Stefanos
Fechei a porta do quarto atrás de nós, trancando o mundo lá fora. Ela ainda estava em meus braços, mas sua respiração não era leve como antes.
Era contida.
Tensa.
Caminhei com ela até a beirada da cama e me sentei, acomodando Nuria no meu colo como se fosse feita de algo que eu não pudesse perder. O sangue seco ainda tingia sua mão, e foi ali que levei minha atenção primeiro.
Segurei seus dedos delicadamente, observando o corte já quase fechado.
O sangue azul.
O dom.
A maldição.
Inclinei o rosto e pressionei os lábios sobre a pele ferida, deixando um beijo lento ali. Um gesto de devoção. De silêncio.
Ela não disse nada.
Mas não precisava.
Eu a conhecia demais pra não notar que algo se movia por trás daquele olhar calado. Uma guerra interna. E ela ainda não sabia se podia confiar em mim com tudo o que carregava.
"Você... não é boa em esconder tensão, Ruína." Falei, os olhos fixos nela. "E eu não sou bom em fingir que não percebo."
Ela desviou o olhar, tentando sair do meu colo, mas eu não deixei.
"Não estou te recriminando em nada..." continuei, e ela me analisou. "Só quero entender mais sobre a pessoa que está comigo."
Ela mordeu o lábio, e não de um jeito sexy. Era bruto, autodestrutivo. E eu sabia que ela se machucaria se continuasse.
Ergui minha mão até sua boca e a desprendi dos dentes, alisando com carinho.
"O que está te afligindo, Luna?" a encarei, e seus enormes olhos azuis me estudaram por um tempo.
"Não está com medo de mim? Ou sentindo repulsa?" suas palavras pareciam lâminas.
"Por que eu sentiria isso? Você acabou de salvar uma vida. A vida de alguém importante pra mim. Pra alcateia."
Ela soltou o ar.
"Eu não sei lidar com a forma como todos me olharam quando perceberam o que eu fiz. Não sei lidar com essa exposição… mas eu precisava agir. Não podia deixar que Rylan morresse."
"E é isso que me faz ter mais certeza de que escolhi a Luna certa pra minha alcateia." A abracei novamente, e ela apoiou o queixo no meu ombro. "Foda-se o que os outros pensam. O importante é que você fez o que era necessário."
Ela se afastou e sorriu de leve.
"Mas isso tudo me fez lembrar de algo," continuei. "Quando eu caí na emboscada… a forma como me curei rápido. A pomada que você passou..."
Ela permaneceu em silêncio, os lábios entreabertos.
"Não foi só ervas, foi?"
Ela me encarou. E eu soube.
"Não é a primeira vez que você usa seu sangue aqui, é?"
Ela fechou os olhos por um segundo. E quando abriu, havia culpa neles. Mas também... coragem.
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