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A Redenção do Ogro romance Capítulo 95

Bernardo Thomson

-Meu filho se acalme, vai dar tudo certo. -Ela diz, me apertando pela cintura.

Ainda estou nos braços dela e Paulo tenta me sustentar ao meu lado.

Meu pai me olha de um jeito que nunca vi...Não vejo nenhuma contrariedade e muito menos cara feia por eu estar sendo fraco... Eu só vejo compaixão…

Antes que eu caia novamente, não conseguindo me sustentar, olho ao redor procurando um banco. Estamos em frente aos quartos. Ninguém fica sentado nos corredores, é um lugar em que as pessoas circulam de um lado para outro. Mas existem alguns banquinhos na frente dos balcões onde as enfermeiras ficam. E é pra lá que eu vou.

Me sento e minha mãe se senta de um lado. Paulo fica em pé na minha frente e meu pai se senta do outro lado.

-Desculpe pai, pela cena que acabou de ver…

Minha mãe dá a entender que vai falar algo, mas ele fala antes que ela.

-Você está com medo de perder o amor da sua vida. Nessas horas qualquer um perde o chão debaixo de nossos pés. Você não é um fraco meu filho. Me desculpe por fazer você acreditar nisso.

Eu olho para ele, achando muito estranho o que ele me diz, mas não falo nada.

-Arthur vai conseguir salvar ela e vocês ainda me darão muitos netos.-Minha mãe diz e eu confirmo, mas não consigo parar de chorar.

Sinto alguém pondo a mão no meu ombro, e me surpreendo vendo que é meu pai. E assim dessa forma , ele me puxa para um abraço.

Eu nunca imaginei que eu desejava tanto um abraço do meu velho... Mais estando aqui, tão perto e sentindo seu cheiro, vejo que esse abraço me fez falta a vida toda.

E em vez de me acalmar eu só choro mais... Muito mais…

Eu estou sendo aceito pelo meu pai?

Diante de tantas imperfeições que ele sempre fez questão de enumerar. Eu estou sendo consolado pelo meu pai…

-Você é um garoto muito especial! Tem um coração enorme... Não merece passar por isso... Eu sei que ela vai sair dessa. Eu tenho certeza!

-E se ela não sair, pai?

-Você sempre tem a opção de recomeçar... Você não está sozinho. Eu sempre quis o melhor para você e o Willian.

-O melhor para nós, não é o que você quer, pai.

-Hoje eu sei. Eu fiz isso de maneira muito errada, mas eu sempre estarei aqui para o que vocês precisarem. Nunca duvidam disso!

E eu só choro mais…

Acho que não preciso falar nada para dizer o quanto eu esperei por ouvir isso do meu pai. Então é verdade que quando envelhecemos passamos a ser mais sábios, fora que as porradas da vida nos fazem crescer na mesma proporção. O Willian me provou isso e agora ele me surpreende. Eu também pretendo sair dessa história muito melhor do que entrei.

Eu aceito o carinho que ele resolveu me dar. É tardio? Sim... Mas veio no momento mais difícil da minha vida.

O momento em que corro o risco de perder meu passarinho.

E isso me basta!

*************

Depois de um tempo com meus pais, eu consigo me recompor e me levantar. Entramos no elevador e viemos para o andar da cirurgia. Meus pais ficaram na recepção. E eu e Paulo viemos no trocar. Vamos assistir a operação da salinha de antissepsia.

Acho que eu precisava perder o controle, para estar aqui agora... Eu estava a dez longos dias me segurando para não desabar na frente dela, mostrando uma força que eu não tinha.

Vejo que eles já iniciaram a cirurgia e paro diante da porta de vidro, prestando atenção em todos os aparelhos e todos que estão lá. Vejo que Camila já está aberta.

O primeiro a nos ver é o tio Armando que balança a cabeça. Logo depois ele fala para Arthur, e ele nos olha debaixo do óculos que ele usa para operar.

Ouço quando ele diz.

-Serra.

Enfim... Vai começar ... E eu sinto as minhas pernas tremerem novamente, então eu me sento no chão me apoiando na porta de vidro de costas para eles.

-Quer sair? -Paulo me pergunta se abaixando na minha frente.

Digo que não com a cabeça.

-Só me diga o que está acontecendo...

-Porque não vamos para a recepção Bernardo. Você não está bem para ficar aqui...

-Depois... Eu preciso estar perto... Por favor me diga o que está acontecendo.

-Ok! -Ele se levanta e olha pela porta de vidro. -Ele começou a serrar as costelas.

E assim ele vai me narrando a cirurgia.

Eu fecho os olhos e só fico ouvindo sua voz.

*******************

Quatro horas depois

-Não dá para eu enxergar... O átrio esquerdo é pequeno demais.

-O quê acha de expor a veio pulmonar superior?

-Pode dar certo... Tesoura.

Eles ficam em silêncio por um longo período. Bem longo para mim.

-Ainda não consigo, está vendo... Tem muita fibrose e isso causa tensão nas paredes. Não dá pai.

-O quê quer fazer?- tio Armando diz.

Há um silêncio no recinto. Eu continuo sentado no chão de costas para eles. Paulo está sentado num banco observando tudo. Me levanto do chão e olho pelo vidro, vendo ele parado com as mãos sujas de sangue para o alto, olhando para o peito de Camila. É a primeira complicação que ele encontra desde que começou.

Ele suspira, fecha os olhos e continua com as mãos para cima. Ele está pensando. Cada cirurgião tem uma forma de fazer isso no centro cirúrgico.. Às vezes é operar com música, outras são gestos.

Tio Armando está do lado dele... Ele me olha e tenta me tranquilizar com o olhar…

Eu sei que uma cirurgia nunca é igual a outra... E que há imprevistos... Pelo jeito ele acabou de encontrar um imprevisto na sua frente.

-Eu vou tirar o coração…

-Auto transplante cardíaco para uma reconstrução valvular? -tio Armando pergunta assustado.

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