Jogo de Intrigas romance Capítulo 8

— Quim, venha logo ou vamos nos atrasar — eu grito da porta da sala, aliviada quando o vejo chegar arrastando a mochila. 

— Atrasar para o que?

— Para pegar o trem.

— Eu não quero ir, mamãe — o garoto curva os lábios para baixo. — Já disse que eu adoro a Sicília. E adoro morar na casa da tia Alê, também. 

— Eu sei disso, meu amor. Mas você vai adorar ainda mais o lugar para onde nós dois vamos.

O olhar imperioso dele me recorda o pai. E o queixo atrevido também.

Quanta semelhança!

Fico pensando em como estará Heitor, agora. Quando bebê era muito mais parecido comigo. Será que ainda tem os meus traços?

É Joaquim que me arranca daquele devaneio.

— E como você sabe?

— Como sei o que?

— Que eu vou adorar — o sabichão franze a testa. — Ainda nem chegamos. Você não tem como saber.

— Tudo bem, eu não sei. Mas conhecendo você como te conheço, sei que adora praias, sorvete e bastante espaço para correr. Estou errada?

— Tem tudo isso para onde nós vamos?

— Sim.

Ele suspira, de cabeça baixa. 

— Você promete?

— Eu prometo, meu bem — olho, impaciente, para o relógio. Não quero brigar com Joaquim, mas o trem vai sair em vinte minutos e a casa de Alessandra fica longe da estação. Estou ficando impaciente. — Agora vamos, certo?

— A tia Alê vai levar a gente?

— A tia Alê não vai poder ir dessa vez — Alessandra surge com uma pequena bolsa de mão. Ela entrega a mim com um olhar de cumplicidade.

Sei perfeitamente do que se trata: duas passagens para Petralia Soprana e dinheiro suficiente para me estabelecer por lá durante alguns meses.

Não sei o que seria de mim sem Alessandra.

— Obrigada. Nos veremos em breve, ok?

— Com certeza — ela se agacha para bagunçar o cabelo de Joaquim e olhar dentro dos seus olhos. — Ouviu isso, garoto? Antes que você possa sentir minha falta, estaremos junto de novo.

Ele assente, relutante.

Para minha surpresa, abre os braços e se atira no colo da tia.

Droga.

Meu coração fica tão pequeno que, facilmente, passaria pelo buraco de uma agulha. 

Joaquim e Alessandra se abraçam tão apertado que eu preciso segurar as lágrimas.

— Adeus, minha querida — é a minha vez de abraçá-la e eu resisto a soltá-la, lembrando que nossa última separação durou tempo demais. 

— De jeito nenhum — ela balança a cabeça. — Isso não é um adeus, Vitória. É só um até logo.

Dois veículos já esperam do lado de fora. Os dois igualmente pretos com todos os vidros escuros. Motoristas uniformizados aguardam ao lado dos carros.

Eles abrem as portas quando nos aproximamos.

Quando vou me despedir de Joaquim, sinto um nó preso na garganta. Eu me demoro com os braços ao redor dele, incapaz de largar o meu filho.

Meu coração está pesado e comprimido. Há uma sensação de angústia me devorando por dentro.

Quim é o primeiro a sair do abraço e se vira para Alessandra, aguardando instruções. Não tem ideia de que operação é essa, mas instintivamente, sabe que é ela quem está no comando.

O garoto é pequeno, mas muito observador.

— Eu daria ordens para que levassem vocês diretamente ao destino, mas não acho seguro. Não quando não sabemos como Theo descobriu a respeito da sua chegada — Alessandra diz, ajudando Quim a entrar em um dos carros. — Acredito que um trem com todos os lugares comprados vai dar a vocês a segurança que precisam.

— Como sabe que os assentos estarão todos ocupados?

— Porque comprei todos — ela franze os lábios. — Precaução nunca é demais.

Eu a aperto entre os braços de novo.

— Se cuida.

— Você também. Me dê notícias assim que  chegarem.

— Vamos chegar no meio da madrugada — eu lembro.

— Vou estar acordada, esperando.

É claro que estaria.

Eu me viro, com um misto de medo e ansiedade, e entro no carro que Alessandra reservou para mim.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: Jogo de Intrigas