O Acordo Perfeito(Completo) romance Capítulo 53

Meus olhos ainda pareciam tentar entender o que eu via, porque a cena era deveras rude demais. Ham estava no meu campo de visão. Os cabelos que outrora sempre esbanjaram um topete arrepiado, agora estavam grudados na testa pelo suor, de maneira desgrenhada. O sangue escorria da sua têmpora direita semi aberta e o lábio superior estava partido. Ele se mantinha entre o acordado e o dormindo, já nem muito presente nesse mundo. Eu não conseguia ver onde o meu irmão estava, o que mais me assustava.

― E onde está Nícolas? ― Ele perguntou grogue. Não sabia dizer se já tinha me visto, mas acreditava que não. Jason riu.

― Nesse momento, em coma alcóolico. Ele passa o dia todo bebendo que nem se lembra mais de que veio aqui para ficar com a irmã. Eu só o prendo aqui quando em casos raros de lucidez, ele decide voltar. Do contrário, não preciso me esforçar muito. Aquele idiota já cava a cova dele dia após dia. ― Ham trinca os dentes.

Meus olhos soltam lágrimas silenciosas enquanto penso no que Jason fala. Eu sei que Nícolas tem uma queda por bebidas, mas não imaginara que fosse tão forte ao ponto de ele viver assim. É o que mais dói no meu coração. Como minha mãe pode deixar que Nícolas continuasse se afundando ainda mais depois que sai? Será que ela não via o mal que ele causava para si mesmo?

Não continuei divagando. Sabia que precisava livrar Ham de onde ele estava e precisava sair com Nícolas e Ham a salvo daquele lugar. Não tinha um plano perfeito para isso, mas a tentativa era necessária. Era a única certeza que eu tinha em mente.

Olhei ao meu redor naquele breu procurando por qualquer coisa que pudesse me ajudar na minha empreitada e finalmente achei. Havia uma garrafa vazia de vodca no chão. Se eu acertasse Jason com a garrafa eu podia ter uma chance de sair com Ham dali vivo e buscar Nícolas também.

Naquela fração de segundos, Ham me avistou agachada e arregalou os olhos ao entender o que eu planejava fazer. Era colocar minha vida e a dele em risco, mas eu já não estava pensando com a melhor das minhas ideias. Por isso, num ato rápido, peguei a garrafa de vodca e acertei com a maior força que consegui na cabeça de Jason fazendo a garrafa se estilhaçar e ele cair estirado no chão.

Aliviada, lancei parte da garrafa que tinha comigo no chão e fui até Ham desfazendo as amarras que o prendiam. Primeiro, comecei pelas pernas, mas logo parti para os braços, minha prioridade naqueles nós de marinheiro. Quando ainda desfazia a dos braços, percebi que Ham arregalava os olhos e bem tardiamente percebi que Jason me acertara com um caco de vidro no calcanhar.

Imediatamente, a barra do vestido começou a se avolumar em sangue enquanto uma dor alucinante se avolumava na perna que antes mantinha a perna com bota em segurança. Tentei me apoiar na perna com a bota para conseguir ficar em pé enquanto desfazia as amarras de Ham, ainda não totalmente desfeitas, porque aquilo era nó de marinheiro, senti uma fisgada ainda maior na perna com bota e cai sentada no chão enquanto apertava os olhos e forçava minhas malditas pernas a ficarem em pé.

― Vadia. ― Ouvi Jason me xingar enquanto tocava o cabelo manchado de sangue que escorria por todas as direções, inclusive com alguns caquinhos de vidro anda avolumados na cabeleira loira. Consegui me colocar de pé fazendo um esforço hercúleo até que finalmente consegui tirar a amarra de uma das mãos de Ham, mas não consegui desfazer da outra, pois Jason me puxou pelos cabelos me fazendo cair estatelada com o ossinho do cóccix no chão.

Reclamei da dor em pontada enquanto minha visão se ajustava novamente. Jason passou a acertar Ham em todos os pontos visíveis, ele que tentava se defender com uma única mão desamarrada, sem muito sucesso com isso. Meus olhos reclamavam por conta das lágrimas e a adrenalina estava a mil com o medo de perder Ham por conta de Jason.

Num gesto impensado, pulei no pescoço de Jason tentando o sufocar com os meus braços no seu pescoço. Tentei apertá-lo fortemente enquanto ele se balançava para um lado e o outro tentando tirar o meu aperto. No entanto, ele logo bateu o meu corpo na parede, me tirando um pouco de ar, o suficiente para que suas mãos avançassem pelos meus braços e ele me jogasse com tudo em cima dos cacos de vidro no chão.

A dor foi tanta que achei que era aquele o momento que tanto eu quanto Ham íamos morrer.

― Vocês só podem estar de sacanagem… Seus idiotas. ― Dito isso, Jason sacou uma arma do cós da calça e apontou na direção de Ham. ― Pare agora. ― Ham parou no mesmo segundo de tentar tirar o nó do outro braço. Isso porque ainda ficaria faltando as pernas.

Era audível as nossas respirações ofegantes enquanto eu tentava me levantar, colocando minhas mãos naquele vidro todo e me fazendo sangrar ainda mais e manchar o vestido azul. O vestido parecia muito com o da cinderela do filme, com a diferença de que essa cinderela aqui havia perdido o tempo da carruagem de abóbora e agora pagava sangrando e manchando o azul com vermelho. Irônico.

― Eu vou dar uma chance para você zarpar, vadia. Chame Grace para vir buscar Ham e sumam daqui. Já dissemos que vocês não podem desfazer o nosso contrato. ― Consegui me colocar sentada. Minha cabeça rodava levemente e eu precisei dar umas batidinhas no cérebro para ver se ele voltava para o lugar dele.

Ainda assim, uma certeza eu tinha: Se Jason achava que eu ia embora de mãos abanando, sem o meu irmão e Ham comigo, ele estava muito enganado. Eu não desistia fácil. Não era a toa que era brasileira.

E se precisasse de todos os meus esforços para salvar Ham, assim eu faria.

*

― Vamos, vá embora. ― Disse Jason para mim. Me levantei devagar do chão, as coisas ainda giravam bastante.

― Vá, Pam. Você não devia nem ter vindo… ― Começou Ham e eu quase deixei ele para ele aprender.

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