— Está tudo pronto para o aniversário. Fizemos exatamente como a senhora pediu.
— Ótimo — balanço a cabeça, satisfeita. — Garanta que haja bebida suficiente sendo servida e, também, charutos de boa qualidade. É que os amigos de Theodoro adoram fazer: beber e fumar.
— Está certo, senhora.
— Pode ir, Felipa. Chamarei você se precisar.
Com um aceno de cabeça, a criada se afasta pelo corredor.
Olho ao redor, para os novos quadros que pendurei nas paredes e que trazem uma sensação acolhedora. São fotografias. Mas não apenas fotografias, são emoções também.
Nas últimas semanas, Theodoro tem feito o possível para não invadir o meu espaço pessoal. Nos tornamos dois estranhos vivendo dentro da mesma casa. De uma certa forma, é ainda pior do que antes, quando vivíamos duelando por poder.
Ainda assim, Heitor e Quim estão naquela fase de lua de mel quando conhecemos um melhor amigo. Tudo em um é capaz de irritar ao outro, mas nada disso é suficiente para separá-los.
Em benefício de Theo, devo admitir que ele vem se dedicando a reconstruir os laços entre ele e o filho mais velho. Conquistar o carinho de Heitor, assim como de graça, recebeu o de Joaquim. Ainda que me preocupe com meu filho caçula, tenho me obrigado a relaxar um pouco e deixar que ele aproveite a companhia do pai descoberto há tão pouco tempo. Eu me coloco sempre no lugar dele e consigo imaginar a alegria de ter alguém para admirar, ainda que essa pessoa não mereça tanto assim a nossa admiração.
Outra coisa... fico pensando na rapidez com a qual me adaptei, outra vez, a essa realidade. O passado no Brasil vem ficando cada vez mais distante. Sou de novo a Senhora Tremesso, esposa do grande e temido Theodoro Tremesso, chefe da máfia na Sicília.
Só uma coisa está diferente.
Dessa vez, estou fingindo. É claro.
Depois que Theo me liberou como sua prisioneira, decidi que não fazia mal participar do seu jogo. Só que, dessa vez, eu não seria apenas um peão, mas uma participante muito discreta. E sua oponente... lutando pelo prêmio da minha própria liberdade.
E, enquanto não chegasse o momento de dar a minha cartada final, eu estaria ao seu lado como qualquer boa esposa estaria. Salvo uma única exceção: ele e eu não dividimos a cama desde aquela única vez após a festa de Isabela, e isso já faz semanas. A separação de corpos é a única coisa da qual não abro mão, já que quando estamos juntos, minha razão vai para a droga do espaço.
E preciso manter a cabeça no lugar porque pretendo chegar aos meus objetivos em breve.
Hoje, é aniversário de Theo e aceitei organizar uma festa surpresa a pedido de Joaquim. Contratei uma equipe de buffet, garçons e uma orquestra para tocar no jardim. Cuidei da iluminação, disposição das mesas e toda a organização, e pedi que os seguranças ficassem atentos a qualquer eventual problema.
Dessa vez, estaremos preparados para os inimigos de Theodoro. E se eles vierem, não sairão daqui com vida.
À noite, os convidados vão chegando e a festa vai ganhando vida, aos poucos. É um evento chique, elegante, mas também discreto no estilo de Theo Tremesso. Não conheço a maioria das pessoas e as que conheço não suporto. Foram as mesmas que riram e cochicharam sobre o meu retorno a família, há algumas semanas.
Essa noite, elas fazem o impossível para me agradar e eu dou o troco, sendo tão fria e impessoal o quanto consigo. Algumas delas ficam envergonhadas, outras fecham a cara diante do meu tratamento. Mas não dou a mínima. É justo que provem do próprio veneno e eu estou só fazendo o mínimo.
Há muito tempo, Theo me contou histórias de esposas e, até mesmo, amantes de membros do alto escalão da máfia que pediram a cabeça dos seus desafetos.
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