Passo por Max, sentado no sofá da sala, mexendo distraído no celular, e me dirijo a Judith, que vem saindo da cozinha.
- Jud, eu vou dar uma volta. Avise ao Sr. Lancaster, por favor, que eu não tenho hora para voltar se ele perguntar.
Ela me encara apalermada.
- Chloe, o Sr. Lancaster está bem aí atrás de você.
Eu dou uma olhadinha para trás sobre o ombro. Max parece cansado. Exausto. Tem olheiras visíveis e uma expressão mau humorada no rosto. Dá para ver que não fui só eu que dormi mal.
Bem feito.
- Que bom. Então você não precisa mais avisar. Até logo, Jud.
O sol lá fora ainda é fraco, apenas um brilho discreto, mas eu já estou louca para senti-lo aquecendo a minha pele. Estou usando minhas roupas antigas - um jeans detonado e uma blusa branca podrinha que trouxe do final de semana com o meu pai - e sinto que, finalmente, sou eu mesma outra vez.
Em carne, osso e força de vontade.
Chega de babados, cor de rosa e saias plissadas. Viva o grunge dos anos 90!
- Você vai sair? - a voz de Max chama minha atenção. Eu paro no meio do caminho até a porta e me viro lentamente para ele, me observando com seus olhos azuis penetrantes.
- Vou sim.
- E vai demorar a voltar?
Eu inclino a cabeça para o lado.
- Bom, aí depende.
- Depende do que?
- Só da minha vontade.
Max respira fundo. Ele odeia ser contrariado. Levanta e vem caminhando na minha direção, depois de jogar o celular no sofá. Está um verdadeiro gostoso, com uma camisa cinza de malha e aquele moletom de cós baixo.
Eu preciso desviar os olhos antes de começar a me portar como uma cadelinha no cio.
- Chloe, não é prudente que você saia assim sem avisar para onde vai. Se te acontece alguma coisa, como vamos saber?
Ah, agora ele está preocupado? Francamente. Esse cara sofre de transtorno bipolar ou múltiplas personalidades?
Eu sorrio com um esforço admirável.
- Bom, eu vou tomar um sorvete.
- Sorvete?
- Sim, de repente me deu vontade de tomar sorvete.
A ruga entre as sobrancelhas, garante que ele está considerando a questão.
- Bom, e por que não pede para Abigail trazer nas compras?
- Porque eu prefiro agora - dou de ombros, controlando minha entonação de voz para desinteressada. - Não quero ter que esperar. Além disso, não vejo porque sair para tomar um sorvete deva ser motivo para um alarde...
- Não quer ter que esperar? - ele me interrompe. Os seus olhos se tornam sombrios. - Chloe você está grávida?
Os meus olhos arregalam e eu engasgo com coisa nenhuma.
- Estou... o que? Por que você....? Como assim?
Ele respira, bufando.
- Eu acredito que você saiba muito bem como, Chloe.
O meu rosto queima. Ele está me testando? É lógico que eu não estou grávida e ele tem que saber disso. Afinal, ele me viu tomar a pílula uma dezena de vezes pelo menos.
- Não há motivo para entrar em pânico, Sr Lancaster - asseguro, arrancando um revirar de olhos dele diante do uso da formalidade. - Estou tomando o meu remédio religiosamente, pode ficar tranquilo quanto a isso - ele abre a boca para dizer alguma coisa, mas eu não lhe dou a oportunidade. - Bom, estou indo agora. Tenho um dia lindo de sol para aproveitar - digo, lhe dando as costas.
- Chloe... - ele me chama.
Eu paro com a mão na maçaneta, mas não me atrevo a olhar para trás. Sua voz é atormentada, quase suplicante. Isso mexe comigo, é óbvio. Mesmo sendo um cabeça dura e um metido, eu amo esse desgraçado.
Ainda assim, enquanto Max não disser as palavras que eu quero ouvir - e que, aliás, mereço -, estou disposta a levar aquilo até as últimas consequências.
Minha voz nem estremece quando pergunto:
- O que?
Ele suspira alto, impaciente.
- Como o que? Você não me disse aonde vai.
- Vou ver uma amiga - dou de ombros, cheia de um prazer insano.
- Amiga? Que amiga? Você pode me dizer ao menos o nome dela?
Suas perguntas deveriam me deixar indignada. Mas não, elas só me divertem. Como é bom fazer Max sofrer quando ele está sendo um grande filho da puta cretino.
- E o que isso importa? - respondo, girando a maçaneta e saindo, não sem antes cravar mais um pouco a faca em seu peito. - Somos duas pessoas livres vivendo em um país livre. Não sei por que as minhas escolhas deveriam incomodar você tanto. Cresça, Max.
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Eu adoraria ter chamado Judith para passear comigo. Mas hoje não é o seu dia de folga, então simplesmente resolvi andar sozinha pelo Rockfeller Center.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Perfeita
Amei a história! Vale a pena a leitura! Pena que não achei a continuação!...
Parabéns @RebecaSantiago! Além de um ótimo enredo, escreve muito bem e tem um português muito bom, o que torna a leitura melhor ainda. Depois deste, vou ler seus outros romances. Vc é admirável. Virei fã....
Ameiiiiiiii❤️❤️❤️❤️❤️❤️🥰...
Qual é a plataforma que está o seu livro: A ESPOSA PERFEITA??...
tirando o uso desnecessário de tantos palavrões é uma ótima historia...
Muito bom estou curtindo muito esta historia <3...