POV CASPIAN.
Voltamos para a sede da alcateia. O céu estava encoberto por nuvens densas e pesadas, que pareciam refletir a tensão pairando sobre todos nós. Eu ainda precisava lidar com os problemas das empresas humanas, reuniões marcadas, decisões pendentes, mas esse assassinato estava me tirando completamente a concentração.
Tentei focar no relatório do novo produto que será lançado por uma das minhas empresas de tecnologia. A tela do notebook parecia me encarar de volta, fria e indiferente. As palavras se embaralhavam, os gráficos não faziam sentido. Suspirei, me levantei e caminhei até a janela, buscando clareza no horizonte nublado. Olhei para minha alcateia. As ruas estavam vazias, o silêncio era tão espesso que doía nos ouvidos. Todos estavam obedecendo ao isolamento — e havia uma estranha sensação de que algo muito errado pairava no ar.
— Nunca vi essa alcateia tão silenciosa — falei, com a voz baixa, quase um sussurro, mais para mim mesmo.
— Verdade — concordou Odin, invadindo minha mente.
— Essa morte não poderia ter vindo em pior hora — comentei, passando as mãos pelo rosto, exausto.
— Sim. A alcateia já está bastante temerosa com a doença. Agora, saber que alguém matou dentro dos nossos muros será um grande alvoroço — disse Odin, preocupado.
— Eu já pedi para Octávio cuidar para que essa notícia não se espalhe. Não queremos causar medo e insegurança nos crescentes — falei, encarando o vidro da janela como se pudesse ver através dele os pensamentos de cada membro da alcateia.
— Fez bem. Precisamos lidar rápido com essa situação. Não podemos ter um assassino à solta — disse, sério.
— O médico legista prometeu ser o mais rápido que puder. Exigi que, ainda hoje, quero saber tudo sobre aquele corpo — mencionei, firme, cruzando meus braços diante do peito.
— Perfeito. Mas o fato de uma bruxa parecer estar envolvida me incomoda. Alguém pode pensar que Gaia é culpada — falou Odin, apreensivo. Revelando sua preocupação por Gaia.
— Eu pensei nisso também. Mas isso não vai acontecer. Vamos aguardar o relatório do legista — falei firme, embora uma pontada de incerteza martelasse meu peito. Eu estava preocupado com essa possibilidade.
Voltei a me sentar e tentei focar novamente no trabalho. O tempo passou tão rápido que nem percebi. Só fui notar quando minha secretária ligou e disse que o legista havia entrado em contato e que pedia que eu fosse até o laboratório de forense. Olhei no relógio e era quinze horas. Finalizei o trabalho, desliguei o notebook e me levantei, sentindo o peso do dever e da preocupação sobre os ombros. Saí do meu escritório com passos firmes.
Cheguei rapidamente ao laboratório. O prédio cinzento parecia ainda mais sombrio naquele dia chuvoso. Octávio já me esperava do lado de fora, com o semblante fechado e os braços cruzados. Entramos no prédio, cujas paredes geladas pareciam emanar um frio que não era só físico. O cheiro de produtos químicos misturado ao leve aroma metálico de sangue recente pairava no ar e me incomodou. Fomos direto para a área médica. Quando chegamos, Aron estava lá. Ele parecia bem a vontade naquele ambiente, e sua presença ali me causou estranhamento imediato.
— Aron, o que faz aqui? — perguntei antes mesmo que ele e o legista pudessem me cumprimentar.
— Eu vim para cá assim que soube. Quis ajudar — falou, tenso, ajeitando o jaleco com um gesto nervoso.
— Ajudar no quê? Que eu saiba, você lida com os vivos, e não com os mortos — questionei, já impaciente com sua presença. Não gostava da intromissão. O fato de ele estar informado significava que todo o hospital estava sabendo. E logo a notícia se espalharia. Mais uma dor de cabeça para lidar.
— Quando soube que o corpo não poderia ser identificado, vim para ajudar. Eu tenho um banco de dados com amostras de DNA de cada membro da alcateia. Então poderemos saber quem é essa pobre alma — informou Aron, com um leve sorriso satisfeito. O tipo de sorriso que me irritava. Quem sorri numa situação dessa?
Resolvi deixar para lidar com Aron depois. Me aproximei da maca onde o corpo estava coberto por um lençol branco. Cruzei meus braços, observando. O silêncio da sala era opressivo. O som do tecido sendo erguido pelo legista parecia ensurdecedor. O corpo, agora, estava limpo, mas ainda estava horrível — cortes profundos, hematomas, e a brutalidade escancarada.
— Vocês conseguiram identificar? — perguntei, sem rodeios.
— Ainda não — disse ele, tenso, evitando meu olhar.
— E a hora da morte? — perguntei. Ele negou com um aceno, visivelmente desconfortável.
— Então não sabe de nada! Descubra logo. Quero agilidade nesse caso — ordenei, minha voz cortante e irritada.
— Sim, alfa — respondeu o legista, engolindo seco.
— Octávio, informe a família de Dylan sobre sua morte — pedi. Me afastei do corpo, a cabeça girando com possibilidades. Caminhei até o corredor e Octavio me seguiu.
— Octávio… quero a lista de todos que tiveram contato com Dylan nas últimas setenta e duas horas. Patrulheiros, soldados, familiares, qualquer um — ordenei.
— Vai interrogar todos? — perguntou, já conhecendo a resposta.
— Sim. Um por um. E vamos começar com quem designou a patrulha dele nas últimas noites. Como ainda não sabemos a hora da morte, teremos que investigar as últimas noites — comentei, determinado. Concordou com a cabeça.
— Não achou estranho a presença de Aron? — perguntou Octávio. Ele nunca gostou de Aron. Sempre o achou superficial.
— Sim. Não gostei dele se metendo onde não é chamado — falei, com os olhos semicerrados. Estou começando a dar razão a Octávio e Gaia. Aron não parece confiável.

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