Um cumprimento desajeitado e formal, essa é a reação de Heitor e Joaquim na presença um do outro.
Observar os meus filhos juntos, pela primeira vez, é como ter uma escola de samba inteira dentro do meu coração. Eu queria me ajoelhar, abrir os braços e apertar os dois com força até que eles sufocassem.
Theodoro costumava dizer que era o meu jeito brasileiro. A carioca que habita em mim é calorosa o suficiente para adorar beijos e abraços. E para gostar de ver o circo pegar fogo, claro.
Só que não posso fazer isso agora. Não posso agarrar aqueles dois e enchê-los de carinho, exatamente como eu desejo. Primeiro, eu preciso conceder espaço a eles.
Durante a apresentação desengonçada dos filhos, Theo está presente e não está, ao mesmo tempo. O cappo está ao telefone ditando ordens em italiano naquele seu tom imperioso. Ele corre as mãos pelo cabelo e esfrega o rosto, visivelmente irritado.
Eu que não queria ser a pessoa do outro lado da linha. Ela, com certeza, está passando por um mau momento.
Quando Theodoro desliga o telefone, a expressão do seu rosto vai modificando até atingir aquele ar impassível ao qual eu já estou habituada.
Quim esfrega a ponteira do seu tênis novo na grama do jardim. Enquanto Heitor permanece de braços cruzados encarando o chão.
— Eu tive uma ideia — digo de repente e Theo revira os olhos.
Quim me olha, curioso.
— Qual, mãe?
— Vamos ao parque de diversões! O que vocês dois acham?
Os olhos dos dois garotos se iluminam e eles se viram para mim ao mesmo tempo, mas assim que percebem a reação do outro, voltam a se encolher, envergonhados.
— Não vou poder participar — Theodoro diz, depressa. — Tenho uma reunião de negócios em uma hora.
Heitor não parece se incomodar, mas Quim levanta os olhos para o pai, notoriamente desapontado.
— Nem um pouquinho? — meu filho pergunta. — Quer dizer, só uns minutinhos...
— Infelizmente, não — Theo conclui, mas ao perceber o olhar de Quim, ele franze o cenho e coça a nuca. — Podemos marcar alguma coisa no final de semana. Você, Heitor e eu.
Joaquim se vira para mim, com interesse.
— Mas e a mamãe? Você esqueceu dela?
Theo não responde. Em vez disso, grunhe alguma coisa ininteligível.
Idiota.
Decido botar lenha na fogueira.
— Bom, eu sei que eu não posso esperar até o final de semana — provoco os meninos. — Quero ir agora. E vocês dois?
— Sim — eles respondem em uníssono.
Eu me viro para Theo com um sorriso triunfante.
O cappo está com cara de quem comeu e odiou.
Bem feito!
— Então vamos, garotos. Vai ser uma tarde excepcional.
Envolvo os dois com meus braços, como uma boa mamãe polvo, empurrando-os gentilmente para que saiam do lugar em direção a nossa nova aventura até que...
— Esperem — Theo ordena, dando uma olhadela no Patek Phillipe em seu pulso. O relógio de pulseira dourada é de fazer qualquer ricaço babar. — Acho que posso demorar alguns minutos.
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