Bennett
Dois dias depois…
… David, fale comigo. Estou preocupada com você.
… David, querido, por que você não atende o telefone?
… David, estou indo para a sua casa. A Mary está com os nervos à flor do pano.
… Por que não atende a droga desse telefone?!
… David, surgiu um problema na empresa. Precisamos de você aqui.
… Que droga, David, onde você está?!
O meu celular não para de bipar e as mensagens não param de chegar. Todos estão a minha procura, como sempre preocupados com o complicado e problemático David Bennett. Contudo, não desejo estar com nenhum deles, nem mesmo falar com eles. Não estou disposto a ouvir que fui estúpido o suficiente para estragar todas as minhas chances de felicidade.
… Você causou tudo isso!
… Fique longe do meu filho, Senhor Bennett, ou não respondo por mim!
— Me diga, como faço para ficar longe da minha própria vida, Senhorita Ricci?
Resmungo com desânimo, me sentindo cada vez mais oco por dentro. Entretanto, me esforço para sair do seu quarto, mas dessa vez não vou para o silêncio do meu escritório em minha casa, nem mesmo para o bar de canto encher a cara para me esquecer da minha solidão. Uma garrafa de uísque não trará a dormência de que preciso me esquecer dela. O álcool não pode acalmar toda essa turbulência que insiste em roubar o meu alto controle e pela primeira vez eu me recuso a acreditar nas palavras de Mara.
Eu não sou um condenado!
Simplesmente não posso e não quero deixá-los ir embora da minha vida assim. Portanto, subo os degraus que me levam para o terceiro andar da mansão e adentro a minha galeria particular a muito esquecida. Um hobby, uma paixão adormecida que cultivei com o propósito me esquecer um pouco da minha escuridão, mas que há alguns meses está completamente esquecida por mim. Olhar para as imagens nas telas traz uma sensação gostosa de nostalgia. Lembranças de momentos que vivi para sufocar outros que eu queria me esquecer. Portanto, fito os quadros expostos nas paredes por longos minutos. Imagens lindas de paisagens e lugares por onde passei, e por fim, paro em frente em frente a uma prateleira onde mantenho uma câmera profissional e algumas lentes.
Um suspiro alto escapa pelas minhas narinas e os meus olhos percorrem cada quadro outra vez. Contudo, uma ansiedade ímpar me acomete e no segundo seguinte estou tirando todos os quadros dos seus lugares e os amontoando em um canto de parede. E quando termino, estou ligeiramente ofegante, avaliando as paredes completamente nuas agora. No entanto, com uma pressa que não sei explicar, pego uma bolsa e coloco alguns instrumentos dentro dela. Logo retorno para o meu quarto, tomo um banho rápido, visto uma roupa casual e escolho um boné, e óculos escuros.
— Bom dia, Senhor Bennett! — Meu motorista diz sempre atento.
— Bom dia, Matteo! — respondo, ignorando as suas especulações silenciosas, enquanto ele me olha de cima a baixo, provavelmente analisando as vestes casuais demais. Nada de ternos caros ou gravatas de ceda. Apenas um jeans surrado e uma camiseta com mangas, além de um par de tênis. Depois, o seu olhar vai para a bolsa em minha mão.
— Não vai para a empresa hoje? — Ele interpele um tanto curioso, enquanto se dirige para o habitual carro preto. Contudo, não me mexo do meu lugar.
— Hoje não — respondo-lhe, me dirigindo para uma BMW do outro lado da ampla garagem e largo a bolsa no banco de trás.
— O Senhor vai dirigir? — O homem indaga sem esconder a sua surpresa quando abro a porta do motorista e seguro no volante.
— Eu vou. — Ergo os meus olhos para os seus. — Tire o dia de folga, Mateo — peço, recebendo outro olhar surpreso. — Não vou precisar dos seus serviços por hoje.
— É claro, Senhor Bennett. — Mateo sibila abismado. Entretanto, piso no acelerador e dirijo direto direto para Brightford.

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