Nuria
Eu estava ficando louca.
Completamente fora de mim.
Ainda sentia o toque dele na minha pele. Os dedos. A língua. A boca.
E o pior? Eu não conseguia me arrepender de absolutamente nada.
A cabeça ainda latejava com tudo que tinha acontecido... e meu corpo...
Meu corpo estava em um estado que eu nem sabia nomear.
Como foi que eu, a mesma loba que quase morreu dias atrás, arranquei a roupa como se estivesse entregando o coração nas mãos de um inimigo? Como foi tão fácil me abrir daquele jeito pra ele?
Tão despudorado.
Tão instintivo.
Tão… natural.
Fechei os olhos, respirando fundo. Mas o cheiro dele estava ali.
Imerso no quarto. Impregnado na cama. Nos lençóis. Em mim.
"Você é uma safada!", murmurei para dentro, falando com a criatura que vibrava dentro de mim.
"Você quase nos matou só pra chamar a atenção daquele cretino delicioso, não foi?"
Minha loba ronronou.
RONRONOU.
Como se tivesse sido pega no flagra, mas ainda assim se sentisse orgulhosa da própria ousadia.
"Você é ridícula, sabia? A gente podia ter morrido de verdade!"
Ela soltou um rosnado preguiçoso. Como quem diz: vale a pena morrer por um macho daqueles.
"Ah, me poupe", resmunguei, me levantando da cama, com as pernas ainda fracas, mas firmes o suficiente para me arrastar até o banheiro.
Girei o registro e deixei a água cair. Primeiro gelada, como um castigo pela minha falta de controle, mas aos poucos… fui ajustando a temperatura.
Não dava pra me enganar.
Eu queria ficar limpa, sim.
Mas também queria ficar cheirosa.
Comecei a passar o sabonete com mais atenção do que deveria.
Pelos braços. Pelo pescoço. Entre os seios.
A espuma escorria, e meus dedos deslizavam mais lentos do que o necessário.
Desci até a barriga… e quando cheguei entre as pernas, fechei os olhos.
O toque dele ainda estava ali. A boca dele. O jeito como ele me devorou como se minha alma estivesse presa no meio das coxas.
Arfei.
Sacudi a cabeça, como se isso apagasse o pensamento. Peguei o shampoo.
Lavei o cabelo duas vezes, como se isso fosse deixá-lo mais brilhante, mais macio...
Passei o condicionador com cuidado, massageando cada mecha, e terminei cantarolando baixinho uma melodia que eu mal podia esperar pra tocar no violino.
Assim que saí do box, limpei o espelho com a palma da mão e encarei meu reflexo.
Havia um brilho nos meus olhos que eu não via há muito tempo. Um rubor bonito nas bochechas. Um ar quase... vaidoso.
Foi aí que caiu a ficha.
Cada gesto meu, cada produto escolhido, cada gota de sabonete… tudo tinha um único propósito:
Chamar a atenção dele.
Suspirei, enrolando a toalha ao redor do corpo com força, tentando conter o cheiro doce e instigante que agora se espalhava pelo banheiro, flor selvagem misturada com calor de loba.
Meu cabelo pingava, cheiroso, sedoso, com aquele perfume que só servia pra uma coisa: anunciar pra ele, e pro mundo, que eu estava pronta.
Pronta pra ser tomada.
Olhei pro espelho novamente, horrorizada com a constatação.
"Você não vale nada", murmurei pra mim mesma, mas nem consegui disfarçar o sorrisinho idiota que escapou no canto da boca.
Minha loba só riu.
"Ah, cala a boca", rebati em voz alta. "Você que começou com essa palhaçada. E agora tá aí, perfumada e com o rabo abanando."
Ela respondeu com outro rosnado. Preguiçoso. Satisfeito.
Como quem diz: e funcionou.
Revirei os olhos.
"Eu te odeio."
Mas no fundo… eu tava sorrindo.
Porque parte de mim (a que ele despertou) gostava dessa sensação de estar viva.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: Capturada pelo Alfa Cruel