Havia um sentimento conflitante em meu peito. Eu tinha todos os motivos para odiar Chase, mas vê-lo naquela situação… ele foi atropelado por minha culpa. Ele… me salvou. Chase se machucou para me salvar. Ele… me ama.
Eu não conseguia entender por que tudo isso aconteceu. Ele não merecia. Ele… Chase parecia desesperado e, para ser sincera, senti o mesmo quando percebi ele caído no chão.
Ele salvou a minha vida.
O máximo que conseguiria em agradecimento seria ficar com ele até que melhorasse o bastante, mas acontece que eu não planejava sentir tanto medo. Quando tudo aconteceu, fiquei petrificada, sem reação, e vê-lo sendo levado por uma maca era doloroso demais. Eu pensava que iria perdê-lo… pensava que…
Chase foi levado para o hospital mais próximo. Ele foi examinado. Havia desmaiado com a força do impacto e isso era preocupante. Estava perdendo muito sangue e os médicos não tinham controle de nada. Ele podia morrer a qualquer momento. Enquanto isso, fiquei sentada numa cadeira, chorando. Eu consegui ligar para Abby quase dez minutos depois e ela veio correndo. Ela me perguntou o que tinha acontecido, mas nenhuma palavra conseguia escapar de minha boca. Eu estava em choque.
Depois de um tempo, o médico se aproximou, um sorriso cansado no rosto.
Levantei imediatamente. Ele parou e senti a mão de Abby sobre o meu ombro segurando firmemente. Quando voltei a atenção para ela, percebi um sorriso fraco.
— Ele está bem? — Perguntei.
— Sim. — O médico disse.
Foi o bastante para sentir um alívio no peito. Foi como se mil toneladas fossem retiradas de cima dos meus ombros. Pude respirar de novo.
E então, ouvi o eco das palavras de Chase.
Ele disse que me amava.
Disse com todas as letras.
O médico contou que conseguiram estabilizá-lo a tempo e contiveram uma hemorragia. Chase tinha quebrado uma perna e batido a cabeça.
***
— Você precisa descansar um pouco — disse Abby. — Chase ficaria contente se soubesse que está se cuidando. — Eu olhei para ela lançando um sorriso agradecido. Abby colocou uma manta sobre meu corpo e segurei sua cintura, pousando a cabeça em seu peito.
Eu estava confusa.
Não conseguia parar de pensar no que ele disse.
Respirei fundo.
Abby apoiou o queixo em minha cabeça, afagando meus cabelos com delicadeza.
— Lembra quando você caiu da escada e eu disse ao papai que pensava que tinha morrido? — Eu fiz que sim.
Parecia começo de filme de terror, mas a verdade é que era super engraçado. Quando tinha cinco anos, prendi um pé na tábua solta da escada e caí, mas consegui me segurar antes que acontecesse algo pior. Abby me encontrou estatelada na escada e achou que eu estivesse morta, então foi contar ao papai. Enquanto isso, eu consegui levantar e notei que um dente tinha caído. Eu fui mostrar ao papai, mas cruzei com Abby, que achou que eu fosse um zumbi. O papai ficou rindo por horas.
— Lembra como ele disse que as aparências enganam? — Perguntou ela. Eu a encarei meio sem entender. — Quer dizer… ele nos disse que poderíamos nos confundir com situações. Coisas boas podem não ser exatamente coisas boas e coisas ruins podem não ser exatamente coisas ruins. — Eu pisquei e assenti. — Isso pode ser bom, mesmo que pareça ruim.
Eu não entendia como algo tão ruim poderia ser bom. Chase tinha sido atropelado e quase tinha morrido por que teve a brilhante ideia de se jogar na frente de um carro para me proteger.
— Mas e se algo der errado? — Ela fez que não, me garantindo que nada ia acontecer. Eu sei que era somente uma promessa sem certeza, mas aquilo fez meu coração aquecer. — Acha que ele vai ficar bem?
— Sério? — Perguntou ela, parecendo surpresa. — Acha mesmo que ele iria perder a oportunidade de dar esse susto e não ficar para assistir o espetáculo? — Isso me fez rir.
Eu abracei Abby com força.
Na quarta-feira fui acordada por Abby. Ela disse que tinha que ficar com as meninas porque Mike iria trabalhar. Eu disse que estava bem e que não precisava dela agora, mas que sentiria falta. Ela se despediu e foi embora. Pela primeira vez em quase dois dias senti fome. Antes Abby me obrigava a comer, mas a comida não tinha gosto algum e meu estômago rejeitava tudo.
Me dirigi até a cantina do hospital e comi alguma coisa, que ainda não era bom o suficiente, mas serviria para me deixar com energia. Eu não tinha trocado de roupa nem tomado banho. Passei no meu apartamento e tomei um banho rápido. Minha cabeça estava a mil e eu não conseguia desviar os pensamentos de Chase. Dez minutos depois, voltei para o hospital, onde encontrei a irmã dele perto do quarto. Os médicos ainda não tinham liberado a visita, mas ainda assim era possível vê-lo através do vidro da parede.
— Ele parece tranquilo — ela disse. Kathryn voltou os olhos na minha direção. Percebi que estavam afogados em lágrimas e aquilo fez meu peito apertar. Ela deslizou a mão pelo vidro e enfiou no bolso da calça. — Eu mal acreditei quando soube. — Contou. Eu a encarei, parada a um metro de distância. Ela voltou a olhar através do vidro. — Eu sou um monstro. — Eu via seu reflexo embaçado. Aproximei-me e coloquei a mão em seu ombro, lançando um sorriso gentil.
— Não é. — Eu disse, mesmo sabendo que não fazia ideia do que queria dizer.
— Eu o deixei ir embora no estado em que estava… sou responsável por isso. — Disse ela, a culpa ruminando atrás da voz. Eu balancei a cabeça, pegando sua mão. Fiquei ao seu lado e a encarei. — Se eu não tivesse dito nada… se eu tivesse esperado o momento certo…
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