Meu CEO Mandão romance Capítulo 52

Eu não fazia ideia de quem devia recorrer. Quando se passa a vida toda querendo afastar todo mundo que pode te amar, não sobra muita coisa, a não ser inimigos, pessoas que querem seu mal e curiosos. 

A bebida não resolveria nada. Eu tinha certeza. Estava certo de que, se eu bebesse pelo menos uma gota de uísque, me descontrolava. Eu estava tentando me segurar ao máximo e isso doía tanto… me perguntava se não seria mais fácil bater com a cabeça forte o bastante para ficar como o papai. 

Estava no carro, a chuva começara a cair de maneira silenciosa e pesada. Estacionei o carro perto do hotel, onde imaginara que seria a primeira noite de algo que me mudaria para sempre, e estava certo. Annelise conseguiu me ferir ainda mais que qualquer pessoa. Ela conseguiu arrancar o coração do meu peito e, mesmo assim, eu não a odiava. Odiava a mim, por acreditar que podia ser amado. 

As lágrimas ardiam meus olhos. Eu queria que sumissem de lá, porque decretavam que eu era um fraco; se nem conseguia ser amado, não merecia sentir mais nada. Toda a minha vida preocupei-me com o que pensariam de mim, eu fui criado e amadureci tentando ser perfeito, mas Deus é um filha da puta que gosta de brincar. 

Segurei o volante com tanta força, que os nós dos meus dedos ficaram brancos. Eu comecei a dirigir sem nenhum destino, então parei no hospital. Meu coração parecia inchado, palpitando dolorosamente. Eu o amaldiçoei, batendo no peito com força, forte o bastante para ficar dolorido. 

Talvez seja verdade o que dizem. 

Você só dá  valor ao que tem quando o perde. 

Se eu tivesse agido de modo diferente… se eu tivesse sido sincero… talvez Annelise estivesse em meus braços. 

Saí do carro e me dirigi para dentro do hospital. A chuva me atingiu, molhando o terno e minha pele que ainda queimava de raiva. Andei pelos corredores até encontrar o quarto do papai. 

Aquele desgraçado. 

Ele era o responsável por eu ser assim. 

Ele devia estar morto. Devia sofrer. Devia pagar por ter me feito ficar assim. 

Mas isso importava? Realmente importava? Afinal não era culpado pelo que me transformei, mas sim por ter me impedido de ser outra coisa.

Me deparei com o quarto e um enfermeiro avisou que não estava no horário de visitas. 

— Que se foda — eu o empurrei para fora, de modo que me colocasse dentro do quarto e fechei a porta, o peso do meu corpo vacilou para a frente enquanto colava as mãos na madeira. — Seu filho da puta. 

Era engraçado. Enquanto ele parecia estar em paz, um verdadeiro inferno explodia dentro de mim. Eu queria fazer aquilo parar. Queria que tirasse aquilo de mim. Meu corpo deslizou pela porta, exausto, mas eu não estava de fato exausto. Sentia apenas raiva. Culpa. Medo. Nojo. Ódio. Vergonha… 

O que fiz com Annelise era imperdoável. 

Ela me odiava agora, eu sabia. Eu não podia fazer nada que pudesse apagar tal coisa. Eu não podia simplesmente passar uma borracha, e ela estava certa. Eu era desprezível. A porra de um babaca metido. 

— Você finalmente conseguiu o que queria. — Eu disse. Ele se manteve imóvel no leito. Eu desfiz o nó da gravata e passei a mão no cabelo, os fios colaram à minha testa. Estava me sentindo sufocado, morrendo aos poucos. 

Você é podre, uma voz gritou dentro de mim. 

— Você conseguiu papai. Eu sou a porra de um perdedor. — Eu ri. Era engraçado de fato. Estava conversando com um cara em coma, que ainda estava vivo por minha causa. O mesmo cara que partiu meu coração uma vez. 

Thomas Ward até podia ter me salvado de um futuro de merda, mas garantiu que cada segundo da minha vida gloriosa como Ward seria tão tortuosa, que eu preferiria a morte. Me perguntava como seria se ele nunca tivesse entrado na porra daquele orfanato de merda e tivesse me escolhido. E por que me escolheu? Eu era só mais um moleque que vivia muito mais feliz do que entre toda a porcaria de seu maldito dinheiro. A minha vida toda foi resumida a me tornar uma cópia perfeita do meu pai, e quando eu finalmente tinha conseguido, quando eu achei que estava orgulhoso de mim por isso, percebi que nunca se contentaria. Eu não sei por que, mas nunca fui o bastante. Nem Kathryn foi. Ele nos tratava como uma obrigação; não como um pai que realmente ama seus filhos. Ele nos tratava como desconhecidos. 

