Eram dez da manhã. O sr. Sheppard reuniu quase todo mundo para a reunião do mês. Eu não estava com cabeça para isso, por isso fingi prestar atenção, o que não deu muito certo. Enquanto ele explicava algo sobre como pensar que a empresa precisava crescer, eu tentava não dormir. Alan me cutucava sempre que podia, destilando seu veneno em forma de palavras. O sr. Sheppard contou que estava pensando em fazer uma fusão com a Global Media, o que daria tempo para todo mundo se preparar. A cara de Alan foi impagável quando descobriu que eu seria sócio do sr. Sheppard.
Depois da reunião, Alan entrou na minha sala sem bater, a expressão carregada do que eu achava ser raiva, os olhos cravados nos meus. Ele estava furioso, como eu pensei que ficaria, visto que ele sempre quis estar no meu lugar.
Ele se aproximou, eu sorri gentilmente e disse:
— Olá, Patrick. Como posso ajudá-lo? — Segurei o queixo e Alan se inclinou na minha direção, apoiando as mãos no tampo da mesa. Eu vi Annelise abrir a porta, curiosa, e me olhar sem entender nada.
— Vai se foder! Eu sou a porra do melhor funcionário da empresa e é justamente você quem o sr. Sheppard chama para fazer uma sociedade? — Eu coloquei a mão no peito, como se seu comentário tivesse me ofendido. — Você é um babaca, Chase. Um babaca! — Ele bateu forte na mesa e eu o encarei, a diversão deixou minha mente, dando lugar ao deboche.
— Ah, desculpe… acho que não escutei direito. Você me chamou do quê? — Ele estreitou os olhos. Eu o deixava cada vez mais irritado. Vi as chamas subindo por seus olhos e sua cara se tornou vermelha. — Você é tão pequeno, que o sr. Sheppard não o viu. — Cruzei os braços e sorri.
— Você devia ter vergonha. — Ele disse, respirando fundo e ajeitando a postura. — Enquanto as pessoas se matam para fazer com que seus sonhos virem realidade, você apenas paga pelos seus. — A expressão de Alan se tornou séria. — Você pode valer o que o dinheiro do seu pai vale, mas nunca vai valer por si só, porque não se importa com mais ninguém a não ser você mesmo. Você é podre, Chase.
Suas palavras me atingiram em cheio. Nossa rixa se estendeu desde o primeiro dia que pus os pés na agência. Alan sempre me achou um babaca fodido que só conseguia estar onde estava por puro privilégio. Ele nunca conseguiu aceitar que simplesmente não era pior do que eu, porque naquele momento eu me senti tão vazio e pequeno, que poderia jurar que ele estava me esmagando. Talvez estivesse certo, talvez eu consegui tudo por causa da porra do meu nome, mas nem por isso foi desmerecido. Eu mereci cada coisa, e não iria deixar com que falasse comigo naquele tom.
Eu levantei bruscamente e o peguei pelo colarinho, minha força foi tanta, que o puxei para frente e ele tombou, passando a segurar meus punhos. Eu o encarei com raiva, talvez ainda mais do que a que explodia em seu peito.
— Você pode falar tudo o que quiser, mas não que eu valho o que o meu dinheiro vale. Eu dei tudo de mim ou ainda mais para conseguir tudo o que queria, e não vai ser você, um moleque que acha que sabe demais que vai dizer o contrário. — Ele engoliu em seco e eu continuei. — Você não me conhece, Patrick, não faz ideia do que eu tive que perder para entrar na porra dessa empresa. Você não pode julgar o que não sabe! — Berrei. Ele se desvencilhou dos meus braços e se afastou, sem tirar os olhos de mim.
Notei, olhando do canto do olho, que Annelise estava atrás da porta de sua salinha, metade de seu corpo se anunciava. Alan olhou para mim uma última vez antes de girar e sair da sala. Annelise me observava, chocada. Eu ajeitei o terno e deixei que minha respiração voltasse ao normal. Sentei-me na cadeira e engoli o nó que se formou em minha garganta.
Ela se aproximou, segurando alguns papéis e se colocou na minha frente. A porta se fechou num baque.
— O que aconteceu? — Ela perguntou. — Por que ele estava tão bravo com você?
A confusão em seus olhos tilintava, mas a verdade é que eu também não sabia o motivo da raiva de Alan. Deduzi que se tratava de inveja, porque ele sabia que nunca conseguiria chegar a nenhum lugar muito mais alto do que está. Eu dei de ombros e me inclinei, apoiando os cotovelos na mesa.
— Você está péssimo. — Eu a encarei.
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