A Redenção do Ogro romance Capítulo 22

Camila Coelho

Ele desliga o telefone e vem em minha direção.

Estamos desmotivados hoje. Num marasmo só... Somos elétricos por natureza e movidos a jogos.

Sempre que isso acontece, ficamos procurando coisas para apimentar a relação.

E isso é uma constante! Somos muito parecidos, parece que finalmente encontrei alguém como eu…

E isso é tão impressionante!

Nunca tive ninguém que suprisse todas as minhas necessidades da vida!!!

E o que falar da surpresa que ele me deu? Fernanda já havia comentado que Barreto estava reunindo provas contra meu padrasto. Mas eu não pensei que ele conseguiria finalmente por aquele monstro atrás das grades.

Ele era um cidadão modelo. Trabalhador, não devia nada à justiça, pagava todos os impostos. As suas merdas sempre eram feitas com pessoas inocentes demais para se defenderem.

Eram poucos os pais, que realmente levavam a sério o que uma criança falava. E isso era muito errado. Eles poderiam pelo menos observar seus filhos.

Sempre que uma criança era molestada, seja com palavras ou atitudes disfarçadas de bem querer, elas demonstravam que havia algo errado. Elas ficavam nervosas e incomodadas com a presença da pessoa. Eu era assim... Porque minha mãe nunca percebeu isso?!?!

Eu tentei deter aquele monstro, mas eu percebi que uma andorinha só, não fazia verão. E na época, foi tão humilhante e vergonhoso! Ver minha mãe me desmentindo, me chamando de louca na frente daqueles policiais... Que nunca saberiam lidar com uma adolescente de quinze anos. Não gosto nem de lembrar…

A maioria das pessoas não tem empatia pela dor dos outros. Nem ao menos sabem lidar com suas dores, imagine com a dor do outro?

Enfim... Ele conseguiu!!!

Ele conseguiu fazer o que ninguém nunca conseguiu... Bernardo não sabia, mas eu seria grata a ele pelo resto da vida. Nunca ninguém me ajudou tanto com meus traumas como ele , e nunca ninguém me deixou tão segura quanto ele.

Volto para a sala quando ele estala os dedos na minha frente.

-Viajou… -Eu sorrio.

-Desculpe... E aí ele aceitou?

-Sim... Temos novidades... Ele está com nova submissa…

Fico animada. Eu quero muito que Paulo e Arthur se encontrem. Parece que Arthur está animado com a nova submissa. Uma menina com o perfil que eu sempre imaginei. Tenho certeza que vai dar certo.

Agora Paulo... É bem mais complicado... Ele precisa se convencer de que as coisas não são do jeito que ele imagina.

-Conhecemos?

-Provavelmente, ele não quis dizer... E só aceitou vir se não falarmos sobre isso... Só espero que não seja mais uma "messalina"...

Eu gargalho...Bernardo e seus apelidos nada convencionais.

-Explique, enciclopédia humana. - falo rindo.

-Nunca ouviu falar da história da messalina? Logo você Camila, uma expert em história. - ele fala gaiato. É um guri culto. - Ela era uma imperatriz famosa em Roma. Usava de sua influência, promiscuidade e poder para arruinar muitas figuras influentes. Assim são as submissas que Paulo arruma... A última deu mole descarado para Arthur e ainda o traiu com outro. Enfim... Uma messalina!

-Entendi... Obrigada pelo esclarecimento mestre! Ela virá também?

-Não... Ele virá sozinho...-confirmo com a cabeça.Ele se senta no sofá e me põe em seu colo.-Vamos pedir comida japonesa mesmo?

-Sim... É a que vai fazer menos cagada.

Ele ri.

-Então vai tomar seu banho e se aprontar, porque hoje vai ser intenso!

-Não vejo a hora!

E eu nem gosto disso né…

Dou um beijo nele e me levanto de seu colo, subindo as escadas animada.

O desânimo de domingo?!? Foi embora...

Como sempre ...

************

Bernardo Thomson

-Olá japonês?!??

-Oi irlandês, cadê Camilinha?

-Está nos esperando lá atrás. E aí animado?

Falo com segundas intenções, porque eu estou muito curioso pra saber quem é a nova eleita. Mas tirar algo desse japonês é o mesmo que tirar palavras de um defunto. Ele só fala quando quer.

Ele me olha e revira os olhos.

-Eu não vou te contar Bernardo. E você me prometeu que não ia tocar nesse assunto…

-Você acredita nas minhas promessas?

-O quê posso fazer? Sou um idiota... -Ele bufa. -Na hora certa eu te conto. Se vamos jantar, porque Camila está na masmorra? Achei que você servia a comida primeiro, antes de oferecer sacanagem a um convidado.

Japonês ingrato! Eu sempre viso o bem estar dele. Porque não quer me contar que está com uma submissa nova? Será que é alguém que conheço?

Continuo andando indo em direção a masmorra, e ele vem atrás de mim…

-Eu a conheço?

-Não.

-Mentira, se não a conhecesse, porque estaria escondendo ela de mim?

-Bernardo …

-Ele já foi minha submissa? Porque se foi não vai dar certo japonês, as submissas que eu jogo elas precisam de muita dor …

Ele revira os olhos.

-Não vou te dizer quem é Bernardo…

-Caralho, eu odeio ficar curioso!!!

-É eu te odeio! Só vim por causa da boa comida que você me ofereceu e por causa da sua submissa. Preciso relaxar!!!

-Ué... Não comeu ainda a sua?

-Bernardo eu conheci ela hoje …

-É daí... Eu comi a Camila cinco minutos depois que a conheci…

-Foi diferente! -Ele revira os olhos e para na porta da masmorra. -Vai ficar me irritando?