POV GAIA.
Eu não sabia o que esperar na minha chegada a alcateia. Na verdade, esperava olhares frios, sussurros pelas costas e hostilidade. Estava preparada para isso. Minha armadura de frieza estava bem encaixada — ou assim pensei. Mas Conrado e Aina me desarmaram com a gentileza no olhar, o calor do abraço e o carinho que parecia intacto, como se os anos não tivessem passado.
Fiquei sem palavras, sem chão. Não esperava encontrar um único rosto amigável aqui, quanto mais dois e daqueles que um dia foram como segundos pais para mim.
— Gaia, como você está ainda mais linda… — disse Aina, com os olhos brilhando de emoção e um sorriso doce nos lábios. Sua voz estava embargada, e agora me observava com aquele olhar nostálgico. — Você se tornou uma bela e encantadora loba. — Disse com carinho.
Sorri, constrangida, tentando esconder a emoção que queimava na garganta em revê-los. Ela suspirou, e eu fiquei sem saber o que dizer por alguns segundos. As palavras não saíam com facilidade. Eu não esperava carinho aqui. Não esperava… isso.
— A senhora e o senhor Conrado continuam lindos… — respondi com um sorriso tímido. — Exatamente como eu me lembrava. — comentei sincera. Mesmo com os anos marcados em seus rostos, ainda via o alfa e a Luna que me acolheram tantas vezes quando visitava a alcateia.
Começamos a caminhar em direção ao automóvel que nos esperava à frente. A brisa da floresta tocava meu rosto, trazendo o aroma conhecido da terra daquela alcateia. Um cheiro que deveria ter se tornado amargo, mas ainda me era… familiar. Aina se aproximou mais se aconchegando enquanto me abraçava de lado, ela me olhou com ternura, mas também com uma sombra de tristeza nos olhos.
— Onde foi parar o “tio” e “tia”? — perguntou Aina com a voz baixa e com um sorriso triste. — Nós adorávamos quando nos chamava assim… Você pode continuar nos chamando de tios, se quiser. — Falou esperançosa.
Engoli em seco. Aquilo me atingiu inesperadamente. Eu não conseguia fingir que nada havia mudado. Tantos anos… tantas dores. Fiquei sem jeito, sem saber como responder. As palavras travaram na garganta. Meu corpo ficou rígido por um segundo, e então Conrado interveio com sua voz calma.
— Querida, não pressione a Gaia — disse Conrado, com seu jeito direto, mas gentil e olhando carinhosamente para sua companheira. — Já se passaram muitos anos e muitas coisas aconteceram. Que tal nos chamar de Conrado e Aina, por enquanto? E quando você se sentir bem e à vontade, pode voltar a nos chamar de tios. — Ele falou e me olhou com expectativa. — Porque eu também sinto falta daquela lobinha que adorava ir comigo cercar as presas na floresta com seus irmãos e Caspian. — Disse. Sorri, com um aperto no peito. Ao ouvir o nome de Caspian. Mas eu não desviei o olhar. Somente assenti com um leve sorriso.
— Obrigada. — falei, tocando de leve o braço de Conrado. Era o máximo de carinho que meu corpo permitia no momento.
Entramos no automóvel. O interior era espaçoso, acolhedor, com bancos de couro escuro. O motorista deu partida, e logo começamos a atravessar as ruas da alcateia. Eu observava em silêncio, tentando lidar com a enxurrada de lembranças e emoções que me inundava. Estar ali era como andar por um campo minado — cada canto escondia um fantasma. Aina parecia querer manter o clima leve. Mas meu coração batia acelerado, e minha garganta começava a secar. Cada quilômetro rodado me puxava mais para as minhas lembranças.
— Vamos dar uma volta pela alcateia — disse Conrado ao motorista. — Nossa convidada pode ver como tudo aqui está lindo e diferente. Caspian fez muitas melhorias por aqui, desde a última vez que esteve aqui. — Disse contente.
Assim que as palavras saíram, ele pareceu se arrepender. A tensão se instalou como uma nuvem densa no automóvel. Meu peito apertou. A lembrança daquela maldita noite surgiu com nitidez, como uma lâmina cortando minha mente. Respirei fundo e a enterrei de novo nas profundezas onde mantenho tudo o que me machuca. Conrado olhou para mim arrependido. Aina lançou um olhar fulminante para seu companheiro e interveio rapidamente, como sempre fazia.
O trajeto não demorou muito. Quando o automóvel parou em frente à casa do alfa, precisei de alguns segundos para processar o que via. Eu fiquei sem palavras. Não estávamos na casa em que Conrado e Aina viviam como alfa e Luna. Aquela era outra em outra parte da alcateia, era muito maior. Uma mansão de três andares, feita de pedra escura com detalhes em madeira avermelhada. A fachada era sofisticada, e imponente. Janelas enormes com cortinas brancas de linho leve contrastavam com as linhas fortes da arquitetura. Colunas retas e imponentes emolduravam a entrada, como guardiões silenciosos.
Mas foi o jardim que me prendeu o olhar. Flores coloridas espalhadas em canteiros bem cuidados, fontes discretas e pequenos caminhos de pedra entre ervas medicinais que pareciam perfeitamente cultivadas. Era um paraíso botânico. Um santuário medicinal. Um parque de diversa para qualquer curandeira.
— Ele pode ser um idiota arrogante… mas tem bom gosto. — murmurei para mim mesma. Andei devagar até um canteiro e parei de repente. E me abaixei, então meus olhos se arregalaram.
— Não acredito… Erva do Rei. — sussurrei, estendendo a mão para tocá-la. — Vocês cultivam isso aqui? Sabem que não se acha mais essas ervas em lugar nenhum! — Comentei empolgada.
— Por Merlim… — Exclamei chocada quando olhei para os canteiros ao lado, e meu corpo inteiro ficou eufórico. Me levantei num salto e corri até eles, com meu coração acelerado. E não pude conter meu choque quando me aproximei.
— Não pode ser… Essas ervas estavam extintas! Como isso é possível? — Perguntei e ouvi Conrado e Aina rindo da minha empolgação e choque. Me ajoelhei, tocando cuidadosamente uma das plantas. Sentia sua energia, seu poder. Eram reais.
— Não toque nas minhas ervas — disse uma voz potente e fria, cortando o ar como um trovão seco. A mão que estava sobre a planta congelou. O coração apertou. Eu conhecia aquela voz. A arrogância, o tom impaciente. Caspian. Meu coração falhou uma batida. Mas não levantei de imediato.

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Os comentários dos leitores sobre o romance: O ALFA ARREPENDIDO: QUERO MINHA EX-COMPANHEIRA DE VOLTA.