Alex
Era um sonho lindo, tenho que admitir. Elena sonhava em se tornar uma médica cirurgiã e me pergunto por que ela não seguiu em frente? Por que ela está aqui nesta casa cuidando de uma idosa soberba a beira da morte?
… O seu erro lhe custou muito caro.
… E os seus pais fizeram com ela o mesmo que eu fiz com o meu filho.
Porra! Isso não faz sentido. Péricles Stanford jamais trataria a sua única filha assim. Mesmo que ela tenha ido para a cama com alguém. Isso não é motivo suficiente, não é?
… Proteja o meu maior tesouro, Alex.
O seu tesouro?
Quando alguém passou a ter um valor inestimável para Nora Ricci?
… Eu não quero muito, Alex. Só quero viver com você. Dividir os domingos, os silêncios, os sonhos… até mesmo os fracassos. Tudo, desde que seja com você.
Lembro-me das suas promessas.
Os fracassos. Eu não queria viver essa parte com ela e nem com ninguém.
Os sons agitados das máquinas me despertam e volto a encarar a porta fechada.
— NÃO! — Um grito desesperado de Elena me faz abrir a porta abruptamente e encontrá-la debruçada em lágrimas sobre um copo inerte. Não penso duas vezes e corro ao seu encontro. — NORA, NÃO FAZ ISSO! — Ela grita quando luto para tirá-la de lá.
No seu desespero ela me abraça e chora copiosamente, enquanto miro na imagem de uma senhora adormecida. A aperto contra o meu corpo. Fecho os meus olhos. E de repente me sinto em casa.
Deus, o que eu fiz? Pergunto, afogando-me em arrependimentos. Eu nunca devia tê-la deixado sozinha naquele quarto de hotel.
— Vai ficar tudo bem! — digo, e é como se tivesse apertado um botão que eu nunca deveria. Portanto, ela se afasta, engolindo o seu choro, a sua dor e me encara com frieza nos olhos.
Ela respira fundo. Muito profundamente.
— Eu… sinto muito! — sibilo, quebrando esse silêncio incomodo.
— Eu disse sim. — Ela declara e eu penso que Nora Ricci exerceu o seu poder até o último segundo de sua vida. Contudo, dessa vez eu preciso agradecê-la. Ela trouxe para os meus braços a única mulher que mexeu com as minhas emoções e agora eu só preciso fazê-la feliz. — Mas eu tenho algumas condições.
O que?!
— Quais condições? — Procuro saber. Em resposta, ela olha para trás e fita o corpo da minha avó em silêncio.
— Não teremos essa conversa hoje e nem agora, Senhor Ricci — fala fitando-me outra vez. — Eu tenho que cuidar da sua partida.
— Eu posso ajudá-la…
— Não preciso da sua ajuda, Senhor Ricci. Mas o Senhor é o neto dela. Pode vir para o velório se quiser.
— Elena… — Tento aproximar-me.
— O Senhor pode ir embora. Mandarei avisá-lo sobre o horário do velório e sobre quaisquer dúvidas que o Senhor tenha.
Inalcançável. Ela está a centímetros de mim e mesmo assim parece inalcançável. Sem ter muito o que fazer, aceno um sim para ela e me afasto, ajeitando o meu terno impecável no meu corpo.
— Tudo bem. Será do seu jeito.
— Isso é o mínimo, Senhor Ricci.
Ela não faz ideia do quanto me irrita toda essa maldita formalidade.
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