Jogo de Intrigas romance Capítulo 25

Quando chego em casa, vou direto para o quarto de Heitor dar um beijo de boa noite.

De pé ao lado da sua cama, admiro a beleza clássica, seu ar etéreo como o de um anjo. Com os olhos fechados, muito mais relaxado, meu filho não exibe aquele ar desafiador nem a tristeza que vejo frequente em seus olhos.

Mesmo assim, o meu coração dói por ele. Venho tentando me mostrar presente e confiável, mas Heitor ainda não sente segurança suficiente em mim para poder se abrir. Nem para me chamar de mãe, o que é compreensível.

Mas eu não vou desistir. Não vou desistir nunca.

Depois de sair do quarto de Heitor, vou até o de Joaquim. Já passa da meia noite e não espero vê-lo acordado, mas me surpreendo ao entrar e me deparar com seus olhos arregalados na penumbra.

A luz do abajur está acesa, mas quando Quim me vê, seu suspiro de alívio é inconfundível. Ele está assustado. Coberto até o pescoço, ele me segue com os olhos, enquanto fecho a porta do quarto, agora decorado com um papel de parede dos seus heróis favoritos.

Eu me aproximo da cama, o som do salto abafado pelo carpete, e me inclino sobre ele, dando um beijo em sua testa.

— Já é tarde, filho. Por que não está dormindo?

— É que eu tive um pesadelo.

Eu me sento na beirada do colchão, tirando os sapatos. Faz tempo que não uso saltos tão altos! Pode parecer um escândalo à primeira vista, mas não troco o conforto de uma sapatilha por uma arma mortal dessa. “Destruidor de pés” era como minha mãe adotiva chamava e ela tinha toda a razão.

— Lembra-se do que eu disse para você? — pergunto.

— Um pesadelo é só um pesadelo — Quim respira fundo e eu acaricio sua testa, empurrando o cabelo para trás. Os fios escuros já cresceram desde que chegamos a Sicília, mas ainda estão longe de estarem compridos como os de Heitor. — Ele não pode me pegar.

— Muito bem. Então por que não fecha os olhos e tenta dormir um pouco?

Ele me encara, indignado.

— Você nem quer ouvir sobre o que foi?

— Se você acha que vai se sentir melhor contando...

— Eu vou me sentir melhor — garante em um acesso de coragem típico de um menino de cinco anos.

— Então pode falar, filho.

Quim me encara com gravidade antes de proferir as palavras seguintes em um tom sussurrado.

— Eu sonhei que você morria.

Ah, é isso?

Abro um pequeno sorriso e solto um suspiro, encantada com a sua inocência. Meu filho está crescendo, bem diante dos meus olhos, mas ainda conserva aquele tipo de ingenuidade que eu jamais desejaria ver ir embora.

— Isso é muito normal, quando somos crianças — explico. — Quero dizer, sonhar com a morte de alguém que amamos e ficar com medo por isso.

— Mas era o papai que matava você.

Ai.

Não posso evitar. Fico toda arrepiada. Especialmente depois da briga tenebrosa dessa noite com Isabela e Theodoro. Mas não posso aceitar que seja um sonho premonitório. E de jeito nenhum vou dizer isso a Quim, é claro.

— Ok, isso é um pouco pior. Mas não vai acontecer.

— Jura?  

— Eu juro.

— Por que ele ama a gente, não é?

Eu demoro um pouco a responder.

Olhando dentro dos seus olhos, procuro as palavras certas para explicar como a relação entre seu pai e sua mãe é complicada, sem destruir os sentimentos que Joaquim tem por ele, nem por essa família.

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