Dirigindo pela autoestrada, em direção a Mazatlán, sigo concentrado na estrada, mas completamente perdido em pensamentos sobre mim e Melanie e sobre o quanto minha vida mudou drasticamente desde a primeira vez em que fizemos amor. Tenho noção de que estou completamente enredado por essa menina doce e inocente, mas que me tem totalmente em suas mãos. É estranho perceber que me acostumei ao seu jeito suave, a como ela se aninha em meu peito para dormir depois que fazemos amor, sei que estou completamente ferrado e que do ponto onde estou não tem mais volta, pois estou me apaixonando por ela perdidamente.
Ainda não me sai da cabeça sua alegria ao aceitar meu convite para passar o final de semana na praia. Naquele momento, percebi que ela não teve infância e que uma coisa tão trivial, como ir à praia, para ela é um mundo novo que se abre, até mesmo agora, o simples andar de carro para ela é uma novidade sem tamanho, tendo em vista seu estado de felicidade e contemplamento ao olhar pela janela. Perceber o quanto essa menina sofreu por todos esses anos naquele convento e por trazer as marcas da dor impressas em sua pele imaculada me faz morrer por dentro, porque sei que eu poderia ter evitado tudo isso se tivesse sido mais presente em sua vida e não a tivesse negligenciado tanto como fiz todo esse tempo. Quando vi as marcas dos açoites em suas costas, me senti um miserável e tive vontade de matar aquela miserável da madre Yolanda, por ter me enganado de uma forma tão vil e baixa, pois mesmo não conseguindo visitá-la eu sempre ligava para saber como ela estava e a madre sempre mentia dizendo que ela estava bem, saudável e que adorava morar no convento junto com suas irmãs noviças. Tudo uma baita mentira só para me ludibriar e me induzir a mandar o cheque todo mês.
Aquela maldita vai me pagar! Ah, se vai!
Fecho os punhos ao redor do volante com ódio crescendo cada vez mais dentro do peito. Ódio da maldita mulher, mas muito mais ódio de mim por ter sido um maldito e não ter honrado minha promessa de cuidar dela.
Olho para o lado e vejo como ela parece uma criança feliz, olhando tudo ao redor com um sorriso gigante estampado no rosto. Agradeço internamente o fato dela estar completamente entretida em admirar tudo que vê e não perceber meu estado de cólera.
Na noite do dia em que descobri os maus tratos que ela sofreu em toda sua infância, se estendendo pela vida adulta, fiz outro juramento a mim mesmo, enquanto ela dormia serenamente em meus braços: jurei que a faria feliz pelo resto dos meus dias, mesmo sabendo que não a mereço, pois além de ser bem mais velho que ela, algo que me incomoda por demais, tem o fato de ter sido um canalha maldito por tê-la abandonado à própria sorte quando ela mais precisou de mim. Confesso que fui um maldito covarde quando voltei a morar em Sinaloa, pois deveria ter insistido mais em vê-la nas vezes em que ia visitá-la no convento e a madre me enganava dando desculpas esdrúxulas, impossibilitando nosso contato, porque acreditei na palavra da madre de que ela adorava morar no convento e não queria nenhum contato com o mundo exterior para não abalar sua fé e convicção.
Idiota!
Dirijo em silêncio fazendo o máximo possível para que ela não perceba a guerra interior que travo comigo mesmo enquanto guio o carro pela estrada. Estava tão perdido em pensamentos que fico admirado ao ver a placa de “Bem-vindo a Mazatlán”, e agradeço internamente por ter conseguido chegar ao meu destino sem ter me perdido. Guio o carro por entre as ruas repletas de turistas. Mazatlán é uma cidade resort, conhecida por suas belas praias e pelos deliciosos frutos do mar.
─ Olha a praia, Ethan! ─ Olho para Melanie que está radiante no banco do passageiro, com um sorriso que ilumina todo o seu rosto, irradiando alegria.
Estendo a mão e acaricio seu rosto com as costas da mão.
─ Você está feliz, Anjo? ─ Ela sorri mais ainda diante da minha pergunta.
─ Muito! Como há muito tempo não estive. ─ Dispara com sinceridade.
É a primeira vez que a vejo tão feliz e tão à vontade comigo desde que passamos a morar juntos, sob o mesmo teto, me congratulo por estar proporcionando a ela um pouco de alegria, mesmo que tardiamente.
Sigo pelas ruas da cidade indo em direção ao norte, mais precisamente rumo à Playa Las Brujas, que é uma praia mais afastada de todo o burburinho dos turistas e suas aglomerações, pois quero ter o máximo de privacidade com minha menina mas, principalmente, quero que ela fique à vontade e curta a praia.
Melanie está totalmente deslumbrada com tudo o que vê, olhando ao redor encantada. Pego a Avenida Sábalo Cerritos e mais alguns minutos de estrada chego a Playa Las Brujas. Estaciono e olho na direção de Melanie que olha aturdida para a bela praia de tirar o fôlego.
─ Chegamos, Anjo. ─ Ela olha em minha direção ainda com o olhar admirado.
─ É lindo aqui, Ethan.
─ Vamos descer? ─ Ela assente e apressa-se a desafivelar o cinto de segurança.
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