O estranho me olha de cima a baixo, como se pudesse ver através das minhas roupas.
— Uau, que gato — Alessandra brinca com o canudo no copo. — Minha cunhadinha continua arrebatando corações.
Eu me viro para ela, assustada. Não pelo que disse, lógico, mas porque os olhos daquele homem mexeram comigo de um jeito incomum.
Incomum e ruim.
Faço sinal ao barman, pedindo outra bebida. Preciso relaxar com urgência. Luto contra uma sensação desconfortável que eu nem mesmo sei de onde vem.
Respiro fundo, me sentindo claustrofóbica perto de toda aquela gente esnobe. Nem mesmo a presença de Alessandra está sendo capaz de salvar a noite. Embora, para minha sorte, Isabela tenha voltado para resolver negócios em Milão, o que me garante que estou livre de ver sua cara de ordinária essa noite.
Pelo menos um motivo de alívio.
— Não quero o coração de ninguém, pode acreditar — sorrio com algum esforço.
Alessandra franze o nariz pequeno e arrebitado.
— Que chato. Não tem nada mais divertido para se colecionar nessa vida do que os corações masculinos.
Pisco os olhos, um pouco surpresa com suas palavras.
— Que coisa horrível de dizer, Alessandra.
— Ah, agora fui eu quem virei a bruxa? — ela vira na garganta o restante do líquido que estava no copo. — Por que os homens têm tantos privilégios e a nós ficou destinado a bondade e a paciência infinita? Me poupe, Vitória. Eu só estou tomando de volta o que é meu. Cortesia das minhas ancestrais.
Balanço a cabeça, incrédula. Minha amiga está precisando de uma intervenção.
E rápido.
Seguro sua mão por cima do balcão, olhando dentro dos seus olhos.
— O que está acontecendo com você? Partiram seu coração ou o que?
Ela me olha, com um vazio infinito.
— Todas as malditas vezes.
Estou prestes a pedir a ela um desabafo mais detalhado, quando todo o sistema de iluminação do jardim é desligado e somos engolfados pela escuridão sem fim.
Levo a mão ao peito onde o meu coração palpita, descontrolado. Flashes da festa onde Joaquim foi sequestrado disparam dentro da minha cabeça. Mas, de repente, as luzes se acendem de novo e todos os convidados gritam ao mesmotempo: Surpresa!
Vestindo terno preto e camisa branca impecável, Theodoro surge, acompanhado de Armando e com Vitório a tiracolo. Há um pequeno vinco entre as sobrancelhas do cappo. Acho que é a primeira vez na vida em que o vejo tão surpreso e vulnerável. Está um gato como sempre. Absolutamente irresistível.
O olhar dele atravessa todo o jardim até me encontrar no bar montado perto da piscina.
Levanto o meu copo e sorrio, friamente. Mas o olhar de Theo para mim é tudo, menos frio. Ele cumprimenta algumas pessoas, ignorando a maioria delas, enquanto caminha a passos determinados na minha direção.
Sentada na banqueta do bar, eu congelo, sabendo que estou a poucos segundos de ser derrubada pela sua presença forte e viril.
— Merda — Alessandra se mexe, inquieta. — Eu vou ao banheiro.
Quando Theo se aproxima, ela já saiu e o ar entre nós dois crepita. Ele olha para mim, parecendo um pouco perdido, e aquilo me desarma, eu confesso. Passa a mão pelo cabelo escuro, despenteando um pouco os fios, e ajeita a gravata, o que é um contraste interessante. Eu me seguro para não rir.
— Você arrumou isso tudo? — pergunta, com a voz baixa.
— É claro que não — dou de ombros com naturalidade. — Existem ótimas empresas de evento que fazem praticamente tudo sozinhas.
— Entendo — ele assente, hesitante. — Mesmo assim, obrigado. Foi ideia de Joaquim?
— Com certeza.
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