Camila Coelho
-Camila, você precisa fazer mais exames…-Lena fala me olhando.
Eu peço para que ela faça silêncio.
Estamos na sala de dança, e no meio da aula me senti mal. Uma falta de ar aguda, como se tivessem enfiado uma faca no meu peito.
Bernardo está na sala ao lado, na área de musculação. Eu não quero que ele saiba que passei mal, mais uma vez.
Ele está no meu pé o tempo todo...
Eu quero descobrir primeiro o que tenho, para depois decidir o que faço... Se ele desconfiar que eu estou tendo falta de ar constante e dores no peito, ele pode encerrar o contrato ou coisa pior, como querer ficar comigo por compaixão.
Logo agora que tudo estava se encaminhando bem…
A uns dias atrás ele me perguntou se eu toparia renovar por mais seis meses... Eu disse que sim... E fiquei feliz...
-Eu já marquei o médico Lena ... Só fala baixo …
-Ele tem que saber.
-Ele vai saber... Eu só quero saber primeiro que ele... Para tomar a melhor decisão pra mim... Pois eu que tenho que tomar essa decisão, não ele.
Ela me olha preocupada, e eu também estou começando a ficar preocupada. Os exames de sangue não deram nada... Então não é deficiência de nada... Agora essa dor no peito, acompanhada de falta de ar, o que me leva a crer que é algo no meu coração.
Fernanda conseguiu marcar um cardiologista para mim bem distante do hospital. E conseguiu fazer isso na encolha...
Lena tem razão... Eu preciso saber o que tenho... Pode ser apenas estresse, ou até mais uma temporada de crises de ansiedade e pânico. Do jeito que está, é perigoso eu continuar jogando com Bernardo.
E se for algo no coração?
O que vou fazer com os jogos?
E com o vício da dor?
E minha relação com o Bernardo? Não vai sobreviver a isso... Aliás, a minha relação com nenhum dominador, vai sobreviver a isso.
Começo a sentir a falta de ar novamente... Tá vendo? Isso é estresse! Só pode ser...
Lena começa a massagear meu peito novamente, enquanto Fernanda vigia a porta para saber se Bernardo está vindo.
-Eu vou te dar um prazo, Camila. Se você não contar para ele, eu vou contar... Você está brincando com a sua saúde, podendo ter um problema no coração e vivendo essa vida que nós vivemos ... Não tem como termos problemas de saúde, jogando. Entende a gravidade? Fora que ele vai se sentir culpado se algo acontecer... -ela sussurra.
Eu acalmo minha respiração novamente.
-Eu vou ao médico amanhã, Lena. Eu te prometo!
-Ok! Agora bebe essa água. Encerramos por hoje.
Pego o copo de sua mão e suspiro bebendo o líquido.
Estava muito bom pra ser verdade.
Tinha que acontecer algo para desandar tudo de novo. As coisas estavam tão boas.
*************
Depois de um eletrocardiograma, ecocardiograma e alguns outros exames, que fiz na mesma clínica do cardiologista. Estou esperando o médico me atender.
Foi fácil despistar Bernardo. Disse que havia comprado algumas coisas para o ateliê e precisava passar o dia no meu sobrado para recebê-las. Como ele teve um dia cheio de reuniões, não se importou.
Com Fernanda o tempo todo ao meu lado, conseguimos fazer tudo sem ninguém perceber que na verdade eu estava numa clínica particular que tratava do coração.
Resolvi vir para cá, para tirar todas as dúvidas que poderiam existir. Se o grande mau estar era na altura do coração, poderia haver algum problema ali.
Um cardiologista era a melhor opção. Claro que eu me sentiria infinitamente melhor, se esse cardiologista fosse Arthur. Mas eu não podia confiar no mesmo para guardar segredo do Bernardo. Ele não guardaria.
Se caso não encontrasse nada anormal, voltaria para terapia porque provavelmente eu estaria entrando num período difícil das crises de ansiedade e pânico. Eu já estava acostumada. Bastava um gatilho para que as coisas ficassem difíceis por um período. Se fosse isso, dessa vez os sintomas eram bem diferentes, já que nunca tive dores no peito.
O que não entendia era porque ela estava voltando... Eu andava bem, tranquila, como a tempos não estive…
Mesmo porque não havia mais ninguém que pudesse me machucar. Estava controlando bem o vício da dor. E estava feliz, porque Bernardo demonstrou vontade de renovar o contrato.
Então porque as crises voltaram?
A secretária chama meu nome e eu me levanto, apertando a mão de Fernanda. Ela vem em meu encalço.
Eu finalmente achei uma grande amiga! Devia muito a ela por ela estar do meu lado neste momento. Traindo seu chefe pelo meu bem estar. Se Bernardo descobrisse que ela estava me acobertando, isso mancharia a sua carreira e poderia ser até motivo de demissão. Então eu fiquei muito agradecida por ela estar se arriscando , respeitando a minha vontade.
Me sento na frente do médico e ele aperta minha mão se apresentando.
Apresento a Fernanda e ele suspira olhando meus exames.
-Bom, Senhorita Camila , estive estudando seus exames, e descobri que você tem um sopro no coração.
Eu abro a boca e fecho...O que? Sopro? Mas como?
-Eu...eu...eu... Não entendo…

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: A Redenção do Ogro
A história desse livro é muito massa e uma Pena que está postado a história toda...