A Babá Perfeita romance Capítulo 5

Só três dias depois, eu tenho alta do hospital.

Meu pai vai me buscar, transbordando felicidade e, para o meu alívio, ele me leva direto para casa. Para a nossa casa. Que saudade eu senti do quarto, das minhas coisas, da minha cama! A primeira coisa que faço é me deitar sobre ela, com cuidado por causa da bota, e admirar os meus posteres espalhados pelas paredes.

A noite, meu pai tenta preparar o ensopado de carne, receita da vovó. Eu fico sentada na mesa da cozinha, assistindo ele brigar com o forno enquanto queima a comida. Não poderia ser mais perfeito.

Meu telefone toca. É Mallory. Olho rapidamente para o meu pai, que parece não peceber, concentrado como está. Como eu não atendo, ela manda uma mensagem. Diz que soube do acidente e ficou preocupada. Quer vir me ver, mas meu pai probiu-a de pisar em nossa casa.

Eu custo a acreditar que ele tenha mesmo feito isso. Mallory e eu crescemos juntas. Nossas mães eram melhores amigas e, depois que a mãe dela fugiu com o namorado, deixando-a para ser criada pelos avós, minha mãe prometeu que cuidaria dela. Nós somos muito mais do que amigas, minha mãe sempre dizia isso.

Quando o jantar termina, eu invento uma dor de cabeça e subo direto para o meu quarto. Lá, eu mando uma mensagem e, quinze minutos depois, Mallory está subindo pela janela, a massa de cabelos louros surgindo antes do restante do corpo.

- Seu príncipe chegou- anuncia, sorridente, passando uma perna de cada vez por cima do peitoril e pulando para dentro do quarto. - Vamos embora daqui.

- Para onde? - mostro minha perna - Se você não percebeu, eu estou usando um acessório novo. Não posso escalar muros igual a você.

Ela revira os olhos.

- Isso não vai te impedir. Vamos logo. Eu jogo você daqui de cima se precisar.

- Não dá. Amanhã eu começo em um emprego novo.

Mallory me olha, surpresa. Anda até o meio do quarto e me encara, desconfiada.

- Isso não é sério. Que emprego?

Dou de ombros.

- Babá.

Os olhos de Mallory quase sangram e eu já sei sua reação, antes mesmo de acontecer.

- Que horror! Crianças são pequenos monstros do mundo real- faz uma careta de desgosto. Está usando mais maquiagem do que o necessário para variar, então sei que ela realmente tem planos para essa noite.

Planos que me incluíam, penso com alguma melancolia.

- Elas também odeiam você - provoco, jogando um travesseiro nela.

Mas Mallory não revida. Seus olhos estão fixos em mim com uma expressão de desafio.

- Eu conheço os pais?

Eu suspiro, me deitando na cama devagar. Essa bota estúpida. Eu me sinto tão limitada! Que sensação angustiante, querer me mover mais depressa e não conseguir. Sinto falta da minha liberdade, minha preciosa liberdade. Estranho como a gente não sente falta de uma coisa até perdê-la.

- É do outro lado da cidade - esclareço. - Na casa de um ricaço, Max Lancaster. Vou mostrar ao meu pai que eu posso fazer as coisas diferentes dessa vez.

- Zzzz. Essa bobagem toda está me dando sono - ela bufa, atirando a cabeça para trás. - Você não tem que mudar para ser aceita. Vai perder tempo, deixando sua vida passar enquanto fica presa nesse emprego medíocre.

- Melhor emprego medíocre do que nenhum emprego - eu lembro. - E o Halseys?

- Já disse que não piso lá nunca mais. Voltar para aquela escravidão? E para aquele salário miserável? - ela estufa o peito, com o olhar brilhante de quem tem uma grande coisa para contar. - Além disso, acho que consegui uma coisa bem melhor, Chloe.

- O que?

- Por enquanto é segredo. Mas, se você vier essa noite, vai ser tudo por minha conta - insiste, juntando as mãos em uma súplica desesperada.

Eu rio e balanço a cabeça, recusando.

- Obrigada, mas não posso. Vou acordar cedo amanhã.

- Ah, esqueci. Você tem prioridades agora - ela ironiza, fazendo o caminho de volta até o peitoril.

Mallory sempre foi assim dramática. Mas, para ser justa, sua vida nunca foi fácil. O pai desapareceu assim que ela nasceu e a mãe abriu mão dela quando tinha cinco anos. O avô faleceu há alguns anos também. Agora resta sua avó, bem velhinha.

Perto da sua, minha história parece um conto de fadas.

- Chloe, você acha que nossos caminhos podem estar se separando? - ela me observa da janela com seus olhos tristes cinzentos.

Mesmo surpresa com a sua pergunta, eu não hesito ao responder:

- Não seja idiota, Mallory. Isso nunca vai acontecer

- Já está acontecendo - ela diz em voz baixa, antes de partir.

☆☆☆

Nós podemos brincar na neve? - Evie pergunta, entrelaçando as mãozinhas uma na outra e dando pulinhos. - Só um pouquinho, Chlooooe!

Eu respiro fundo. Lá vem. Essa garotinha sabe mesmo como "pedir favores". Ao seu lado, Maisy me encara com os olhinhos ansiosos.

Desde que cheguei a mansão Lancaster, a cerca de duas horas, essas duas me cercaram e testaram de todas as formas possíveis. Eu me sinto exausta! O dia mal começou e, para piorar, ainda tem a maldita bota. Sempre escutei que cuidar de crianças dá trabalho, mas não imaginava que fosse tão enlouquecedor.

Meu pai tentou me demover da ideia de aceitar esse emprego. Quando não aceitei, disse que pediria a Abigail para segurar a vaga por mais alguns dias, mas eu também rejeitei a ideia. Não podia acabar perdendo a oportunidade. Estou a dezessete dias de tirar a bota, que mal pode haver?

Abigail prometeu me dar todo suporte necessário. Então aqui estou eu, firme forte.

Bom, nem tanto assim.

Mas agora... bem, acho que, de certa forma, Mallory estava certa. Não sobre as crianças serem monstros do mundo real, mas talvez esse emprego não seja mesmo para mim. Sinto que estou roubando a vaga de uma pessoa mais capacitada e, pior, privando as meninas de encontrar alguém que possa cuidar delas como merecem.

- Acho que não. Está frio de verdade lá fora, vocês podem acabar se resfriando - respondo, me esforçando para ser prudente.

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