A Babá Perfeita romance Capítulo 10

Não é uma grande surpresa que o lugar sobre o qual Evie falou seja o shopping. A surpresa, na verdade, é ter Judith nos acompanhando, enquanto Abigail fica em casa cuidando de Maisy. Ela concluiu que se era por uma boa causa, ou seja, a reformulação total do meu jeito de me vestir no trabalho, não havia problema algum em eu me ausentar.

Isso me faz perceber que a única vez em que me vesti com o mínimo de capricho foi no dia da entrevista. Depois disso, foi só ladeira abaixo.

Nós entramos e saímos de dezenas de lojas, procurando por aquilo que Judith e Evie consideram mais adequado ao meu novo cargo. Após algum tempo, percebo, admirada, que até que estou gostando. Do passeio e da companhia. Judith é alegre e extrovertida, e também muito observadora.  E Evie, bom, Evie é ela mesma, a pestinha mais atrevida que já vi em toda a minha vida.

Quando paramos na praça de alimentação para um lanche rápido, nós três pedimos  hambúrgueres que devoramos em segundos. Depois disso, compramos casquinhas para comer enquanto continuamos a tarde de compras das meninas. 

- Judith, você sabe se o Sr Lancaster já tomou alguma providência sobre o estranho perto da casa? - eu pergunto, curiosa.

Seus olhos castanho escuros se arregalam. Eu fico com pena e me arrependo de ter levantado o assunto. A tarde está agradável demais para desperdiçá-la com uma bobagem dessa. Da minha parte, eu acho que houve alarde demais por uma coisa mínima. Agora com a cabeça fria, consigo enxergar claramente isso.

- Sim. Parece que teremos um novo segurança e não vai ser qualquer um - esclarece em voz baixa para que Evie, um pouquinho a nossa frente, não nos ouça. Por ordem direta do Sr Lancaster ficamos proibidos de comentar esse assunto na frente das crianças, o que me parece até razoável. 

- Como assim "não vai ser qualquer um"?

Ela dá de ombros, dando sua última mordida na casquinha de sorvete antes de se limpar com o guardanapo.

- Alguém das forças armadas. Um ex fuzileiro, sei lá. Que sujeira eu fiz, santa madre!

- Você está brincando, né? - eu olho para ela, com um sorriso incrédulo.

Judith me olha de volta, ainda mais perplexa do que eu.

- Não, menina. Por díos. O patrão ficou louco quando recebeu o seu recado. Meg, minha amiga, é a sua secretária. Foi ela mesma quem me indicou para trabalhar na mansão - revela, abaixando a voz quando percebe que Evie está nos olhando. - Disse que ele ficou transtornado. Saiu da reunião e voou para casa como um furacão.

Eu franzo a testa. Max Lancaster não me parece o tipo de homem que se preocupa  sem um bom motivo. Nem que abandona uma reunião por uma ameaça de invasão que não deu em nada. Tudo isso é muito estranho. 

-  E você acha que é para tanto? Quer dizer, não deve ser nada grave - eu digo, abrindo minha bolsa para verificar uma ligação perdida no celular. É Mallory. Ela já ligou umas trinta vezes hoje, até para comentar sobre o clima. Mas o motivo principal é que ela quer que eu vá a uma festa no final da semana. Acha que estou perdendo meu tempo com esse emprego.

- Um homem estranho rondando os muros da casa? - Judith levanta as sobrancelhas - Ouça, uma vez tivemos uma tentativa de invasão. Não aconteceu nada, ninguém se machucou, nada foi roubado. Mas o patrão ficou muito preocupado. Instalou câmeras de segurança por toda parte e contratou a equipe de segurança que temos agora.

- Eu não sabia - digo, surpresa. - Isso foi há quanto tempo?

- Há cerca de um ano ou menos. A verdade é que é um casarão e chama muita atenção. Mas a vizinhança costumava ser tranquila. Bom, você sabe, as coisas mudam - ela dá de ombros. - Hoje o perigo está por toda a parte.

- Olha isso, eu achei a loja perfeita para a Chloe! - Evie grita, apontando uma loja enorme e de aparência cara, mais adiante. Meus olhos quase sangram enquanto eu observo os manequins nas vitrines. Ah merda, meu salário não vai ser suficiente nem para passar na porta.

Judith e eu nos entreolhamos. Ela sorri, condescendente, enquanto acaricia o cabelo da menina.

- Ah, vamos só olhar, Chloezita! - ela pede, batendo seus cílios escuros docemente.

 Eu dou de ombros, suspirando. Certo, não custa nada olhar. Mesmo que eu não vá comprar absolutamente nada.

Animada por ter conseguido o que queria, Evie segue saltitando para o interior da loja, conosco em seu encalço.

**

Judith estava certa. Quando chegamos a mansão, um pouco depois de anoitecer, um rosto diferente nos aguarda no portão de entrada.

O homem não deve ter mais do que trinta anos. É negro, bastante musculoso, perto de um e oitenta de altura. Os cabelos escuros foram cortados bem curtos no estilo militar, o que me faz lembrar da afirmação de Judith sobre ele ter pertencido as forças armadas. 

O novo segurança nos examina com olhos afiados, quando Javier se aproxima do portão com o carro.

- Estamos autorizados  - o marido de Judith avisa pela janela da frente, e o homem assente em silêncio, autorizando nossa passagem com um único gesto para o porteiro.

- Credo, vai ser sempre assim? - Judith reclama, apertando a bochecha de Evie, que revira os olhos sentada entre nós duas no banco de trás. Caramba, como ela mima essa menina! Às vezes, eu acho que nem percebe o que está fazendo. 

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