Como odiar um CEO em 48 horas romance Capítulo 89

Salma sentou na cama:

- Me desculpe por ter falado sobre você e Heitor para Daniel.

- Tudo bem. Eu só... Não quero que ninguém saiba, além de vocês dois.

- Eu vou respeitar seu desejo, assim como você respeitou o meu de não vê-lo na nossa casa aquela noite. – ela tocou meu rosto, carinhosamente.

- Onde está Daniel? – Ben perguntou.

- Eu o dispensei.

- Dispensou? – perguntei.

- Mandei ele embora. Porque eu sabia que tinha acontecido alguma coisa com Ben. Ele nunca chega em casa deste jeito... Quieto.

Ben sorriu:

- Isso é que é estranho, meus amores. Eu era para estar gritando agora. E simplesmente não consigo. Estou completamente travado. Meu coração está estranho, meu corpo não me obedece. Eu posso ter vindo sorrindo desde o Motel até aqui, entendem?

- Sim. – nós duas dissemos, começando a rir.

- Ok, eu também quero falar uma coisa. – Salma disse.

- Que bom, dona Salma. Faz um tempinho que você não se abre com a gente. – falei.

- Ah... Eu não consigo ser um livro tão aberto quanto vocês. Mas só para que saibam, eu tenho um diário. E lá eu escrevo tudo que gostaria de falar, mas às vezes não consigo. Acho perfeito a forma como vocês dois conseguem contar suas experiências amorosas e sexuais. Mas... Eu não fico muito à vontade com isso. No entanto... Sim, eu posso contar que... “Talvez” eu esteja gostando de Daniel.

Deus... Não acredito! Mas ok, não vou dar uma de metida ou estraga prazeres. Se ela está gostando dele, vou deixar tudo acontecer. Se Daniel for um mau caráter, como eu imaginei que pudesse ser, mais cedo ou mais tarde a minha amiga vai descobrir. O que eu não posso é jogar um balde de água fria no que ela está sentindo. Porque raramente ela se abre conosco. Então temos que acolhê-la e dizer que vai ser legal. Porque é isso que amigos fazem: ouvem. Se conselhos fossem bons, eu teria ouvido o deles e não teria perdido oito anos da vida passando o que passei ao lado de Jardel.

- Eu... Fico feliz por você, Salma. – a abracei e depois toquei sua barriga. – Ei, Maria Lua, acho que temos uma mamãezinha apaixonada.

- Eu contei a ele sobre minha gravidez.

- Contou? E o que ele achou? – Ben perguntou, curioso.

- Ele não me julgou. Eu... Disse que fiz inseminação artificial. – ela abaixou os olhos.

- E... Não foi isso que você fez? – perguntei, ainda confusa com toda a história sobre a paternidade de Maria Lua, que cada hora ela dizia uma coisa diferente.

- Esta parte... Eu deixo no diário. – ela sorriu. – Se um dia eu tiver coragem, deixo vocês lerem. Mas contar... Eu... Não consigo. Me perdoem. Ainda mais agora que...

- Que? – Ben olhou para ela.

- Meus amigos, eu amo tanto vocês. E não quero magoá-los por nada. Principalmente você, Babi. A gente se conhece desde sempre. – ela tocou meu rosto. – Você é o que eu tenho de mais importante na vida... Minha referência de amor... E sabe disto.

- Ei, vou ficar com ciúmes. – Ben reclamou.

- Eu também amo você, Ben. Mas eu e Babi nos conhecemos desde sempre. Ela sabe a porra de vida que tive junto da minha família. Hoje eu olho para trás e vejo que eu venci. – ela deixou as lágrimas caírem grossas por seu rosto. – Eu venci...

- Nós vencemos. – Apertei Salma contra meu peito, num abraço. – Eles jamais mereceram você, Salma.

- Viva sua vida como quiser, Salma. – Ben nos abraçou. – Se você se sentiu bem com Daniel, se joga, meu amor.

- Eu... Nunca gostei de me envolver sentimentalmente com ninguém e vocês sabem disto. Mas... É como se eu o conhecesse a minha vida inteira. E ele apareceu justo agora, quando minha barriga já começa a aparecer. Mas ele aceitou, entendem?

- E não tinha motivos para não aceitar, Salma. Você contou a verdade e é isso que importa. Jogou limpo. – falei.

- Ok, já que estamos contando nossas verdades: minha vez. Vocês entenderam que eu e Tony transamos, não é mesmo?

- Claro que sim. – Salma começou a rir enquanto ainda limpava as lágrimas.

- E foi a primeira vez de Tony.

- E... Ele gostou? Você gostou? – perguntei.

- Meninas, foi amor... Não foi sexo, entendem?

- Falou a pessoa que diz que “sexo é sexo”. – Comecei a rir.

- E... Não é para você? – Salma me encarou.

- Eu acho que não... Para mim sexo não é só sexo. Com Jardel foi sexo, mas sim, houve sentimento um dia. E quando o sentimento acabou, virou algo forçado, que eu não queria, que eu fazia por fazer... Ou por ser obrigada.

- Ele... “Obrigava” você? – Salma me olhou apavorada.

- Algumas vezes... Sim. – confessei.

- Obrigava como?

- Ele... Tirava minha parte de baixo da roupa e se enfiava em mim. Sem... Estímulo, sem esperar eu umedecer... Até se satisfazer. Então ele saía... E... – eu não consegui segurar as lágrimas. Era a primeira vez que eu falava sobre aquilo com alguém.

Os dois ficaram me olhando, sem dizer nada.

- Você pode falar sobre isso... E tudo bem, Babi. Talvez seja hora de botar para fora. – Ben me olhou.

- Não quero monopolizar esta conversa, gente.

- Não é sobre monopolizar. É sobre verdades. – Salma limpou minhas lágrimas. – Quem sabe falar fará bem para você.

- Às vezes eu me pego lembrando. E comparando todos os homens com ele. Então... Eu tenho medo. Quando ele me tocava eu fechava os olhos. E só rezava para passar logo. Eu não sei dizer se eu tinha dor por causa da endometriose. Porque toda relação sexual com ele era dolorida. Só não foi no início, bem no início.

- Isso é estupro. – Ben me encarou.

- Acha que eu não sei, Ben? Eu era estuprada pelo meu próprio namorado.

- Cafajeste... Nojento. – Salma falou, em tom de voz alterado. – Monstro.

- Eu... Não pensei que chegasse a tanto. Achei que o pior que poderia ter acontecido era você ter entrado em áreas de traficantes, buscando-o e arriscando a ser morta. Mas o estupro é pior que tudo, Babi. – Ben apertou a minha mão.

- Como você conseguiu resistir e suportar tantos anos? Eu não entendo...

- Acha que eu entendo? – as lágrimas insistiam quando a imagem dele vinha na minha cabeça. – Eu fiquei completamente fora de mim... Ou, como acho às vezes, esta sou eu de verdade e aquela Bárbara não existia...

- Mas não foram oito dias... Nem oito meses. Foram oito anos. Quase uma década. – Ben disse.

- Ele não me estuprou por oito anos. – tentei justificar.

- E faz diferença se foi uma vez ou trinta? – ele me encarou.

Abaixei a cabeça.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Como odiar um CEO em 48 horas