Quando Armando Torres enfia a cabeça branca pela brecha da porta da sua sala, eu tenho a impressão de que aquilo não vai acabar nada bem.
— Vitória, eu preciso falar com você. Agora — ele avisa, antes de voltar para dentro.
Franzo a testa, preocupada. Além disso, sinto que deixei passar alguma coisa. Pelo tom que ele usou, parece que estou prestes a levar uma bronca, mas cheguei cedo essa manhã, antes mesmo das sete. Ainda estou tentando compensar a minha falta, há dois dias, quando Joaquim ficou com febre.
Será por isso que o velho está aborrecido?
Não acho. Embora não tenha ficado muito feliz, foi com a sua permissão que eu me ausentei.
Finalmente, tomo coragem e me levanto da mesa, ajeito o vestido preto simples e caminho até a sala do Sr. Torres, sobre os meus sapatos de salto, fechando a porta atrás de mim.
— Em que posso ajudar?
O velho levanta os olhos do papel que estava analisando.
— Alguma coisa que gostaria de me contar, Vitória?
— Como assim?
Ele fecha os olhos por um segundo, parecendo querer recobrar a paciência perdida.
— Gostaria de saber o que houve entre você e Alberto, ontem.
Não sei se rio ou se choro.
Na verdade, eu fico surpresa que o babaca do Alberto tenha tido coragem de fazer fofoca para o pai, mas uma pequena onda de alívio me invade, porque talvez essa seja a oportunidade de resolver aquele nosso impasse.
Abro a boca para relatar a Armando Torres sobre as indelicadezas do seu filho, mas ele é o primeiro a falar.
— Alberto disse que você tomou certas liberdades com ele.
O meu queixo despenca.
Depois disso, é como se eu tivesse sido jogada em um universo paralelo.
— O que o senhor disse?
— Acho que você ouviu, Vitória. Meu filho disse que você foi... sexualmente atirada com ele. Isso é verdade?
— Não!
Ele suspira, meneando a cabeça.
— Entenda, eu compreendo que um rapaz com o charme de Alberto possa ter despertado o seu interesse. Especialmente se tratando de alguém com uma condição financeira melhor do que a sua.
Um tremor de raiva sacode o meu corpo.
— O que foi que o senhor disse, Sr. Torres? Acha que estou interessada em dar um golpe no seu filho?
Não acredito.
Pensando bem, até que seria engraçado. Se não fosse tão humilhante.
Eu dando o golpe do baú cretino!
— Não fique chateada, Vitória. Mas você precisa se colocar na minha situação. Eu não acredito que você seja o melhor para o meu filho nesse momento. Ele é jovem e solteiro, enquanto você...
— Enquanto eu o que?
— Você já tem um filho — ele pigarreia, depois gesticula com desdém. — Um filho do qual nunca ouvi falar a respeito do pai, por sinal.
— Eu não sabia que como meu patrão, o senhor deveria estar a par da minha vida particular — resmungo.
Estou fervilhando.
Fervilhando de raiva, mágoa e indignação.
Tenho dado duro nesse escritório e o velho me trata como se fosse uma golpista do baú miserável? Isso como se ele não conhecesse muito bem a laia do seu filho.
— Não é isso – ele nega. — Não seja tão cabeça quente.
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