Estou vestida para matar. Dos pés à cabeça.
Apesar disso, há uma sensação de insegurança dentro de mim que eu não consigo acalmar.
É como um mal estar na boca do estômago que não passa.
E a todo momento, o maldito pesadelo que tive no Brasil vem assombrar o meu coração.
Joaquim e eu chegamos na Itália há poucos dias. Estou decidida a pegar um trem para o interior com ele na semana que vem, embora Alessandra esteja usando todo o seu charme para tentar me convencer a ficar.
Quim, aliás, está apaixonado por ela.
Ele a chama de “tia Alê” agora, embora não passe pela sua cabeça, nem mesmo remotamente, que Alessandra seja, de fato, a irmã do seu pai. Para ele, ela é apenas "a amiga destrambelhada da mamãe" como ele mesmo gosta de dizer.
Nós três visitamos diversos lugares na Sicília e tudo o que Joaquim vê parece receber um elogio de "irado", "legal" ou "sinistro". De sorveterias a museus e monumentos famosos. Tudo para ele é incrível na mesma intensidade, na mesma proporção.
Meu Deus, como eu amo o meu filho! Eu preferiria morrer a ter que abrir mão dele.
Pensar nisso me envolve em uma nuvem de tristeza porque sei que eu também nunca teria aceitado perder o meu Heitor, até que o perdi. Perdi não, fui obrigada a entregá-lo. E essa dor ainda me dilacera.
Alessandra sai do banheiro da suíte master enrolada em uma toalha.
Ela para no meio do caminho e me encara.
— Onde está aquele vestido magnífico que eu dei a você?
Sentada na cama, eu abaixo a cabeça para contemplar o pijama que coloquei depois de tirar o tal vestido. Eu me sinto muito mais confortável agora, mas nem um pouco mais confiante porque sei muito bem o escândalo que minha amiga vai fazer quando eu contar a ela que...
— Não consigo, Alessandra. Não me sinto segura saindo e deixando o Quim.
— Negativo, cunhadinha. Eu disse que você pode ficar sossegada e você pode. Meus empregados são de absoluta confiança, Vitória. Além disso, eles não conhecem você, nem o meu sobrinho. Não teriam motivo para fazer fofoca — ela abre as portas do closet e um universo de grifes italianas maravilhosas se desnuda diante dos meus olhos. — Não se esqueça que também sou uma Tremesso. Eles me temem quase tanto quanto ao meu irmão.
— E se ele aparecer aqui?
— Ele quem? — ela se vira sobre o ombro, por um momento, pasma. — Theo? De jeito nenhum. Ele não vem aqui desde que você foi embora.
— Da Itália?
— Da casa dele. Mesmo enquanto você esteve no hotel, ele não passou por aqui nem uma única vez.
Sua afirmação me deixa chocada.
Não é absolutamente possível.
Theo e Alessandra sempre foram muito ligados. Não faz nenhum sentido os dois terem se distanciado daquela maneira.
Eu me levanto da cama com um suspiro e ando até o closet que ela ainda encara, reflexiva.
— O que foi que aconteceu entre vocês, Alessandra? Brigaram?
Ela inclina a cabeça para o lado e me olha, surpresa. Em seguida, se vira de frente para mim, ainda segurando a toalha.
— Eu deixei claro que ele é persona non grata, agora, mia cara. Os únicos lugares em que vejo Theo são nos compromissos de negócio ou nos eventos familiares. Aqui em casa, ele não pisa. Depois do que aprontou com você? De jeito nenhum.
Seu senso de lealdade me deixa sem palavras.
Mas sinto que não posso deixar isso acontecer. Não é nenhum pouco justo. E eu não dormiria em paz comigo mesma se apoiasse uma coisa dessa.
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