O Restaurante que Daniel me indicou ficava na área mais nobre da capital. Um lugar sem muito movimento corriqueiro, completamente afastado da parte comercial. Só havia mais um restaurante naquela região, do mesmo estilo.
Coloquei um vestido tomara que caia, sóbrio, num cinza mesclado escuro, não muito justo nem muito solto. Por cima, um blazer preto, com sapatos scarpin da mesma cor. Eu parecia uma mulher séria e confiável. Aliás, eu não parecia... Era uma mulher séria e confiável. Exceto pelo fato de estar com um tomara que caia, que ninguém saberia, já que o casaco deixava tudo completamente em harmonia no look de procurar emprego.
Na entrada principal do restaurante, tinha dois manobristas, que recebiam os carros e levavam para não sei aonde, já que não havia nenhum estacionado nas redondezas. Certamente havia um estacionamento privativo para os clientes.
O local não era muito grande, mas tinha enormes janelas de vidro e uma iluminação fraca do lado de dentro. Parecia não ter muitas pessoas naquele momento.
Mas entrar pela frente não era o que eu faria. Eu estava ali para uma entrevista de emprego, num restaurante, para área de marketing. Estranho, mas ao mesmo tempo não acredito que Daniel estivesse mentindo.
Perguntei a um dos manobristas como acessar a área reservada para funcionários e me dirigi até lá.
Fui recebida por uma mulher jovem e afobada. Expliquei que havia vindo para a entrevista. Ela me levou por um pequeno corredor, que passava pela cozinha envidraçada, onde um chefe de cozinha, todo vestido de branco, preparava os pratos enlouquecidamente, auxiliado por outras duas pessoas. Consegui sentir o cheiro da comida e abriu meu apetite.
Logo fui para uma sala pequena, com duas poltronas, de frente para uma porta de madeira de lei, bem pintada em verniz claro.
- Você pode esperar aqui. Estou muito atarefada hoje, pois um dos funcionários faltou. Neste caso, estou exercendo duas funções ao mesmo tempo. – ela revirou os olhos. – Logo o senhor Ricci chega e a atenderá.
Antes que ela saísse, perguntei:
- Mas... Ele costuma fazer entrevistas aqui mesmo? Não há um... Recursos Humanos, em outro local? O escritório funciona junto com o restaurante? – achei aquilo tão diferente de tudo que eu já havia presenciado em entrevistas de emprego.
- O senhor Ricci é muito exigente... Até demais. – Reclamou. – Então, antes de passar pelo RH, você passa por ele. Caso ele não vá com a sua cara, você não avança, querida. – Sorriu. – Mas vale a pena passar por tudo. O salário é bom. Ele sabe recompensar bem os escolhidos.
Ela virou e eu questionei novamente:
- Ei... A vaga é para... Área de Marketing, estou certa?
- Sim. Pelo que sei, o senhor Ricci está querendo mudar o logotipo do restaurante... Inovar ou algo do tipo. Então, infelizmente, creio que seja um emprego temporário ou pago pela sua produção.
- Entendo...
Ela saiu e eu sentei, aguardando.
Eu não me importava que fosse temporário ou que ele me pagasse somente pela criação do novo logotipo. Devia ser daqueles italianos exigentes com tudo e que só confiava em si mesmo.
Cinco minutos depois e levantei, inquieta. Esperar não era muito minha praia. Eu era uma pessoa ansiosa e por isso fazia uso de medicamentos controlados. E às vezes nem eles conseguiam me acalmar.
Passada meia hora, eu já andava de um lado para o outro e não vi nem o senhor Ricci, nem a mulher que me atendeu. Meu pé já batia no chão insistentemente, com o salto agulha ecoando na minúscula sala.
Impaciente, fui procurar a mulher. Encontrei-a no telefone. Esperei ela desligar e perguntei:
- Você sabe se ele realmente vai me receber?
- Já deve estar vindo. Talvez tenha tido algum imprevisto. Mas... Caso não possa esperar, aviso que você esteve aqui.
