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A Redenção do Ogro romance Capítulo 52

Bernardo Thomson

Vejo a cara de espanto do meu pai.Objetivo alcançado. Quando subi neste palco eu pensei exatamente em provocar o que estou vendo em seus olhos neste momento.

Só espero não causar um infarto!

Ele merece por ter me obrigado a conviver com um irmão que eu nunca quis.

Ele merece por ter feito Willian voltar e invadir a coisa mais importante da minha vida: o hospital. Como vou voltar a trabalhar no hospital esbarrando com esse cara lá dentro?

Ele merece por todos os dias da semana que passou, em que tive que largar meu trabalho, para não correr risco de dar de cara com eles no hospital.

Ele simplesmente merece, muito mais do que pretendo fazer. Porque depois desse discurso dele, se eu tivesse alguma dúvida de que ele está retornando ao meu convívio, não tenho mais.

Eu não bebi... Bom, na festa não... Bebi em casa, mas eu me encontro bem lúcido, para estar sob influência da bebida que tomei mais cedo. E estou bem consciente dos meus atos neste momento. Desde que cheguei na festa eu apenas tomei uma dose de whisky, mas se forem perguntar a qualquer um que esteve comigo a noite toda, vai dizer que eu entornei até o último gole.

Eu sei fingir muito bem. Sou mestre nisso!

Finjo que estou feliz!

Finjo que está tudo bem!

Finjo que não me importo com o Doutor Max.

Finjo que as submissas dos meus irmãos não servem para eles.

Finjo que não acredito no amor.

Finjo tão bem, que até eu mesmo acredito nas minhas próprias mentiras. E assim vou fingindo até onde der.

"Homem não sofre por amor, Bernardo e nem chora!!!" Essa foi a maior mentira que me contaram até hoje... E que eu sigo com todas as minhas forças. Como se fosse um mantra.

Para alguém descobrir a minha mentira, precisaria prestar atenção em mim.

Até pra isso eu tenho sorte!!!

Os meninos perceberiam que não bebi, desde que eles não estivessem tão envolvidos com suas próprias submissas.

Minha mãe me abraça e murmura.

-Por favor meu filho... Pense no hospital!

Relaxa D. Irene. Não vou fazer ninguém passar vergonha. Era só um susto mesmo!

Queria mostrar a ele que não estou disposto a aceitar ninguém. Principalmente no meu hospital. Onde eu dei o sangue para que ele se transformasse no que é hoje. E que não vai ser tão fácil assim, me tirar do jogo.

Eu prometi a Camila que ia ficar bem. E me esqueci dessa promessa.

Não quero ver aquela sombra em seu olhar novamente.

Eu me lembro bem quando a vi pela primeira vez. Foi no nosso segundo encontro em que ela percebeu que eu não ia jogar com ela, sem ela me contar a verdade. Aquela sombra de sofrimento. Então se o meu comportamento está trazendo sofrimento para ela, eu não vou fazer isso em sua frente! Não quero que ela volte a se mutilar.

Olho para a platéia e vejo Arthur e Paulo vindo para a frente do palanque com caras de assustados. Eles parecem não enxergar nada na frente. Só se lembram da bendita lealdade que nós temos. Paulo balança a cabeça me pedindo para não fazer isso.

Tenho um pouco de fé em mim, seus paspalhos!

Tio Armando impede de eles subirem no palanque. Esse sim tem fé em mim.

Olho para Willian e ele está sério logo em frente ao palanque me olhando. Esperando a bomba que eu pronunciarei!

Relaxa mané... A sua bomba vai vir de forma diferente!

Mais agradeça a Camilinha. Graças a ela que não farei o discurso original. Aquele que eu treinei em casa na frente do espelho. Olho para a mesa onde estava sentada e a vejo ao lado da Duda, com aquele olhar vazio... Como se eu fosse arrancar de seu coração as esperanças que eu pus lá. Porque foi eu que trouxe a esperança para o seu coração novamente. Não era justo eu tirar isso dela, como seus pais fizeram a muitos anos atrás.

Sorrio para minha mãe que me olha com olhos aflitos e começo meu discurso.

-Bom amigos , como meu pai bem falou ele sofreu bastante com a ida do filho prodígio a nossa querida ilha Irlandesa. Infelizmente papai do céu não mandou dois filhos "deuses" para ele. Apenas um...Ele teve que ficar com o quebra galho aqui... E vocês sabem como são as coisas…Deuses só conversam com deuses. Afinal quem aqui sabe o que seja uma bainha de Mielina, que não seja neurologista? Os neurologistas costumam se considerar os deuses da medicina. Acho que eles têm razão! Porque só eles para tratarem de um órgão com tanta complexidade como o cérebro humano. Feio, asqueroso, enrugado, esponjoso e monótono, porém excepcional! - Todos concordam com a cabeça e sorriem. - Na verdade é que ter um filho ortopedista não deve ser prazeroso. Escutar como eu quebrei os ossos para por um pino, ou como cerrei uma perna fora, ou como usei a furadeira com precisão. Quem prefere ouvir o discurso de um pedreiro, se pode ouvir um discurso de um Deus? -todos riem novamente. -Meu pai estava cansado de não ter alguém do cacife do meu irmãozinho para auxiliá-lo. E eu agradeço ao William por ter voltado! Pelo menos eu vou ter uma folga e não vou ter dor de cabeça toda vez que ele quiser falar sobre sinapses, tumores e aneurismas. Porque vamos combinar, quem se importa com aneurisma, quando podemos falar de um trauma na coluna partida em vários lugares. Para nós simples mortais, é bem mais emocionante ver sangue e ouvir o som de ossos se quebrando. Então William, seja bem vindo ao seu seio familiar... Você pode ser o filho Deus... eu deixo... Mas não se sinta tão à vontade assim... Eu ainda continuo sendo o filho mais divertido, mais bonito e mais sarcástico de papai!!! Esse posto você não me rouba!

Vejo Paulo e Arthur suspirando de alívio. Tio Armando começa a bater palma para o meu discurso e todos os outros o acompanham.Minha mãe ainda continua em meus braços eu a olho e sorrio.

-Obrigada, meu filho!

Eu a aperto mais e dou o microfone em sua mão.

Ela se vira e fala.

-Depois de cantarmos o Parabéns teremos fogos de artifício lá fora! Obrigada pela presença de todos.

Viro as costas e começo a descer as escadas, quando meu pai me segura pela mão.

-O quê pretendia com isso?

-Te irritar? -gargalo olhando para ele. -Acho que consegui.

-Bernardo…

Chego mais perto dele e digo em seu ouvido.

-Agradeça Camila pelo meu discurso bem humorado. Porque foi graças a ela que você não passou uma vergonha daquelas.

Sorrio novamente e me desvencilho dele descendo as escadas.

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