O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 54

POV HAM

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas, já dizia a história do pequeno príncipe.

Meu coração tinha sido eternamente cativado por Pam e continuaria sendo dela enquanto o findar da minha vida não me levava embora.

Busquei um pouco de ar enquanto via Jason e Grace serem deportados sem que sentisse um mínimo de remorso disso, pelo contrário, só raiva, muita raiva. Minha vontade era de matá-los, principalmente Jason, pelas minhas próprias mãos, porque tê-los longe da minha vida não significava que a minha situação tinha melhorado, pelo contrário, penava dia após dia martirizando-me pelas minhas péssimas escolhas naquele dia, sem que nada pudesse mudar por esse motivo.

A mãe de Pâmela tinha vindo para Dubai ver como a filha estava e, embora seu pai não pudesse vir e tivesse ficado sob os cuidados da irmã, ele via Pam pelo skype todos os dias sem nenhuma novidade de que seu caso fosse melhorar, sem nenhuma perspectiva por parte dos médicos.

Tinha sido uma cirurgia complicada, era só o que eles sabiam falar.

Tinha a equipe médica mais bem preparada possível, mas nem ela conseguia me dizer quando que Pam acordaria ou quando meu martírio teria fim.

Nesse tempo, a única coisa boa foi que as coisas foram se assentando e melhorando. Sem Grace e Jason a atormentar e com mais clientes do que eu gostaria em virtude do escândalo que a notícia de Pam havia se tornado, se tratando do fato de Dubai ser considerado um lugar de criminalidade zero.

Aparentemente agora não era tão zero assim.

Voltei com minha sogra mais uma vez para o hospital. Depois que ela fizera a visita dela, adentrei o quarto onde Pam estava. Aparentemente, num coma induzido, porque os médicos diziam que era para ela acordar a hora que quisesse, mas até então Pam continuava serena, como se realmente estivesse dormindo.

Um bom sonho, as vezes. Um péssimo, todas as vezes que lágrimas lhe escorriam pela face.

Naquele dia, o segundo tipo de sonho aparentemente ganhara.

Sequei com a ponta do polegar a diminuta lágrima que escapava-lhe do olho enquanto sentia que o meu coração também escorria com toda aquela dor acumulada na gota d’água. Busquei olhar para o horizonte e o sol forte e implacável enquanto tentava me lembrar de qualquer espécie de palavra bonita que pudesse contar para Pam naquele dia.

― Estou concorrendo a mais uma estrela michelin. Eu realmente queria que você pudesse acordar e prestigiar comigo esse sonho, se ele se tornar realidade. ― Disse enquanto pegava a sua mão entre a minha e acariciava onde um anel tão delicado com ela repousava ali.

― Sei que você vai acordar e esperarei quanto tempo for necessário para isso. Peço todos os dias nas minhas orações que Deus me deixe a ter por mais algumas breves décadas, podendo roubá-la de mim depois disso. Eu só… ― Apertei um lábio sobre o outro sentindo mais uma lágrima escorrer.

Pam havia entrado devagar no meu coração e tomado posse de cada diminuta célula do meu ser. Sua presença havia se tornado uma constante pela qual eu ansiava dia após dia. Seu sorriso me fazia sorrir também e meu coração amargurado e desacreditado de qualquer relação amorosa, aos poucos, era tocado pela sua presença.

Tive que aceitar ela do jeito que ela era, tal como o pequeno príncipe aceitara sua rosa ciumenta. A verdade é que não me importava em ser mais maleável conquanto a tivesse do meu lado. Nada disso importava se eu pudesse discutir com ela só mais uma vez, ouvir sua voz e até mesmo ter um pouco da sua bagunça. Até dela eu sentia falta.

Pam agora era o que eu queria para o meu mundo.

― Eu quero cozinhar com você, Pam. Quero tê-la na minha cozinha, me auxiliando, quero amá-la todos os dias e cortejá-la. Quero poder ficar ansioso esperando como a raposa e quero você, todos os dias, se assim me permitir. ― Silêncio.

Sempre silêncio.

Já faz duas semanas que Pam se encontra nesse silêncio assombroso.

Respiro fundo enquanto decido que é minha hora de partir. Preciso dar atenção para minha sogra que aparentemente se sente culpada de alguma coisa que não entendo muito bem. Além do mais, ela está passando uma temporada com a minha mãe, já que eu realmente não levo o jeito para manter uma conversa, ainda mais agora amargurado como estou, pelas palavras de Rashid.

Se não fosse Rashid, Pam não estaria em coma, mas teria morrido. Ele achou esperar uma hora tempo demais e decidiu chamar a polícia e a ambulância esperando o pior de tudo. Foi o que salvou Pam de ter morrido.

Nícolas foi achado um tempo depois bêbado e caído num canto qualquer da casa, alheio a tudo. Quando sua mãe chegou, consegui convencê-la de internar Nícolas, o que era mais fácil por ali em Dubai, e ela acabou concordando assinando o termo de responsabilidade pela internação de Nícolas para tratamento. Sinto pena dele, mas não consigo ir vê-lo para saber como ele está. Rashid que o visita me disse que ele está quase todo limpo e espera fazer isso pelo bem da irmã. Aparentemente, Pam que dera muita coisa pela família, finalmente estava ganhando o mínimo de consideração dela.

Me levantei e abri a porta já imaginando mentalmente o que viria a seguir da minha rotina. Seria o mesmo de sempre enquanto eu esperava que Pam melhorasse.

― Ham? ― Ouvi Pam dizer fracamente e me virei com tudo encontrando-a ainda de olhos fechados, a mão passeando devagar pela cama, como se procurasse algo. Voltei em passos largos para dentro do quarto e busquei sua mão com ânsia.

― Estou aqui, Pam. Estou aqui. ― Apertei sua mão entre meus dedos tentando dá-la conforto. Funcionou. Um pequeno sorriso despontou em seus lábios antes que ela voltasse para o seu coma, mas a esperança havia se reacendido em mim.

Sorri agradecendo aos céus pela oportunidade.

A partir daquele momento, Pam começou o seu processo de despertar, lentamente, até que finalmente, uma semana depois, mais uma semana de poucas palavras balbuciadas, ela finalmente abriu os olhos. E eu, finalmente, pude ter minha Pam de novo.

E então o pequeno príncipe sorriu.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Acordo Perfeito(Completo)