Talvez estivesse feliz agora. 

Eu estava na mesma posição em que estava. 

Era um homem perfeito, de todos os modos, mas destruído por dentro. E tudo isso se devia a ele. 

Eu preferia ter vivido uma vida miserável, largado em algum lugar, a ter que olhar em seus olhos e encontrar a desaprovação, a ter que escutar que eu não passava de um moleque sem jeito, a ter que escutar que eu nunca seria ninguém. A ter que escutar que se arrependia de ter me escolhido. 

Ele sempre disse que eu não passava de um perderdor. 

Agora estava certo. 

Eu me sentia esmagado, tal qual uma formiga. Tão minúsculo, tão frágil. Eu me sentia quebrável, como se a qualquer momento pudesse desmoronar. Prendia as lágrimas com afinco, para que não o fizesse. Eu sabia que tinha que encontrar a força que estava escondida em algum lugar de mim, mas… eu estava cansado. Por que eu não podia desmoronar e aceitar que era um perdedor? 

A porra do orgulho falava mais alto. 

Eu não queria provar para Thomas que havia mesmo perdido. 

Eu levantei, andei para perto de sua cama e o observei. Minha respiração se tornara fraca, o fôlego faltava e não conseguia respirar. Era como se estivesse sufocado. 

Eu acreditei que se me tornasse parecido com ele ganharia seu respeito, mas tudo se provou o contrário. Teve uma época que desisti. Eu fui realmente feliz, mesmo com suas reclamações e xingamentos, mesmo que reprovasse cada passo meu. Mesmo que tivesse prometido que iria acabar comigo. Foi quando conheci Brenda. 

Era verão, estávamos em Los Angeles, o sol vibrava ao nosso redor e tudo parecia perfeito. Foi então que vi Brenda, a mulher que eu achava que me amava, até encontrá-la nos braços do meu pai. Antes de descobrir que me traía com o meu pai e que estava interessada apenas no meu dinheiro, vivemos o melhor verão. Muito sexo, muito amor — ou ao menos uma parte muito ingênua minha acreditava que sim — e muitas aventuras. Ela era linda, perfeita. Quando eu descobri que o papai estava transando com ela, não quis acreditar. Eu não passava de um moleque que acreditava que o amor era fácil, estava fascinado pelo modo como Brenda me encantara e disposto a ir para bem longe, onde o papai não podia nos achar. Eu queria perdoá-la. Ele era um homem manipulador, cheio de encantos, e poderia facilmente tê-la conquistado por conta disso, mas descobri que nunca passou de um truque. Brenda fora contratada por ele para que me provasse. Thomas queria provar que eu precisava ser como ele, porque todos me enganariam com facilidade. E foi isso o que aconteceu, mas mesmo assim… eu estava apaixonado. Perdidamente apaixonado. Achava que Brenda poderia sentir o mesmo por mim, mas isso não aconteceu, e então… eu a encontrei morta. Culpei o papai, porque ele sabia sobre meus sentimentos e achava que isso me desestabilizaria. 

Eu fiquei com tanta raiva,  que o empurrei da escada. Ele a rolou, bateu a cabeça e fugi de casa. Kathryn o encontrou, sangrando. Brenda foi enterrada uma semana depois. Foi morta com socos, e descobriram que estava grávida. Eu nunca pedi para que fizessem um teste de gravidez, mas eu tinha certeza de que o filho era meu. Meu pai tinha me tirado um filho, um amor, minha vida. 

A partir daquele dia me certifiquei de seguir todos os seus conselhos. Aos poucos me tornei tudo o queria que me tornasse, mas não por que queria agradá-lo, mas sim porque eu precisava ser tão forte quanto era: Inabalável. Destemido. Poderoso. Eu me tranquei em meu mundo particular, afastei-me de todos que poderiam curar a dor que sentia. Eu havia perdido tudo, mesmo sem saber. Eu jurei a mim mesmo que nunca deixaria ninguém me enganar novamente. 

Meu lema passou a ser verdade e poder, pois eram as únicas coisas que me sustentavam. 

Chase se tornou Chase Ward, não um moleque tirado de um orfanato; um homem poderoso, cheio de si e forte. Eu trabalhei arduamente para ser quem sou, e Annelise destruiu tudo isso em duas tacadas. 

Por que eu não conseguia odiá-la? 

Por que eu não conseguia sentir raiva? 

Por que eu me odiava por tê-la forçado? 

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