Cara a cara pela primeira vez em seis anos, nós dois ficamos paralisados por um longo tempo.
Theo não mudou nada desde a última vez em que nos vimos. O mesmo cabelo curto e espesso, negro como a noite, olhos castanhos intensos capazes de revirar minha alma do avesso, e aquela estranha aura magnética, tão poderosa que faz todos no mundo quererem se curvar a ele.
A única coisa diferente, talvez, seja o semblante mais cansado e algumas linhas de expressão na testa, o que também pode ser fruto da minha imaginação perversa. No entanto, de resto é a mesma figura severa e punitiva que enfrentei anos antes.
Está vestindo camisa branca e calça social preta, que o fazem parecer elegante, embora os botões da blusa estejam abertos revelando o pescoço e um trecho do peito bronzeado.
Nesse peito há uma medalha pendurada. Uma que conheço bem. Santa Maria Madalena, a padroeira dos pecadores arrependidos. Sua santa de devoção.
O olhar gélido e a raiva emanam em ondas através do corpo alto e musculoso.
— Por que você voltou?
— Eu não devo satisfações da minha vida a você — acelero o passo ao passar por ele, mas Theodoro agarra o meu braço.
Há uma descarga de eletricidade entre nós dois. O ar se torna pesado e quase posso ouvi-lo estalar.
— Não se atreva a sair de perto assim, Vi — ao ouvi-lo me chamar pelo antigo apelido, eu paraliso. Um turbilhão me invade – sentimentos, dúvidas, lembranças – e os meus pés se fundem ao chão. O olhar de Theo muda. Ele parece chocado pelo que acabou de sair da sua boca, então desvia os olhos. — Quando foi que você voltou?
— Há alguns dias. Mas já estou de partida.
— Para onde?
— Longe de você.
— Lugar nenhum é longe o suficiente — ele murmura, rouco.
Suas palavras me varrem para baixo.
É isso o que ele pensa?
É claro, eu deveria imaginar. Seis anos não foram o bastante para ele aprender com os seus erros. Alessandra estava certa. Theo é mesmo um idiota que merece sofrer.
— Eu sinto muito por isso. Agora, se você me dá licença, eu tenho um avião para pegar — minto.
— Vai voltar para o Brasil?
Sua pergunta acende em mim um alerta.
Ele sabe onde eu estive todos esses anos. Está me testando. Sabe que eu não teria vindo de tão longe se não tivesse a intenção de ficar.
Maldito.
Como posso sair dessa armadilha?
— Responda, Vitória.
— Como eu disse, não é um problema seu — volto a afirmar e os olhos dele brilham perigosamente.
— Estou ordenando que me diga imediatamente.
Suas exigências são demais para mim.
Lanço a ele um olhar mortal.
— Não sou um dos seus homens, Don Tremesso. A mim você não dá ordens, nem convence ou manipula. A mim você não intimida.
Ele me puxa pelo braço mais para perto. Tão perto que eu sinto seu hálito quente fazer cócegas no meu pescoço.
A reação do meu corpo é tão infantil que beira o ridículo. Sinto falta do seu toque, das suas carícias, suas investidas duras contra mim na cama.
Ao mesmo tempo, odeio esse cappo desgraçado com todas as minhas forças.
— Tem certeza? — ele esbraveja.
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