― Você consegue, Pam. Sorria. Só isso. ― Disse enquanto encarava a imagem do espelho. Eu estaria mentindo se não dissesse que estava assustada com minha fisionomia e como eu realmente estava muito bonita com o vestido azul, ainda que, por detrás do vestido azul gigantesco, eu ainda tivesse a perna com uma bota imobilizadora. Pelo menos agora era só isso, não estampava mais o gesso pesado.
Como Grace não tinha religião, a única coisa que aconteceria seriam a assinatura de alguns papéis com a presença de um representante de alguém do consulado americano no que parecia uma festa bem particular, na qual ninguém parecia muito a vontade por ali. Não sabia se era porque Grace havia escolhido comemorar o seu casamento num horário inusitado das quatro da tarde ou se porque as pessoas realmente esperavam uma festa árabe com tudo o que pudessem ter de direito.
Mas a culpa era da própria Grace que não queria esperar que a barriga crescesse demais e ficasse visível, muito embora grande parte dos presentes já soubesse que ela estava grávida. No fim, não fazia lá muita diferença.
Suspirei enquanto me colocava do lado da porta da pequena sala que havia sido arrumada para a assinatura dos papéis antes que eles saíssem para comemorar o casamento numa pequena festa que aconteceria no salão ao lado. Eu seria uma das testemunhas, junto de Rashid que parecia por demais estranho olhando para o vazio e depois para o relógio como se tivesse alguma coisa a resolver. Eu que não sairia a perguntar.
O mais irônico da situação toda era que até Grace, a noiva, estava ali esperando, já impaciente, pela chegada de Ham que parecia uma noiva atrasilda que nunca chegava. Era deveras cômico.
― Eu preciso retocar minha maquiagem. Pam, liga para o Ham e pergunta se ele desistiu do nosso casamento e por tabela de você e do seu irmão também. ― Grace alfinetou. Engoli todas as minhas entranhas enquanto pegava o telefone e discava para Ham.
― Ham? ― Disse imediatamente quando ele atendeu.
― Pam! Fique perto de Rashid… É… Mande-o a proteger em nome de Alá e que o matarei se tocá-la mais do que o necessário, mas se cuide. ― Franzi o cenho.
― Ham, não estou entendendo nada… ― O que ele afinal estava querendo dizer?
― O detetive achou um endereço onde o seu irmão pode estar… É um local que costuma ser usado para competições de rali próximo do deserto. É uma antiga construção onde lá dentro costuma acontecer as competições. Acredito que ele esteja no subsolo. Estou indo lá para tentar tirar ele de lá. Por favor, fique em segurança enquanto isso, Pam… Eu… ― E para meu total desespero a ligação começou a cortar até que ela caiu e eu não consegui ouvir uma palavra a mais sequer saindo da boca de Ham.
Isso me assustou completamente.
Eu não costumava ser uma pessoa impulsiva, mas estávamos falando do meu irmão há mais de um mês sumido! Estávamos falando de Ham que podia correr perigo indo atrás do meu irmão e estávamos falando do telefone caindo onde aparentemente a porcaria da telefonia não funcionava! Antes que eu pudesse sequer pensar no que estava cogitando, ou o quão absurda era a minha ideia, simplesmente perguntei:
― Rashid, você está com a chave do seu carro? ― Ele franziu o cenho, levemente atordoado com a pergunta que eu tinha feito, mas assentiu tirando a chave do carro de dentro do bolso da calça. Agarrei a chave entre os dedos como se fosse a minha própria vida e antes de esquecer da minha perna machucada e sair correndo em direção ao carro, murmurei:
― Rashid, se eu não te ligar em uma hora, você por favor chame a polícia para esse endereço aqui. ― Disse enquanto anotava no bloco de notas do meu celular e o entregava. Eu ligaria com o celular de Ham, isso se ele estivesse bem. Pare de pensar besteira, Pam. É claro que ele está bem.
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