Quando chegamos ao aeroporto em Sicília, Alessandra já está lá para nos receber, com uma placa nas mãos onde se lê: “Cunhadinha e sobrinho” em italiano.
Apesar de pequena, a caçula dos Tremesso é do tipo que chama a atenção. Ela acena como uma louca, o cabelo comprido e louro esvoaçando, até que eu corro e quase a derrubo no chão com um abraço.
Joaquim nos encara como se estivesse vendo duas fugitivas do hospício.
— Não liga não, garoto — ela dá uma picadinha para ele. — Sua mãe pode ser meio destrambelhada as vezes.
Joaquim ergue uma sobrancelha escura.
— Não estou assustado com isso. Estou assustado que tenham DUAS destrambelhadas nesse mundo.
— Quim! — eu grito, arregalando os olhos.
Alessandra explode em uma gargalhada que chama a atenção de todo mundo no aeroporto.
— Ele tem o sangue dos Tremesso — ela provoca, me enlaçando pelos ombros com Joaquim já a nossa frente. — Eu senti sua falta, safada.
— Senti a sua falta, também. Você sabe que se eu pudesse...
— Ligaria todos os dias para dizer o quanto me ama? Sei, é claro.
— Eu ligaria só para lembrá-la o quanto você é chata, na verdade.
— Sua chata favorita, cunhada.
Lanço um olhar para Joaquim, mas ara o meu alívio, o garoto não está prestando a menor atenção a nossa conversa. Caso contrário, eu teria que explicar porque aquela estranha maluca e adorável havia chamado sua mãe de cunhada.
Meu filho parece perdido observando o turbilhão siciliano ao seu redor. Homens engravatados falando alto, mulheres que parecem ter saído de um desfile de moda, cachorrinhos minúsculos conduzidos por coleiras brilhantes. Não posso negar que eu senti falta da minha segunda pátria.
Aproveite seu desinteresse para perguntar a Alessandra mais a respeito de Heitor. Não que eu já não tenha isso pelo telefone, mas.a saudade do meu filho é grande demais, chega a corroer minha alma. Por isso, encho minha amiga com todo o tipo de perguntas.
Do lado de fora, o chofer de Alessandra coloca nossas coisas no porta-malas, enquanto nos acomodamos os três no banco de trás da enorme Ferrari vermelha.
— Gostou do meu novo brinquedinho? — minha amiga mexe as sobrancelhas, sorrindo de canto. — Mais de trezentos por hora, dá para acreditar?
— Impressionante.
— Não tanto quanto foi você ter aceitado o meu convite e trazido o meu sobrinho.
Joaquim está na ponta do banco, concentrado na paisagem do lado de fora. Tudo a sua volta parece encantá-lo, até os mínimos detalhes.
— Bom, eu não tive escolha — abaixo o tom de voz e pincelo o assunto sobre Alberto e o pai só para ela ter ideia no tipo de encrenca que me meti.
— Filhos da puta — Alessandra esbraveja e Joaquim olha para nós duas, curioso. — Quando chegarmos em casa, você vai surtar, Quim. Tem uma piscina enorme!
— Falta muito?
— Cinco minutos no máximo.
— Estava com saudades da sua casa — confesso com um suspiro. — Vai ser bom usar a sua piscina de novo e fazer todas aquelas coisas de dondoca desocupada outra vez.
Ela atira a cabeça para trás e ri.
— Você estava com saudades de mim, não da minha casa. Nem tente se convencer do contrário, vagaba.
Sorrio para ela e seguro sua mão, enlaçando os nossos dedos e apertando com força.
Alessandra retribui na mesma intenisade.
Quero que saiba o quanto estou agradecida pelo fato de ter nos recebido tão bem de volta em sua vida, depois de tanto tempo.
Sem perguntas, regras ou condições.
E o melhor de tudo, sem tocar no nome maldito de Theodoro Tremesso.
***
Mais tarde, Joaquim está se esbaldando na piscina, enquanto sua tia e eu conversamos em espreguiçadeiras, lado a lado.
O sol está a pino, mas conseguimos encarar com óculos de sol e chapéus enormes.
— E então, o que você pensa em fazer? — Alessandra pergunta. — Tem um plano?
— Sim, quero comprar uma casinha pequena em algum vilarejo do interior. Vou criar o meu filho longe da agitação da cidade.
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