Se eu achei que o pior havia passado, quando saio do banheiro e dou de cara com Isabela Tremesso, no andar superior da casa, percebo que estava enganada.
Era esse o momento que eu vinha adiando a noite toda.
A irmã de Theo parece deslumbrante em um vestido azul de veludo. A gola alta deixa seu pescoço ainda mais longo e ressalta o os traços marcantes do rosto, como a boca larga e os olhos castanhos impiedosos.
Não há ninguém naquele andar além de nós duas e eu presumo que aquilo não seja obra do acaso.
— Vitória Prado— ela me olha com desprezo. — Parece que Theo esqueceu de me contar as novidades. Quando foi que você voltou?
— Há alguns dias. Como você vai?
— Eu? — ela me mede de cima a baixo. — Já estive melhor com certeza. Era para ser uma noite incrível, mas eu tive algumas surpresas... indesejadas.
— Bom, você sabe o que dizem: nem tudo e perfeito.
— É verdade.
— Agora, se me dá licença, eu vou voltar lá para baixo.
Viro de costas para ela e começo a me afastar. mas paro, no topo da escada, ao ouvi-la chamar o meu nome.
— Vitória, eu ainda não acabei de falar com você.
— É uma pena. Porque com certeza eu já escutei o bastante.
Decido ignorar Isabela, deixá-la falando sozinha do jeito que ela merece. Continuo minha descida pela escadaria em espiral, mas ela vem atrás de mim e me alcança no meio do caminho.
— Você é muito mal educada. Eu imagino que isso tenha a ver com sua maldita raça brasileira.
— Não, isso não tem nada a ver com meu país de origem, nem mesmo com a minha classe social. Tem a ver com sua falta de respeito mesmo — respondo, irritada, e ela agarra o meu antebraço. — Do que adianta o sobrenome e a fama, se você é uma maldita bruxa mal amada e amargurada? E solta o meu braço. Agora!
— Isso, isso. Comece a gritar, faça um escândalo. Theo merece descobrir de uma vez por todas, a vadia ordinária com quem ele se casou.
– Eu. Mandei. Você. Me. Soltar — grunho com o maxilar trincado.
Ela abre um sorriso vingativo.
— É verdade que você trouxe um bastardo com você? O garoto é filho de quem, afinal? De qual dos seus amantes?
Puxo o meu braço e Isabela se desequilibra. Ao escorregar com o salto do seu sapato no degrau, ela solta um grito tão alto que irrompe pelo salão lotado no primeiro andar. A banda interrompe a música que está tocando e todos os olhares se voltam para nós duas.
Ela continua gemendo, o rosto transfigurado pela dor. Mas quando tento ajudá-la, a irmã de Theo me afasta com raiva.
— Sua maldita, olha o que você me fez fazer — ela diz entredentes.— Por que você tinha que voltar e estragar nossas vidas de novo? Por que não podia ficar satisfeita no buraco onde estava?
Fico sem ar e o meu coração quase sai pela boca.
Sem pensar, desço correndo pelas escadas e vou para o mais longe possível dela. Não vou mais ouvir aquelas barbaridades.
Atravesso todo o salão do baile, em meio aos olhares de reprovação dos outros convidados, e alcanço o jardim, com lágrimas inundando os meus olhos. De frente para a piscina imensa e iluminada, seco o rosto com as costas das mãos.
Já chega.
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