar.

— Meritíssimo, este caso vai além de leis e regulamentos; trata-se de ética e justiça. Dona Valquíria, uma mulher humilde e dedicada, confiou na AgroTech ao apresentar suas ideias. No entanto, suas contribuições foram usadas sem o devido reconhecimento.

Ela destaca as provas apresentadas, como as horas extras realizadas após a visita de Dona Valquíria, indicando que suas ideias influenciaram diretamente o desenvolvimento do protótipo.

— Peço que este tribunal olhe além da burocracia e reconheça o verdadeiro mérito deste caso: valorizar quem de fato merece. Dona Valquíria só busca justiça, nada mais.

Com essa fala, Marina encerra sua conclusão, transmitindo emoção e confiança.

Marina respira fundo ao sair do tribunal, tentando conter a mistura de nervosismo e frustração que sente. Apesar de ter conseguido expor pontos importantes, ela sabia que Victor havia desestabilizado o depoimento de Lucas, colocando em dúvida uma peça fundamental de sua estratégia.

Enquanto isso, Victor reflete sobre o impacto de suas ações. Embora confiante de que conseguiu enfraquecer a narrativa de Marina, uma parte de si não pode deixar de pensar no quanto aquele julgamento havia se tornado mais do que apenas um trabalho. A presença de Marina do outro lado o afetava de um jeito que ele jamais imaginou.

Quando o julgamento está prestes a recomeçar, Marina caminha em direção ao tribunal com passos firmes, mas ao chegar à porta, encontra Victor já parado ali. Ele a encara com uma expressão séria, quase impassível, enquanto ela devolve o olhar, mantendo a mesma intensidade.

Naquele instante, parecia que todo o acordo de manterem a relação fora do trabalho havia desaparecido. O clima entre os dois era de tensão, e, por alguns segundos, nenhum deles diz uma palavra. Ambos sabiam que ali, naquele momento, não eram namorados, mas adversários defendendo lados opostos de uma batalha judicial.

Sem trocar palavras, Marina desvia o olhar e entra no tribunal, indo diretamente para o banco da parte acusadora. Ela se senta ao lado de Dona Valquíria, que lhe dá um sorriso tímido e apertado, visivelmente nervosa. Marina coloca a mão sobre a dela, em um gesto de apoio silencioso, enquanto revisa rapidamente suas anotações.

Victor, por sua vez, entra em seguida e caminha até a mesa da defesa. Sentando-se ao lado de Otávio Mendes, mantém sua postura impecável, ignorando os olhares que recebia de algumas pessoas no tribunal. Ele cruza os braços, mantendo o semblante frio e calculista, como se estivesse perfeitamente confortável naquela situação.

Poucos minutos depois, o juiz entra na sala. Todos se levantam em respeito, e o murmúrio que havia preenchido o espaço desaparece instantaneamente. O nervosismo de todos estava visível, enquanto cada olhar se voltava para o juiz, que assume sua posição.

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