- Não... Vou esperar mais um pouco. – Afinal, eu não tinha nada mais importante para fazer, a não ser realizar aquela entrevista de emprego, que independente de como fosse a contratação, eu precisava.
Voltei para o pequeno cômodo que cheirava à comida italiana, com duas poltronas e um porta em madeira, completamente solitário e vazio.
Quando deu 21 horas eu imaginei que o homem não viesse mais. Andei em direção ao outro corredor e fui procurar a mulher novamente. Quando passei pela porta, ela se abriu e um homem saiu de lá com um prato. Foi tudo muito rápido e não nos vimos, chocando nossos corpos. E a comida acabou caindo sobre minha roupa.
Além de queimada, eu estava suja de molho de tomate. A mulher veio por outra porta, preocupada:
- O que houve?
- Eu... Acho que minha entrevista já era. – Olhei para meu vestido sujo no peito.
- Eu... Já ia avisá-la que o senhor Ricci teve um imprevisto e falou que não conseguiria vir. Mandou que você voltasse amanhã. Que má sorte. – Ela olhou diretamente para minha roupa.
- Me desculpe... – o homem falou, visivelmente constrangido.
- Tudo bem... Não foi culpa de ninguém. Só nos batemos... Um acidente. Acontece!
Ele começou a limpar o chão.
- Você se machucou? – ela perguntou.
- Não... Estava quente, mas o tecido grosso evitou uma queimadura mais séria.
- Eu não lhe ofereço o banheiro dos funcionários porque está em reforma. Mas pode ir ao dos clientes, sem problemas. Ninguém perceberá que você não é uma funcionária, pois está sem uniforme e bem vestida.
- Preciso pelo menos me limpar antes de ir embora. Obrigada. Eu... Volto para falar com o senhor Ricci. – falei incerta se realmente voltaria.
Fechei o blazer, para não mostrar a sujeira no meu vestido, na região dos seios.
- Os toaletes ficam à sua direita, assim que sair nesta porta.
- Obrigada. E me desculpe pelo transtorno.
- Boa noite. – Ela disse, já saindo apressada.
Passei pela porta e adentrei no grande salão. As mesas eram pequenas e comportavam no máximo quatro pessoas. O lugar era muito requintado e até as luzes eram fracas, dando certa intimidade aos clientes enquanto comiam. Conversar baixas, exceto num pequeno grupo de homens muito bem vestidos numa das laterais.
Apertei os dedos comprimindo o tecido do blazer, para que não se abrisse, já que não tinha botões. Enfim vi a porta do banheiro e entrei rapidamente.
Me olhei no espelho e vi o estrago na roupa. Era muita falta de sorte. Certamente não daria para reaproveitar, pois ficaria manchado. O banheiro tinha três cabines com portas em vidro escurecido. O espelho ficava em frente às pias de vidro, acopladas em mármore branco de luxo. O espelho cobria toda a parede.
Retirei o blazer e coloquei sobre o balcão em mármore, enquanto umedeci um papel e comecei a passar na mancha, não obtendo resultado.
Comecei a suar levemente, já agoniada. Prendi meus cabelos num coque, usando os próprios fios loiros para segurá-lo. Então peguei um pouco de sabonete líquido e passei sobre o tecido que abrigava meu peito. O tecido, mas enquanto esfregava a manga do blazer do avesso com força, começou a sair a mancha avermelhada.
Ouvi o som da porta se abrindo e olhei pelo espelho quem chegava. E esperava qualquer coisa, menos um homem... Ou melhor, menos “aquele homem”.
Nossos olhos se encontraram na imagem do espelho. Senti um frio na barriga e fiquei imóvel. Ele também pareceu surpreso, pois ficou um tempo sem dizer nada, apenas me observando.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Como odiar um CEO em 48 horas
Bom diaa cadê o capítulo 97...
Gostaria de saber o nome do escritor tbm, muito bom o livro, né acabei de rir e de chorar tbm.lindooooo!!!...
Gostaria de saber o nome do escritor(a), pois a leitura foi interessante, contagiante e bem diferente. Seria interessante procurar outras obras do autor....
Por que pula do 237 para o 241 ?...