Caminho Traçado - Uma babá na fazenda romance Capítulo 29

Denise explicou o mesmo que disse a tia, e mesmo desconfiado, o tio acreditou na versão da sobrinha.

— Quando acontecer uma coisa dessas, você deve me chamar na mesma hora, filha, eu já não gostava muito do senhor Túlio, com uma dessas, agora fico mais revoltado ainda.

— Mas o importante que já está tudo esclarecido, tio, o Saulo me ajudou.

— Senhor Saulo, Denise, senhor! — Corrigiu. — Mesmo que vocês pareçam tem a mesma idade, ele é nosso patrão também, deve-se manter a distância e o respeito entre funcionário e chefe, para não ter nenhum tipo de confusão.

— Tudo bem, tio, agora vou dar uma volta, tá?

— E onde você vai?

— Vou caminhar um pouco, como começo a trabalhar amanhã, tenho que aproveitar meu último finalzinho de tarde de folga.

— Tudo bem, mas cuidado por aí, amanhã vai ter festa e estão montando algumas coisas lá na praça, tem muita gente estranha andando pela vila.

— Está bem, mais tarde eu volto.

Denise saiu de casa, e dando uma volta no quarteirão, encontrou o carro de Saulo parado, próximo à rua da praça principal. Ela se sentia uma adolescente, que saía escondida de casa para encontrar um namoradinho.

Entrou no carro onde Saulo a aguardava.

— Como você está linda morena. — Já foi lhe elogiando, lhe dando um beijo casto.

— Acho que deveria te colocar um apelido também. — Ela riu.

— Me chama de amor, que vou gostar demais.

Denise nada respondeu, apenas sorriu. Saulo deu partida no carro e saiu dali dirigindo rumo à capital.

— O que seus tios falaram? — Perguntou preocupado.

— Nada de mais, só me questionaram o porquê de ter falado para você primeiro, antes de contar a eles.

— E o que você disse?

— Eu disse que você é meu namorado e que vai me defender.

Saulo parou para olhar o rosto dela, que estava vermelho e segurava uma risada.

— Sério? — Perguntou.

— Estou brincando, disse que acabei te encontrando no caminho para o canavial e acabei tocando no assunto.

— Se tivesse dito que eu era seu namorado, não me importaria.

A voz dele saiu séria, mas ela tentou não se iludir, lembrou do que o tio falou sobre Saulo acabar sendo também seu patrão, mesmo que eles estivessem com essa intimidade toda, não iria rolar algo sério, afinal, por que ele se interessaria por ela?

— Gosto do seu senso de humor. — Ela disse.

— Eu não estou brincando desta vez, estou falando muito sério.

— Para onde estamos indo? — Mudou o assunto.

— Quero te levar para jantar num lugar legal, não se preocupe, não iremos demorar.

— É bom mesmo, porque amanhã tenho que acordar bem cedo.

— Por que não reconsidera e vem trabalhar para mim?

— Porque já arrumei um emprego, e, além disso, já te disse que não daria certo.

— Como faremos para nos encontrar agora? — Ele perguntou.

— Quer mesmo continuar me vendo?

— Claro que quero, você não quer mais me ver? — Questionou.

— Claro que quero. — Assumiu.

— Você tem alguém em sua vida, Denise?

— Claro que não, acharia que ficaria com você se eu tivesse alguém?

— Não, não é isso! — Se explicou.

— Por quê? Você tem? — O questionou.

— Não, não tenho ninguém. — Ele disse.

Os dois chegaram à capital e comeram num restaurante japonês, Denise se sentiu frustrada, já que ela gostava mesmo era de carne assada.

Mas nada disse ao rapaz, afinal eles estavam se conhecendo, ele não deveria adivinhar todos os seus gostos de cara.

Após o jantar, passearam por uma avenida beira-mar.

— Você vai para a festa amanhã a noite? — Ele perguntou.

— Sim, irei com tia Lúcia.

— Queria te ver amanhã, quem sabe podemos aproveitar o show juntos.

— Não tem medo das pessoas te verem comigo?

— Por que teria? Não estou devendo a ninguém e como você disse, também não estar, por que não podemos ser vistos juntos?

— Saulo, se meus tios me verem com você, vão ficar me perguntando se temos algo, por mais que eu seja maior de idade, moro na casa deles, e tenho de certa forma, que dar explicações, não teria problema nenhum da gente estar juntos na festa, mas por você de certa forma ser meu patrão também, não é bom que nos vejam tão próximos.

— Entendi seu ponto de vista, mas agora quero que entenda o meu. — Virou-se para ela, olhando diretamente em seus olhos. — Eu sei que nos conhecemos há poucos dias, mas estou gostando de você e quero te conhecer mais, e se para isso acontecer, eu tenha que ir pedir a permissão dos seus tios, eu irei.

— Você está falando sério? — Perguntou surpresa.

— Eu disse que os ingleses são diretos, então quero deixar claro minhas intenções, desde o começo, para que você não tenha nenhuma dúvida e também, caso você não querer o mesmo que eu, ser sincera e me desiludir de uma vez.

— Eu… — A moça estava sem palavras. — Quero pagar para ver onde tudo isso vai dar.

No caminho para a vila, os dois vieram em silêncio, cada um vinha divagando em suas mentes.

Denise ainda estava pensando nas palavras do rapaz, por mais que estivesse vivendo um sonho, tinha os pés bem no chão, sabia que a qualquer momento o conto de fadas poderia vir a baixo.

Lembrou de seu antigo relacionamento, que começou quando tinha dezesseis anos, um namorinho de escola que acabou se tornando sério. O nome do rapaz era Fábio, e foi com ele que Denise havia planejado todo seu futuro. Fábio foi o seu primeiro amor e ela sonhava que eles ficariam juntos para sempre. Mas seu sonho se desmoronou, após sua avó adoecer, como ela precisava cuidar da senhora idosa e acompanhá-la muitas vezes ao hospital, quando ficava internada. O namorado começou a se sentir incomodado, por não ter mais a atenção e tempo da moça, mesmo ela explicando toda a situação. Certo dia, quando a avó teve alta antes do previsto, Denise aproveitou para fazer uma surpresa para o namorado, entretanto, a surpreendida acabou sendo ela, pegando no flagra seu namorado com a vizinha, que ele jurava ser apenas uma amiga.

Daquele dia para cá, ela parou de acreditar nos homens, e se houvesse algum que prestasse, teria que provar realmente.

O carro parou na esquina da casa da tia, já que ela pediu para que ele não a deixasse na frente de casa. Antes de descer do carro, ele chamou a sua atenção.

— Vou conversar com seu tio, assim não precisamos fazer nada escondido.

Ela sorriu desacreditada, mas, no fundo, desejava que aquilo fosse verdade.

Se despediram com um beijo demorado, e logo depois, ela saiu do carro.

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