Atravesso a pesada porta de madeira, pronta para despejar meia dúzia de verdades sobre Theodoro. Mas quando o encontro sentado na beirada da mesa, e não por trás dela como de costume, as palavras morrem.
Mordo o lábio inferior, quando percebo que trocou de roupa para uma calça de moletom branca e camisa cinza de algodão de aparência macia e confortável. Está absolutamente sexy. Descalço, braços cruzados assim como os tornozelos, ele me encara com a cabeça levemente pendendo para baixo.
— Você queria falar comigo — tomo fôlego. — Então estou aqui.
Theo suspira, descendo da mesa para o tapete preto felpudo com um movimento lento. Ele parece pouco à vontade, como se não estivesse muito certo do que está prestes a dizer.
— Não vou tomar muito do seu tempo, prometo.
Meu sangue ferve.
Tomar o meu tempo? Aquilo é uma piada? Meu tempo agora, basicamente, consiste em fazer compras e tomar sol na beira da piscina. E o pior, nenhuma dessas coisas me faz feliz. Passo a manhã desesperadamente ansiosa pelo retorno de Heitor da escola e, em breve, estarei fazendo isso por Quim também.
Não posso imaginar nada mais enfadonho. Como pude aturar isso durante três anos? Eu devia ser mesmo incrivelmente fútil e vazia. Na verdade, acho que voltar para o Brasil foi a melhor coisa que eu fiz. Com todas as dificuldades que eu enfrentei – e não foram poucas –, havia o sentimento de que eu era útil para alguma coisa. Eu era importante na vida do meu filho. Eu tinha o dever de protegê-lo, o dever de cuidá-lo... agora, todas as coisas vêm sendo tiradas de mim e o meu medo é que, em breve, não reste mais nada.
Pisco algumas vezes quando noto Theo caminhando em minha direção. Finco os pés no chão, sem a menor intenção de recuar. Se ele quiser me castigar pela minha insolência, então que ele me castigue. Já não me importo mais. Tudo o que eu quero é acabar de vez com aquele suplício.
Os olhos dele se fixam nos meus.
— Quero que você saiba que o que aconteceu hoje nunca mais vai se repetir.
— Do que está falando?
— Trancar você no quarto — a expressão dele vacila, parece angustiado. — Eu nunca quis que isso acontecesse. Fizemos votos no passado e ainda que eles tenham se mostrado falhos, não deveria ter agido assim com você.
A ficha demora a cair, mas quando acontece, eu arquejo com o peso das suas palavras. Ele está mesmo se desculpando?
Infelizmente, é um pouco tarde para ele mostrar algum senso de moral. E não há pedido de desculpas suficiente para o que ele me fez.
Constatar isso faz meu coração se apertar.
— É estranho porque você já tinha até ameaçado fazer isso antes — cruzo os braços e levanto o queixo, ferida.
— Eu sei, mas foi uma ameaça vazia. Eu nunca teria chegado as vias de fato se...
— Se?
Theodoro franze o cenho, me olhando na defensiva.
— Se não tivesse faltado com o respeito a mim. Mesmo assim, admito que não foi uma atitude justa. Você estava nervosa e eu tive uma parcela grande de culpa.
— Uma parcela muito grande — olho para ele, desconfiada. — Então você reconhece que estava errado?
Theo balança a cabeça, concordando.
— Quando você me alertou sobre o erro em levar os garotos àquela festa, um alarme acendeu dentro de mim. Mesmo assim, decidi ignorá-lo.
— E por quê?
— Para irritar você — ele confessa com um olhar torturado. — Colocá-la no seu devido lugar.
Meu queixo despenca.
Não é possível. É isso mesmo o que eu estou ouvindo?
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