Eu realmente acho que não tenho vocação para casar. Se é que existe alguma espécie de vocação para isso.
Era decoração para festa para arrumar, era me preocupar com vestido para comprar, era minha vó querendo marcar um dia para ir em São Paulo para me ajudar a comprar um enxoval. Era Fernanda falando que não podia ser vestido longo, era eu dizendo que a família de Seth era tradicional. Era, no fim, ninguém ouvindo uma palavra do que eu falava. Pareciam perguntar só por perguntar, por que no fim eles decidiam por conta própria.
Não gostava que decidissem por mim, mas abri mão de decidir pelo noivado, pois realmente não deixaria que ninguém colocasse um dedo de opinião quando fosse o casamento. Que as pessoas se sentissem felizes e comprazidas me ajudando na escolha do noivado, mas eu não deixaria que o mesmo acontecesse no casamento. Eu também tinha minhas próprias opiniões e eu realmente queria as colocar em prática durante o casamento. O noivado eu relevava, mas o casamento não.
Ainda assim, cansada era pouco para como eu estava me sentindo naquele momento. Parecia que o dia não passava nunca e toda hora vinha minha mãe ou minha vó perguntando se eu queria que o bolo tivesse detalhes em dourado ou em prata e eu só sentia a minha cabeça estourar! Eu queria, na verdade, era aproveitar o pouco tempo que restava para que Seth ficasse no Brasil! Logo ele voltaria e a saudade ficaria! Caramba! Será que alguém poderia levar a minha opinião em conta? Será que eu poderia voltar para os braços quentes de Seth e por ali ficar?
No fim, acabaram decidindo por detalhes em dourado para transparecer mais no bolo. Eu apenas dei de ombros, já que minha opinião não andava valendo aquelas coisas naquele dia. O único momento do dia que eu pude decidir por mim foi na hora da escolha do vestido que eu já fui falando antes que alguém falasse algo para a dona da loja:
— Eu quero um vestido longo e sem muitos decotes. A cor que a senhora tiver. — E a mulher concordou enquanto me levava para a sessão dos vestidos.
Havia muitos vestidos e ali começou a dor de cabeça novamente.
— Que tal esse, Ag? — Perguntava Fernanda segurando um vestido azul caneta longo com uma fenda gigantesca na perna.
— Acho que esse é melhor. — E ali vinha minha vó com um vestido bege! Bege! E que era tão fechado que as mulheres do oriente sentiriam orgulho da minha vó ao ver aquele vestido sufocante.
— Eu gostei desse. — E ali estava minha mãe segurando um vestido vermelho longo que até que era bonito, mas tinha mais cara da minha mãe do que de mim mesma.
— Acho que a Ag que tem que decidir. — Disse Sophia e eu quase agradeci aos céus por ter uma irmã tão compreensiva assim! Quase abracei minha irmã e fiquei de joelhos agradecendo ela enquanto suspirava diante de tantas pessoas falando tantas coisas e passava a analisar os modelos que haviam ali.
Quando então meus olhos bateram num vestido que me deixou sem ar e, por alguma razão, ou talvez, com toda razão, os meus pensamentos voaram para quando Seth falava das estrelas para mim e compartilhávamos também nossos sentimentos naquela noite depois do aniversário dele. Paralisei.
O vestido era de um azul escuro e tinha um brilho prateado por sob todo ele que parecia fazer lembrar pontilhados de estrelas sobre o céu escuro. Acima do tomara que caia havia uma renda azul escura na qual havia discretamente o formato de uma estrela e uma lua. O vestido ia até os pés e era lindo. Maravilhoso. Fiquei o contemplando sem piscar e quando dei por mim, falei:
— É esse. Pode só fazer os ajustes. — E as mulheres começaram a falar que o vestido não combinava com um noivado, ou que não ficaria bem em mim, ou que era muito longo ou outras coisas que eu não queria e nem sequer ouvia. Eu só tinha olhos para o vestido. E não me preocuparia mais com o que os outros iam achar ou decidir. Já estava feliz demais com o achado que eu tivera. Eu era eu novamente.
Aos poucos voltando ao meu estado de corajosa, como sempre fui.
Sorri.
*
A arrumação no sítio ocorreu conforme o esperado, ainda que todos estivessem rindo de Seth, pois ele realmente fugiu do trabalho. No entanto, quando me aproximei de Seth, percebi que era coisa séria, já que ele estava numa ligação interurbana com o pai dele.
— Não pai, tudo bem. Uma semana estarei de volta. Não se preocupe. — E ele parecia muito sério enquanto falava: — Não se preocupe. Eu vou ver. Eu vi que as contas da Mansão de Inverno estão modificadas. Por enquanto o transfira para outra repartição. Eu cuido disso quando voltar. Até mais. Benção pai. — E ele desligou enquanto soltava um bufar alto e voltava seus olhos para mim.
— Algum problema? — Perguntei realmente preocupada. Seth mexeu o pescoço estalando o que parecia ser um estado completo de estresse e me respondia:
— O cara que te disse da última vez. Meu pai acha que não é só uma besteira que ele andou fazendo. — Concordei e esperei que Seth continuasse a falar: — Vou ter que voltar mais cedo do que planejei, amira. — E Seth realmente parecia não gostar dessa opção, tal como eu também não gostava.
— Então vamos aproveitar enquanto dá para ficarmos juntos nesses últimos dias que temos antes de Você viajar, Seth. — E ele concordou lançando-me um largo sorriso.
— Vamos então. — E então decidimos nos aprontar para a festa de noivado que nos esperava.
Tivemos que gastar uma quantia boa para fazer com que tudo ficasse pronto em menos de oito horas, mas no fim as coisas deram certo. Fernanda me ajudou escovando o meu cabelo e deixando-o mais liso, ainda que as pontas tivessem levemente cacheadas. Coloquei o vestido que eu achei e ainda achava lindo e novamente Fernanda me ajudou com a maquiagem. Ela realmente era uma amiga e tanto no quesito arrumação. No fim, eu, ela e Sophia tiramos uma foto juntas e Fer prometeu revelar e dar uma para cada uma de nós. Estávamos lindas.
Fer estava usando um vestido preto com uma fenda que vinha do tornozelo até mais que a metade da coxa e Sophia estava usando um vestido roxo lindo que muito combinava com ela. Minha mãe estava usando o vestido vermelho que muito tinha sido a cara dela e minha vó o vestido bege que acabou ficando para ela mesmo, embora nem nela eu achara que tivesse ficado tão bonito.
A música estava tocando pelo sítio e alguns dos meus tios estavam ainda fazendo churrasco para ser servido com o bolo. Uma combinação bastante inusitada para a minha opinião. Eu já comecei a ficar preocupada que talvez tivesse que comprar o vestido de muitas primas que estavam ali, pois algumas realmente estavam abusando no corte, mais até do que Fernanda estava abusando. Eu não sabia o que dizer, mas contanto que eu evitasse que a família de Seth me odiasse pelo resto da vida, eu tentaria evitar.
E quando parei de olhar para as primas, como uma ilusão, pude contemplar Seth. Ele estava usando um terno escuro Armani e a barba emoldurava o rosto numa visão deveras perfeita. O cabelo estava penteado e levemente molhado e os cílios pareciam ainda mais grossos sob os olhos divinos. Ele também estava usando um relógio rolex e andava com um sorriso presunçoso na minha direção. Acabei parando de andar, esperando que ele viesse na minha direção, pois eu estava realmente sem palavras.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Um Sheikh no Brasil
Maravilhoso, amei a história. Parabéns a autora, soube prender minha atenção com comedia, ação, drama e romance na medida certa....