Anjo Protetor romance Capítulo 3

A escuridão do ambiente não me permite distinguir quando é dia ou noite. Depois de cinco dias, eu acho, pois perdi completamente a noção do tempo e do espaço, já não tenho mais forças para chorar ou clamar misericórdia, não quando tudo o que tenho como resposta é o silêncio e indiferença.

Muitas vezes cheguei a pensar que Deus se esqueceu de mim no momento em que fui abandonada à própria sorte, sem pai, sem mãe e nenhum outro parente vivo na terra e, ainda para piorar tudo, fui largada nesse inferno de convento sem perspectiva de vida ou de um futuro. Dói tanto essa solidão que às vezes chego a pensar que teria sido melhor que tivessem me deixado para viver nas ruas, como os meninos que trabalham na feira, pois eles são livres para ir e vir quando quiserem e, bem ou mal, têm uns aos outros para contar, como se fossem uma pequena família. Acho que por isso me senti tão próxima a eles quando os conheci, pois eles são como eu, sem ninguém na vida e com um futuro incerto, vivendo um dia de cada vez.

Sentada no chão frio da cela, sem forças, penso que não há motivo para viver ou lutar. Sei que sou nova ainda e que tenho a vida inteira pela frente, pois tenho apenas dezessete anos, mas eu já não me importo mais com o que me venha acontecer, com meu futuro ou qualquer outra coisa. Lembro que várias vezes me imaginei saindo daqui e fugindo com os meninos para qualquer outro vilarejo de Sinaloa, sendo livre e feliz, fiz planos de arrumar um emprego, alugar uma casa para mim e os meninos e, quem sabe, fazer uma faculdade futuramente. Tudo ilusão, porque sei que jamais sairei daqui e tudo o que o futuro me reserva é uma vida triste, amarga e sem nenhuma perspectiva de felicidade.

O barulho das trancas da porta chama minha atenção, porém não me mecho, fico parada apenas aguardando o prato contendo um pão e um copo com água que me é entregue todo dia, apenas para que eu não morra.

─ Noviça, levante-se, seu castigo acabou. ─ A freira diz assim que a porta é aberta.

Não compreendo de imediato o que ela diz, pois achei que ainda estava no quinto dia de castigo, mas vi que minha mente e a solidão me pregaram uma peça.

Apoio as mãos na parede para tentar me levantar com uma força sobre-humana, meu corpo todo treme por causa da falta de alimento. Com muita dificuldade consigo ficar em pé e, me apoiando na parede, sigo para fora do quarto, mas assim que coloco meus pés fora, tenho que cobrir meus olhos por causa da claridade. Foram dias sem ver a luz do sol e, por isso, minhas retinas queimam, fazendo com que meus olhos lacrimejem.

─ Vamos logo! Eu não tenho o dia todo, noviça! ─ Esbraveja impaciente a freira.

Ando o mais rápido que meus pés conseguem para sair o quanto antes da masmorra em que fui jogada.

─ Vá para seu quarto e passe o dia por lá, uma freira levará sua comida. Descanse e coma bem para amanhã de manhã estar forte para dar continuidade aos seus afazeres na cozinha. ─ Assinto e faço meu caminho para o quarto lentamente. A freira passa por mim sem nenhum tipo de compaixão por meu estado.

Mas também o que eu estava querendo? Um abraço maternal e cuidados? Esse tipo de demonstração de afeto jamais vi aqui, pelo tempo em que estou neste convento, tudo o que presenciei foi frieza e dureza.

Finalmente consigo chegar ao quarto e, assim que adentro o ambiente, deito-me sobre a cama com o corpo debilitado pela fome e pelo esforço de me deslocar até o quarto. Consigo pegar no sono imediatamente em que minha pele toca os lençóis.

Não sei por quanto tempo dormi, só sei que algum tempo depois acordo por causa de um barulho no quarto. Olho para o lado e vejo a irmã Consuelo depositando sobre a mesinha ao lado da minha cama uma bandeja com comida. Sinto o aroma delicioso do pozole invadir minhas narinas e todo o ambiente e, nesse instante, meu estômago começa a roncar.

Tento levantar-me, mas meu corpo fraco não me permite, então caio na cama outra vez. Assim que percebe que estou acordada e que não consigo levantar, ela traz a bandeja até mim.

─ Sente-se que eu colocarei a bandeja em seu colo para que consiga comer, criança. ─ Assinto e me sento na cama, uma dor absurda me rasga no momento em que encosto no espaldar da cama, por causa dos açoites, mas com jeito consigo encontrar uma posição que me permita comer.

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