Uma tarde no shopping não me parece de todo ruim.
Pelo menos não na companhia de Heitor.
Quando apareço na porta da escola, com Vicenzo e um segurança a tiracolo, meu filho não faz questão de esconder um olhar de rejeição.
Eu já esperava por aquilo, tendo em vista o seu comportamento no café da manhã. Então, apesar de triste, não me surpreendo. Estou determinada a conquistá-lo, usando todas as armas que tenho. Sei que não são muitas, mas o amor de mãe deve contar bastante pontos a meu favor.
Do carro, um Bentley preto que Theodoro reservou para mim, envio uma mensagem para Alessandra. Só hoje o estúpido do Theodoro resolveu devolver meu celular.
O que ele estava pensando, afinal? Que eu chamaria a polícia?
Bem que ele merecia.
Heitor escorrega no banco traseiro do Bentley até estar o mais longe de mim possível. De braços cruzados, ele olha pela janela. Não está a fim de conversa.
Decido usar um pouco de psicologia infantil para conseguir sua atenção.
— Tive uma ideia, mas não sei se você vai gostar — quebro o gelo, esperando que as palavras tenham o efeito desejado.
Heitor me olha com sua visão periférica.
— Que ideia?
Sorrio por dentro.
”Boa, garota!”, tenho vontade de gritar.
— Preciso ir ao shopping, mas não tenho companhia. Então, se estiver disponível...
— Vai fazer aquelas coisas de mulher? — ele me surpreende.
— Que coisas, Heitor?
— Cabelo, unha, depilação... — ele enumera nos dedos, dando de ombros em seguida. — Você sabe, todas essas coisas tão chatas.
Dou uma risada alta que o deixa espantado.
Então levo uma das mãos a boca, me controlando.
— Bom, não vou mentir. Talvez eu precise de uma roupa nova.
Ele solta um suspiro dramático.
— Pronto, eu sabia...
— É só uma roupinha e prometo não demorar - digo apressada. — Foi um pedido do seu pai.
Isso parece despertar o seu interesse.
Heitor levanta as sobrancelhas.
— Um pedido ou uma ordem?
— Como assim?
— O meu pai não é muito bom em fazer pedidos. Agora, em dar ordens...
Caramba.
Machuca pensar que Heitor pode ter vivido durante seis anos sob as regras rígidas de Dom Tremesso. Por isso pergunto:
— Como é a relação de vocês?
— O que?
Viro o corpo na direção do garoto, decidida a me aproximar dele de qualquer forma.
— Seu pai e você são amigos?
Heitor franze a testa.
— Ele é meu pai. Amigos eu tenho na escola.
Apesar do seu, aparentemente, habitual mau humor, não acho que ele esteja sendo insolente. Está repetindo uma frase que escutou muitas vezes até estar decorada.
Mais uma vez eu me culpo por ter fugido da Itália sem lutar por esse garoto com unhas e dentes. Mesmo tendo que enfrentar toda a máfia siciliana, nada me parece pior agora do que saber que Heitor foi criado por um tirano sem coração.
Eu escondo a minha tristeza por trás de um sorriso.
— Acho que um pai pode ser um pai, sem deixar de ser um amigo.
Ele me olha, pensativo.
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