A Babá Perfeita romance Capítulo 9

Estou prestes a bater na porta do quarto, quando escuto a voz de Evie do outro lado e me detenho. Ela está contando uma história para Maisy. Branca de Neve e os Sete Anões.

Encosto o ouvido na porta, com um suspiro triste. Está perto do fim, quando o príncipe encontra a princesa e dá nela o beijo do amor verdadeiro. Minha mãe costumava me contar essa história quando eu era pequena. Era com certeza uma das minhas preferidas. Depois que ela se foi, os contos de fadas deixaram de existir e a minha realidade, com certeza, se tornou muito menos colorida, muito mais cinza.

Espero Evie concluir a história, então dou duas batidinhas na porta e entro. Maisy está deitada na cama para o seu cochilo depois do almoço. Ainda está acordada, mas seus olhos já estão pesados e não vai demorar muito até que adormeça. Evie está sentada ao seu lado com um livro grande e pesado. A capa dura mostra ilustrações de diversos contos de fadas misturados. Eu tive um livro parecido quando pequena e olhar para este faz uma emoção vir a tona, uma já bem esquecida, que eu não revisito há muito tempo. 

Eu olho para as duas ali e penso que, apesar de não terem a mãe, elas pelo menos têm uma a outra. Não pela primeira vez, eu penso em como seria ter uma irmã. Alguém para conversar desabafar e compartilhar momentos importantes como aquele.

- Maisy não consegue dormir sem uma história - Evie esclarece, me arrancando dos meus devaneios. Ela fecha o livro com um suspiro pesado. - Eu sempre leio uma depois do almoço. E outra antes de dormir. O que você quer?

- Preciso falar com você.

Ela se levanta da cama e vem até mim com passos pequenos, mas firmes e decididos. Seus longos cabelos castanhos estão presos em um rabo de cavalo lateral, assentando sobre o ombro. Ela está usando um longo vestido rosa claro, que a faz parecer muito mais velha. A contragosto, preciso admitir que tenho uma certa admiração por ela. Evie pode ser uma peste, mas tem uma personalidade e tanto. 

E agora, descubro também que ela é capaz de desempenhar o papel materno quando preciso.

- Você não precisava me defender - ela diz, na defensiva.

- Não precisava mesmo - eu concordo. - Mas eu quis. Eu quis defender você.

- E por que?

Encaro os seus olhos, tão sérios e compenetrados. Entre as duas, ela é a mais parecida com o pai. O que me leva a crer que Maisy tenha puxado a mãe.

- Porque você não esperava por isso e ficou com cara de tonta na mesa do almoço - concluo, com uma expressão que diz 'Te peguei'.

Evie pensa por um instante. Depois, revira os olhos e abre um sorriso que, de tão sincero, me contagia e eu sorrio também.

- Fiquei mesmo.

Decidida a deixar nossas diferenças no passado, eu estendo a minha mão na sua direção. Ela hesita um pouco antes de segurá-la, mas quando faz isso, toda insegurança desaparece e o seu aperto é firme e resoluto.

- Então podemos começar de novo? - pergunto.

Seus olhinhos brilham ao me responder:

- Acho que sim, mas tem uma coisa.

Ah, é claro que tem.

Evie me olha demoradamente, como se houvesse alguma coisa muito errada comigo. Alguma coisa bem séria. Eu não posso nem imaginar o que é, então fico só olhando enquanto ela me analisa com seus olhos azuis super críticos.

- Eu não posso ter uma babá que se veste como uma adolescente pirada.

- Uma adolescente o que? - a surpresa é tanta que eu me engasgo. - De onde você tirou isso?

- Uma camisa maravilhosa do Leatherface, um jeans irado e um all star que, com certeza, já viu muita coisa na vida - suspiro, com orgulho inconfundível na voz.

- Que legal - Evie balança a cabeça, sorridente, antes de fechar a cara. - Eu vejo lixo.

Abro a boca, horrorizada, quando a vejo atirar as peças do outro lado do quarto, junto a um monte de outras que tiveram o mesmo destino trágico. Estamos no quarto de empregados há apenas quinze minutos e Evie já conseguiu condenar absolutamente tudo no meu guarda roupa. Sentada no meio da cama, enquanto eu arranco as peças, uma a uma dos cabides, ela balança a cabeça de um lado para o outro, julgando sem piedade.

O que começou com uma brincadeira divertida para que pudéssemos selar a paz, está começando a me preocupar de verdade. Será que as minhas roupas são mesmo tão horríveis assim? Afinal, que tipo de mulher consegue apavorar uma garotinha de nove anos pelo próprio closet imaturo.

- Nossa, você é cruel!

- Faz parte do negócio de personal stylist - ela sorri, com expressão animada. Acho que nunca a vi tão alegre, nem mesmo tão espontânea. - Eu vi no The Runway. Olha, essa blusa até que é decente...

Surpresa, eu vejo a blusa branca que usei na minha entrevista de emprego com Abigail semanas antes. Levanto as sobrancelhas, lembrando que, decente ou não, ela não me garantiu aquele emprego.

- Certo, precisamos comprar roupas para você - Evie decide, saltando da cama para o chão. - Esteja pronta em dez minutos. E, pelo amor de Deus, tira essa camisa suja, mulher!

Eu me viro, confusa, vendo Evie sair pela porta. Vou atrás dela e quase escorrego e um monte de sutiãs espalhados no chão.

- Ei, aonde nós vamos?

- No lugar perfeito para salvar sua vida - ela grita antes de desaparecer no corredor.