Júlia
Alguns dias depois…
Eu não pensei que me surpreenderia, mas os avanços da restauração da mansão está me deixando cada vez mais fascinada. A estrutura vitoriana em si já é de encher os olhos, embora ela precise de alguns cuidados, e agora que ganhou cores, e alguns detalhes modernos diria que esse lugar ficou ainda mais perfeito. Sim, estamos avançando mais rápido do que supus que seria, pois segundo David, o dono da casa tem pressa em vê-la pronta para a sua amada.
— Senhorita, pode ver agora as paletas de cores? Precisamos finalizar a parede de fundo da sala de estar. — Um operário pergunta, apontando-me uma direção e imediatamente procuro pelo David.
— Onde você está? — inquiro para ninguém em especial.
— Senhorita? — O rapaz insiste e me pego indecisa.
— É que… o David deveria…
— Ele pediu que a Senhorita escolhesse. — Levo uma mão para o meu peito, expressando a minha confusão.
— Eu? Mas… ah, deixa pra lá! — resmungo e decido acompanhá-lo de vez.
Papéis de paredes com fundos florais e folhas secas de várias cores. Uma escolha difícil para uma arquiteta que sequer conhece o gosto do seu cliente misterioso. Quer dizer, eu nunca o vi antes. Nem mesmo na hora de mostrar-lhe a maquete e conversar sobre os detalhes sequer eu estava presente.
— Acho que… esse verde escuro cintilante ficaria perfeito nessa parede.
A palavra certa seria lindamente perfeito, mas eu sou uma profissional e quanto mais neutra estiver, menos irei me apegar a essa apaixonante obra na hora da despedida.
— Escolha perfeita, Senhorita!
— Senhorita Júlia, o bar de canto acabou de chegar. Onde podemos montá-lo? — Sorrio quando algo se passa pela minha cabeça.
— Bem aqui. — Estendo os meus braços com certa empolgação, apontando uma parede em fase final de acabamento. — Nessa parede. — E devo dizer que chego a ter a nítida imagem da parede com um detalhe verde-cintilante aparando o bar de canto de madeira escura envernizada, com algumas prateleiras de vidros transparentes, dando destaque para alguns copos de cristais.
— Ótimo! A equipe irá montá-lo agora.
Rápido demais! Penso quando observo uma gama de trabalhadores fazendo vários serviços ao mesmo tempo. Pinturas, texturas, montagens, limpezas. Suspiro um tanto sonhadora quando me aproximo de uma das janelas agora com vidro transparente e me encanto com o gazebo bem no centro do jardim, recebendo sua última camada de pintura. Contudo, sou imediatamente assaltada quando vejo o meu filho correndo pela extensa grama do jardim. Ele tem um papel na mão, que se abana com o vento à medida que ele corre, enquanto exibe um lindo e espalhafatoso sorriso infantil. E em um canto mais afastado está David conversando com alguns carpinteiros. É inevitável sonhar acordada e sorrio para a imagem feliz que se projeta em minha cabeça. Uma pequena e bem estruturada família em um final de tarde acomodada no jardim, fazendo piquenique. Entretanto, desperto desse meu sonho acordado quando sinto o meu celular vibrar dentro do meu bolso.
… Você vai demorar?
… Tem um Senhor aqui querendo falar com você.
… Um Senhor? Quem é?
… Ele não quis dizer o nome.
… Ele é tão esquisito, Júlia e não tira o olho do seu prêmio na parede.
Suspiro alto.
… Ele disse o que queria?
… Disse que só falaria com você.
… Que estranho!
… Pois é! Eu disse, ele é esquisito!
… Me dê vinte minutos.
Decido partir para a inspeção dos cômodos antes de voltar para a Ricci e Jones, e ver quem é o tal esquisito que me aguarda na empresa.
— E então, o que achou? — David inquire, me abraçando por trás e logo sinto os seus beijos e fungadas na minha nuca. Sorrio, porque é impossível não sorri com esse seu excesso de carinhos.
— Estou apaixonada, David! — confesso, me acomodando ao seu corpo.
— Apaixonada? — Ele questiona sem parar os seus beijos curtos e fungados compridos.
— Uhum!
— Estou ficando com ciúmes. — Não seguro um riso sonoro.
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