A Babá Perfeita romance Capítulo 6

Contrariando minhas piores expectativas, Max Lancaster estende sua mão e trocamos um cumprimento breve e formal.

No momento em que nossas mãos se tocam, eu paraliso, tomada por um lampejo de reconhecimento que não sei definir muito bem o que é. Sinto como se já houvesse acontecido antes. Como se nosso encontro não fosse uma mera coincidência, mas uma prova da força incontrolável do destino.

Sua pele é quente, a mão macia e o aperto, firme e determinado. É ele quem recua primeiro, quebrando a onda de magnetismo que atravessa o espaço entre nós como uma corrente. No entanto, seu olhar não me solta, quente e envolvente, me engolindo viva.

Meu Deus, que homem espetacular... eu mordo a boca, fascinada. O pai de Evie e Maisy é mais jovem do que eu imaginava e, certamente, bem mais bonito também. Alto, moreno, dono de um corpo atlético de tirar o fôlego. Olhos azuis inacreditáveis emoldurados por espessos e longos cílios escuros. Suas sobrancelhas grossas são ligeiramente arqueadas, dando a expressão de que está zombando de mim. 

Bom, talvez ele esteja.

- Você é a filha do David - não é uma pergunta, mas uma afirmação, que me tira do torpor para onde aqueles olhos reluzentes me enviaram.

Eu balanço a cabeça, a mente ainda levemente embaralhada.  Algumas mechas do seu cabelo castanho escuro voaram sobre a testa e, ao correr os dedos entre elas, ele as devolve ao seu devido lugar.

- O meu pai trabalha para você.

- E agora parece que você também - os olhos dele vagueiam pelo meu rosto, demorando-se um pouco mais na minha boca. Depois descem devagar pelo resto do corpo, preguiçosamente, parando apenas ao chegarem a perna quebrada. - Mas eu vejo que você ainda não se recuperou do seu acidente. Quantos dias ainda permanecerá com a bota?

Eu suspiro, sem esconder minha frustração ao responder:

- Mais dezessete.

O Sr Lancaster balança a cabeça, assentindo, sem despregar os olhos de mim. Fica em silêncio por um momento, absorvendo cada uma das reações do meu corpo desgraçadamente traidor. Inferno. Meu estômago se revira de agitação, enquanto o meu cérebro estúpido devaneia com uma série de pensamentos inapropriados.

Ele respira fundo, enchendo os pulmões. Seus olhos escurecem, mudando para um tom mais quente de azul.

- Certo. Você pode ir para casa, agora - ele me dispensa com um aceno de cabeça, virando-se depressa para subir as escadas. - A vaga estará aguardando quando estiver pronta.

Eu fico vendo-o subir os degraus de dois em dois, o coração prestes a sair pela boca, mergulhada em uma sensação de completa impotência. 

Evie e Maisy me observam com seus pequenos olhinhos arregalados. Maisy, outra vez, desgruda da irmã mais velha e corre para o meu lado, entrelaçando seus dedinhos frágeis nos meus. O olhar de súplica desmonta o meu coração.

- Eu estou pronta - grito para Max Lancaster já no topo da escada, fazendo-o interromper seus passos. Devagar, ele volta a cabeça para mim por cima do ombro e a profundidade do seu olhar me faz estremecer. - Quero dizer, a Sra Hayes está me ajudando. Não há nenhum problema e eu não estou fazendo esforço, Sr Lancaster. Gostaria que me deixasse ficar, se não for pedir muito.

Seus pálidos olhos azuis me engolem viva, devastando e aniquilando o resto da minha sanidade. De repente, sou atingida pela ideia do quanto tudo em mim parece  absolutamente inadequado. Desde os cabelos castanhos grandes demais, passando pelo meu visual básico demais até meu andar desengonçado demais com a maldita bota. Incapaz de mudar isso, cruzo os braços na frente do corpo em uma tentativa vã de disfarçar a vergonha que sinto sob a minha habitual couraça de auto confiança.

Max Lancaster me observa sem mover um músculo sequer. Ao contrário de mim, ele parece perfeito no seu terno azul escuro de corte impecável. Sexy, bem sucedido e seguro de si. O homem dos sonhos de qualquer mulher. O pai de Evie e Maisy. E, agora, o mais importante de tudo para mim, meu patrão.

Suas próximas palavras, no entanto, arrancam o chão debaixo dos meus pés.

- Então por que motivo eu encontrei minhas filhas ensopadas e tremendo de frio na entrada de casa? 

Eu abro a boca para responder. Depois fecho. Todos os argumentos desaparecem como em um passe de mágica.

- Elas me pediram... elas disseram que o senhor costumava... - eu olho para Evie, pedindo ajuda, mas ela responde com um olhar travesso e, de repente, eu compreendo tudo. É o grande teste.  O teste final. Se eu pego essa pestinha... respiro fundo, tornando a olhar para ele. - Foi um erro e eu peço desculpas, Sr Lancaster. Isso não voltará a acontecer.

Ele me encara em dúvida. Seus olhos titubeiam entre Maisy e eu de mãos dadas, e Evie que parece prestes a explodir de expectativa. Segundos inteiros se passam até que a sombra de um sorriso se insinue naquela boca carnuda.

Meu coração dispara e eu seguro firme a mão de Maisy, enquanto aguardo sua reposta.

- Ótimo. Seja bem vinda ao emprego, Srta Henderson - pisca um olho para mim, me fazendo engasgar. - Qualquer coisa que precise, peça a Abigail.

- Certo - sorrio, incrédula, enquanto Evie e Maisy de mãos dadas, riem e brincam de roda a minha volta. Evie dá alguns gritinhos histéricos de felicidade e eu a desculpo imediatamente pela sua pequena mentira.

É a voz do Sr Lancaster que me devolve o prumo de novo. Sua voz grave, rouca e sexy para diabo.

- Srta Henderson?

- Sim?

Eu noto um brilho diferente em seus olhos quando profere as seguintes palavras:

- Obrigado por salvar a vida da minha filha.

****

- Tarde demais - o suspiro de Evie enche o meu coração de tristeza.

Com as mãos espalmadas na janela, ela assiste o pai partir no carro com Javier a caminho da empresa.

Faz cinco dias desde que comecei a trabalhar na mansão Lancaster e, não houve um único em que eu não visse a decepção crescer nos olhos de Evie e Maisy. Hoje é o dia da primeira aula de violino de Evie e o Sr Lancaster havia prometido que compareceria.

Bom, aparentemente ele tinha esquecido.

Agora, olhando para ela, tão linda em seu vestido de veludo azul marinho, com blusa branca de mangas bufantes e sapatinhos combinando, eu preciso me manter firme enquanto ela luta para segurar as lagrimas.

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