Cheguei da Perrone e abri a porta do prédio, dando de cara com uma motocicleta velha num canto. Nem sabia se era permitido colocar aquilo ali dentro. Nem bicicletas era deixadas ali, próximo da porta, atrapalhando a passagem pela escadaria. Seria uma boa ideia colocar dentro do elevador. Pelo menos ele serviria para alguma coisa, já que agora estava estragado de vez.
Subi dois degraus de escada e voltei, olhando a motocicleta novamente. Apesar de maltratada pelo tempo, ela permanecia bonita. Lembro de ter visto aquele modelo em revistas há muitos anos atrás, quando eu mal havia entrado na adolescência. Eu tinha uma certa paixão por motos, mesmo tendo andado poucas vezes em uma.
Jardel comprou uma motocicleta uma vez. Andei na carona um tempo e ele me deixou dirigir alguns minutos. Lembro que foi uma das melhores sensações de liberdade que já tive. Pouco tempo depois ele trocou a motocicleta por cocaína.
Subi novamente, tentando afastar os pensamentos ruins. Como era complicado me livrar daquele passado que eu tentava enterrar e vez ou outra vinha me assombrar, em lembranças dolorosas e que castigavam e me faziam sofrer.
Assim que entrei no apartamento, vi Salma arrumada.
- Está na hora de você sair? – olhei no relógio. – Ainda é cedo?
- Não... Eu vou dar uma volta antes, com Daniel.
Arqueei a sobrancelha:
- Que bom! Depois vão direto para a Babilônia?
- Sim.
Ben entrou minutos depois de mim:
- Alguém deixou um ferro velho na passagem da escada. Eu quase caí. Vou reclamar para o síndico. Por muito menos já recebi multa do desgraçado. Não é justo.
- Ei, a motocicleta é minha. – Salma disse enquanto colocava batom se olhando num pequeno espelho que tirou da bolsa.
- Sua? – perguntei.
- Você comprou aquela porra?
- Claro que não. Adivinhem? “Papai” morreu. – ela sorriu.
- “Papai” de verdade, ou papai de mentira? – perguntei, enrugando a testa.
- Papai de verdade. Por isso vou sair... Será que deveria abrir um espumante para comemorar, como você fez quando Jardel bateu as botas? – ela me olhou.
- Acho que podemos deixar o espumante para o papai de mentira. Merece até banho de espumante, na Babilônia. – sugeri.
- Boa ideia, Babi. Quando este se for eu vou até pagar o funeral dele. Para poder fazer uma falcatrua e mandar jogar o corpo numa vala comum.
Eu a abracei:
- Faça tudo isso... Se fizer bem à você, vai fundo amiga. Eu não me arrependo da comemoração pela morte do homem que roubou oito anos da minha vida.
- E o que você vai fazer com aquele ferro velho? – Ben perguntou.
- Velha, mas perfeita. – falei.
- Vou jogar fora. No lixo... Doar, não sei.
- Não... Não pode fazer isso! – eu disse. – É uma moto que foi das mais vendidas um tempo atrás.
- Recebi como herança por ser a única filha registrada dele. Além do mais, acho que ninguém tem certeza se os outros filhos que ele criou eram realmente dele. Então sobrou para mim o ferro velho. E nem pude dizer não. Jogaram aqui dentro e me deram a “boa notícia”. Presente de grego. Não vou ficar com aquela porcaria.
- Antes de se desfazer, deixa eu dar uma volta pelo menos. – pedi.
- Você sabe andar de moto?
- Sim.
- Tem habilitação? – Ben perguntou.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Como odiar um CEO em 48 horas
Bom diaa cadê o capítulo 97...
Gostaria de saber o nome do escritor tbm, muito bom o livro, né acabei de rir e de chorar tbm.lindooooo!!!...
Gostaria de saber o nome do escritor(a), pois a leitura foi interessante, contagiante e bem diferente. Seria interessante procurar outras obras do autor....
Por que pula do 237 para o 241 ?...