POV GAIA.
O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Onde antes havia o grito agonizante de Thalassa, agora restava somente o som do vento cortando as árvores da floresta. Morgana se virou para mim, seu rosto ainda carregado com aquela aura de poder avassalador, mas seus olhos suavizaram ao me encontrar ajoelhada, ainda atônita com o que acabara de presenciar.
— Levante-se, querida — disse ela, estendendo a mão. Sua voz, embora firme, tinha um tom de carinho que me trouxe de volta à realidade. — Não temos tempo para ficar paralisadas. Ainda há trabalho a fazer. — Comentou.
Aceitei sua mão, sentindo um leve formigamento quando sua magia roçou contra a minha. Levantei-me, o coração ainda acelerado, tentando processar tudo. E aquela sombra que tentou me alcançar… será que era disso que minha bisavó queria me poupar? Olhei para Morgana, buscando respostas, mas ela parecia mais focada em examinar o entorno.
— Bisa, o que foi aquela sombra? — perguntei, minha voz saindo mais trêmula do que eu gostaria. Eu já imaginava o que poderia ser, mas queria ouvir dela. — E o que você fez com ela? — questionei. Morgana me lançou um olhar enigmático, como se decidisse o quanto deveria me contar. Então, suspirou e cruzou seus braços.
— Aquela sombra era o que restava da essência de Thalassa. Um resquício da magia negra que ela usava, tentando se agarrar à existência. Ela sempre foi obcecada por poder e imortalidade, mas nunca entendeu que há preços que nem ela poderia pagar. Eu somente… finalizei o serviço — disse, com um tom que misturava desdém e uma pitada de satisfação.
— Finalizou? Você a absorveu! — retruquei, ainda tentando entender. — Isso não é... perigoso? É por isso que disse que eu não poderia matar Thalassa? Era dessa magia que você tinha receio que eu absorvesse? — Perguntei. Morgana riu, um som baixo com aquele toque de ironia tão característico dela.
— Perigoso? Para mim? Gaia, querida, você ainda tem muito a aprender sobre o que significa ser uma rainha das bruxas. Mas não se preocupe, eu sei o que estou fazendo. Aquela sombra não vai causar problemas. Não mais. E sim, era disso que eu tinha receio. Você pode absorver magia sombria, e ela é atraída por você com facilidade. Não posso correr o risco de você sucumbir ao lado sombrio. Como lhe disse, você é um ser bom — explicou, séria.
Ela se virou, começando a caminhar. O chão ainda brilhava levemente com as runas da armadilha que usamos em Thalassa, agora desativadas. Senti Minerva se mexer dentro de mim, inquieta, como se também estivesse tentando compreender o que acabara de acontecer. Minha loba parecia dividida entre o alívio pela derrota de Thalassa, a preocupação por seu companheiro e uma desconfiança instintiva do poder esmagador de Morgana. Nunca imaginei que ela fosse tão poderosa.
— E agora, bisa? — perguntei, seguindo-a.
— Voltamos para a alcateia, pois sei que você está preocupada com aquele alfa. Vamos ajudá-lo com os renegados. Se bem que tenho certeza de que ele dá conta de um bando de vira-latas — falou, sorrindo para mim.
— Eu não estou preocupada com ele — falei, fingindo que não me importava.
— Sei, vou fingir que acredito — disse ela, gargalhando.
— Vamos de uma vez — ordenei, mal-humorada pelo seu deboche.
— Não precisa ficar mal-humorada — retrucou, divertida. Minha bisavó segurou minha mão, e uma névoa surgiu, nos engolindo.
POV CASPIAN.
Corria pela floresta, o vento frio cortando meu pelo enquanto meu coração batia forte, não só pela adrenalina da batalha iminente, mas pela preocupação com Gaia. Cada passo ecoava o que minha mãe dissera: um filhote a caminho. A possibilidade de ser pai me dava um misto de esperança e medo. Mas agora não era hora de pensar nisso. A alcateia dependia de mim, e Theodoro estava lá fora, tramando algo perigoso.
Cheguei à barreira e encontrei Octávio já reunido com os soldados. Seus olhos brilhavam com determinação, mas também com uma ponta de preocupação. O cheiro da fumaça da explosão ainda pairava no ar, misturado ao cheiro de magia e algo que não consegui identificar.
— Entendido, Alfa — disse ele, se movendo imediatamente com seu grupo.
Nos movemos para cercar o exército de renegados. Theodoro havia reunido inúmeros lobos, mas eles ainda estavam em menor número que nós. Com certeza, estavam confiantes por causa de Thalassa. Falando em Theodoro, onde ele estava?
De repente, senti uma presença. Virei-me rapidamente, somente para ver Theodoro emergindo de trás de uma árvore, um sorriso cruel no rosto. Ele segurava uma adaga que brilhava com um brilho estranho, como se estivesse encantada. Então era isso? Pretendiam me ferir com aquilo?
— Achou que eu ficaria fora dessa, Caspian? — disse ele. Transformei-me, voltando à forma humana.
— Pensei que você estivesse escondido embaixo da saia daquela bruxa velha — comentei, debochado, fazendo-o rosnar.
— Quero ver até onde vai esse humor quando minha companheira acabar com Gaia — falou, rindo.
— Isso não vai acontecer. Thalassa não é páreo para Gaia. Você é um lobo domesticado, até trouxe uma faquinha para uma batalha. Que decepção — comentei.
— Vou adorar rasgar sua garganta com minhas garras — disse ele, jogando a adaga longe. Parece que mexi com o orgulho dele.
— Você fala demais, Theodoro. Vamos acabar logo com isso — respondi. Nós dois começamos a nos transformar. Uivei, dando ordem para que meus crescentes avançassem.

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