Jogo de Intrigas romance Capítulo 12

Depois do café, Heitor escapole da mesa com a desculpa de ter que ir para a escola.

Eu tento me oferecer para levá-lo, mas ele já está longe quando consigo concluir a frase. Exalo um suspiro profundo. Limpando a boca com o guardanapo, eu me levanto da mesa e vou até o quarto onde Joaquim ainda deve estar dormindo.

Subo as escadas, pensando que vou precisar matricular Quim em uma escola na Sicília, o mais breve possível. Não quero que ele tenha problemas com relação ao aprendizado.

Mas vai ser difícil. Muito.

Quim sabe pouco de italiano, apenas o que eu ensinei a ele no Brasil, por pura diversão. Não é o suficiente para manter um diálogo, por exemplo. Será um processo penoso no novo colégio, com todos os amiguinhos italianos falando rápido ao seu redor.

Eu espero que o irmão possa ajudá-lo.

Empurro a porta do seu quarto devagar para não acordá-lo, mas os olhos de Joaquim já estão abertos, ainda que sonolentos.

— Bom dia, meu amor.

Ele boceja, olhando ansioso para a janela fechada.

— Já está muito tarde?

— São oito horas, querido — eu atravesso o quarto, abrindo as pesadas cortinas e permitindo que o sol ilumine o cômodo. — Tarde para que?

— Para ver o meu pai.

O meu estômago contrai.

Fico de costas para que Joaquim não possa ver o meu semblante fechado.

— Ele já saiu, Quim. Tinha algumas coisas importantes para resolver.

— Ele foi trabalhar?

— Provavelmente.

— O que ele faz?

Suspiro, andando até a cama e me sentando ao seu lado. O colchão macio afunda com o meu peso.

— Como assim ‘o que ele faz’?

O garoto revira os olhos.

— Qual é o emprego dele, mãe?

Meu coração palpita.

É sério que eu vou ter que responder essa pergunta as oito horas da manhã?

— Ele é um... executivo.

— Como assim?

“Como assim? Seu pai executa as pessoas”, penso ironicamente.

— Ele tem um negócio muito grande — digo simplesmente, torcendo para ele aceitar a resposta e desistir de uma vez daquele interrogatório. —  Bastante influente aqui na Sicília e, também, boa parte da Itália.

— Uau! Por isso ele é rico?

— Sim — eu afago a sua cabeça. Ao contrário de Heitor, o cabelo é curto e mais escuro. Heitor herdou a maior parte dos meus traços físicos, enquanto Joaquim tem a aparência do pai. — Você gosta que ele seja rico, não é?

— Eu prefiro que ele goste de mim.

Ah, merda.

Meu coração afunda no peito.

O meu filho é mesmo sensacional. Tenho certeza de que Heitor também é, só está escondendo o jogo. Não quer se abrir de primeira para uma mãe que é uma completa estranha.

Quem pode julgá-lo?

— Tem uma outra pessoa que eu quero que você conheça.

— Quem?

— Seu irmão.

Os olhos de Joaquim se arregalam.

— Eu tenho um irmão?

Eu balanço a cabeça.

— Isso te preocupa?

— Não, é irado! — ele exclama, sentando-se na cama de supetão. — Eu sempre quis ter um irmão.

— Jura? Você nunca me pediu isso.

Ele ri, achando graça.

— Você nem tinha um namorado, mãe. Como ia fazer para me dar um irmão?

Escuto um pigarro na porta e, quando eu me viro, Theodoro está nos encarando fixamente.

Inferno.

Ele ouviu toda aquela história sobre eu não ter um namorado? Com certeza foi informação demais, muito além do necessário.

— Eu posso entrar? — pergunta, educadamente.

Está agindo muito diferente do que demonstrou, meia hora atrás, lá embaixo.

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