Eu poderia dizer que ontem foi o melhor dia da minha vida. Era como se eu tivesse esquecido tudo o que aconteceu até ali, e só lembrasse daquele momento. Meu corpo inteiro vibrava por causa dela, e sentia que havia algo de anormal em mim, visto que eu mal podia respirar. Mais cedo, quando cheguei à agência, desfilei meu melhor sorriso, desejei bom dia às canetas e conversei com o notebook, repassando cada palavra gravada em minha mente. A voz dela era tão doce, saborosa, angelical... enquanto minha mente tentava imaginar uma dona para a voz, meu corpo flutuava entre as nuvens. Eu me sentia atraído por alguém que nem tinha rosto, e a desejava com todas as forças do meu corpo.
Depois de responder a alguns e-mails e atender ligações, estava praticamente exausto. Sentado na cadeira, virei-me para as janelas amplas, o vidro permitia que visse a vista. O topo de Nova York. Eu segurei meu queixo, acariciando-o com o polegar. Escutei três batidas na porta e mandei entrar. Virei a cadeira na direção da porta.
Era Annelise.
Eu sorri.
— Sr. Ward? — ela disse, pondo a cabeça para dentro da porta.
— Chase. — Corrigi, fechando o notebook à minha frente. — Sim?
— Chase. Eu… — ela se aproximou, as mãos juntas na frente do corpo. — Queria perguntar se posso sair mais cedo, hoje.
Levantei os olhos e dei de ombros.
— Pode. Mas tem uma condição: só se aceitar almoçar comigo.
Ela ficou na minha frente, me encarando, até que assentiu e virou-se, então, virou novamente, sorrindo.
— Por quê? — Perguntou. — Digo, por que vai almoçar comigo? Não lembro de ter alguma reunião nem nada da competição.
— Não tem. É só um almoço. — Eu disse, entrelaçando os dedos e apoiando os cotovelos na mesa. — Tem algum compromisso? — Ela fez que não, depois olhou para os próprios pés e vi a cor em suas bochechas.
O tom rosado se mesclava perfeitamente à pele. Ela, sem dúvidas, era uma mulher muito bonita. Ontem chamou muita atenção durante o jantar. O sr. Stone, um amigo do sr. Sheppard, não tirava os olhos dela, nem a namorada dele. Eu ficava me perguntando por que ela ficava tão envergonhada quando eu questionava algo que fugia do trabalho.
— Ótimo, então você vai almoçar comigo.
Ela levantou a cabeça e comprimiu os lábios. Vi o brilho transpassar o olhar calmo.
— Aliás… por que pediu para sair cedo? Aconteceu alguma coisa? — Levantei uma sobrancelha, sorrindo de canto. — Tem um encontro?
Ela ficou mais vermelha, depois balançou a cabeça.
— Não, sr. Ward… quer dizer, Chase.
Chase.
Aquele tom… Chase. Ela falava com propriedade.
— Na verdade, eu não saio com ninguém há mais de seis meses.
Arregalei os olhos.
— Vamos resolver isso. E rápido. Cancela o almoço, vamos para um bar. — Eu disse.
***
Eram quase três horas da tarde quando verifiquei meu relógio pela quarta vez em menos de um minuto. Beberiquei o uísque e olhei para Annelise, que estava do meu lado. Ela havia trazido um sanduíche de pasta de amendoim, e estávamos dividindo. O The Mystic Fairy não oferecia um cardápio muito agradável. Eu pedi um uísque com gelo e Annelise recuou, dizendo que ficaria doidona se bebesse uma gota de álcool antes das oito.
— Por quê? — Eu perguntei.
— Eu não confio em mim. No meu aniversário de vinte e um anos, tirei a calcinha e dancei em cima de uma mesa do bar. — Ela contou, o sorriso apareceu gradativamente, como se não tivesse certeza se deveria sorrir, mas eu a incentivei, gargalhando dela.
— Então você é esse tipo de bêbada? — Ela me encarou como se não tivesse entendido. — Todos os bêbados têm um tipo específico. Descontrolada, animada, triste, reflexiva. Você é animada. Do tipo que arranca a roupa e beija estranhos. — Contei.
Ela avaliou o que eu disse, e concordou com a cabeça, comendo mais um pedaço do seu sanduíche de pasta de amendoim. Eu dei de ombros e a observei, comendo o último pedaço do meu, que enfiei na boca.
— E qual é o seu? — Ela perguntou, inclinando na minha direção e apoiando os cotovelos na mesa. — Descontrolado, animado, triste…
— Reflexivo. — Eu disparei. — Do tipo que pensa melhor quando bêbado.
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